XI

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Meu corpo se estremecia ao ponto de a vontade de roer as unhas me dominasse, enquanto aguardava a chegada do uber.

Ter a ideia de reencontrar todos novamente é assustador e, saber que fui eu que aceitei por não conseguir dizer não, era mais ainda. 

Ter vindo para cá e reencontrar pessoas que não gostaria de rever novamente por medo e insegurança, seria apenas a consequência de minha escolha, então por que estou agindo como um cachorro encurralado?

Com o meu dedo ainda entre os meus lábios, avistei a placa do carro cinza do outro lado da calçada me esperando. Atravessei e me apresentei para o motorista, entrando logo em seguida no automóvel, sentando no banco de trás.

{...}

Assim que desci do carro me deparei com uma rua cheia de carros e, um deles chamou a minha atenção; Dois carros brancos, com um simbolo grande, igualmente daquelas logo-tipos de jornais brasileiros. Faz tanto tempo que não assisto a canais brasileiros que não sei ao certo dizer qual seria os jornalistas presentes no orfanato.

Com dificuldades para carregar a bolsa com os meus aparelhos de trabalho, me apressei para atravessar o portão antigo de ferro, encontrando um jardim morto e molhado. Subi os dois degraus sujos de lama e abri a porta de madeira, média e pesada, encontrando algumas pessoas pela entrada. Passei por elas até avistar a diretora do orfanato que falava com um homem de blusa social azul claro, cabelos loiros e penteado para trás.

- Ah, Coleman, você veio como prometido! - a sua expressão de felicidade me fez mostrar um sorriso discreto.

Larguei a bolsa no chão e fui ao encontro da senhora de cabelos grisalhos, um rosto fofo e marcado pelo tempo mas, com um lindo sorriso de dentes pequenos.

- Claro. Naquele dia em que vim a senhora não estava e prometi que voltaria para falar com a senhora, não é mesmo? - os seus olhos pareciam dizer sim, enquanto brilhavam como duas estrelinhas.

- É muito bom ver você. - me inspecionou dos pés a cabeça. - Cresceu muito, mas ainda é a mesma criança que vi alguns anos atras. - rir sem graça. - Está como a sua mãe e agindo como ela também... - de repente seus olhos se encheram de água. - Muito obrigada pelo que está fazendo por nós.

As minhas mãos tocaram o seu rosto.

- Não tem o que agradecer. Faço isso pela gratidão que tenho pelos seus cuidados das crianças que não tem família, a minha mãe teria feito o mesmo e ainda mais. - sua mão esquerda segurou a minha, tirando-a do seu rosto e indo de encontro aos seus lábios, depositando um beijo afetuoso.

- Você é muito querida... Não desejo apenas a sua ajuda para a reforma do orfanato mas, que esteja aqui para a inauguração, sendo a anfitriã. 

- Gostaria muito de aceitar, mas não estarei aqui até la. A minha visita aqui é breve e apenas para o  propósito de alguma forma ajudar vocês. - fui sincera e ela pareceu compreender.

- Senhora Lourens, estamos prontos, quer começar agora? - a voz do homem ao seu lado que antes estava concentrado no celular nós interrompeu gentilmente.

- Uh, claro! - deu um pulinho. - Querida, espero que não se incomode, vou fazer essa entrevista para ver se os governadores desse país se incomode um pouco com os choros de algumas crianças órfãs. - o seu tom foi irônico e brincalhão, me arrancado uma risada instantânea. 

- Não me incomodo, fique a vontade. Estarei dando uma volta pelo orfanato, preciso ver quais estragos são piores.

- Espere. - o olhei. - Você é a responsável pelo inicio das obras aqui depois da chuva forte pelo que entendi, certo? - assenti. - Não quer participar da entrevista? O pessoal de casa gostaria muito de conhecer o rosto heroico da moça. - torci os meus lábios em um sorriso sem dentes.

Puxei o ar antes de responde-lo.

- Não tenho vontade de vangloriar-me por estar fazendo o minimo e meu dever como alguém que tem dinheiro e pode ajudar. - vi as suas orbitas claras diminuir, enquanto ainda me olhava com olhar de criança encantada. Um sorriso tímido pintava seus lábios. - No entanto, tenha um bom trabalho, rapaz. - seu sorriso ficou maior.

Dei uma olhada para a senhora que conheço a tanto tempo antes de girar os calcanhares e me afastar, jogando a bolsa para o meu ombro. Subi os degraus da escada sem pressa, chegando na parte de cima do casarão antigo, encontrando tudo abandonado e revirado.

Os quartos das crianças se encontravam revirados, camas molhada, algumas roupas jogada pelo chão de madeira que agora esta inchado e inseguro para andar. Todo o local cheirava a mofo e as portas pareciam ter se tornado mais pesadas para empurrar.

Atravessei o corredor com pouca iluminação encontrando uma porta semi-aberta, decidi que iria passar reto até ouvir alguns passos e objetos caindo no chão. 

Poderia ser ratos...

Pensei, ainda  olhando a porta.

Ou morcegos...

Mas o local não está fechado a tantos dias...

E, quando decidi empurrar a porta, chegando um pouco mais perto, fui surpreendida com ela sendo empurrada revelando seu rosto.

Assim que ele me viu, pulou para trás e gritou horrorizado, me fazendo gritar também.

- Damn it! What the fuck is this!? - inquirir, com a mão no peito, sentindo as batidas rápidas do meu coração. 

- O que!? - tentou se recompor, ainda horrorizado. - Você me xingou!? - Alessandro, apontou o dedo na direção do meu rosto me fazendo olha-lo feio.

- Abaixa essa mão! - exigir ofendida e assim ele fez. - O que está fazendo aqui? - ainda tentava repor todo o ar que perdi pelo grito. 

Sua mão se ergueu até o alto do seu peito, mostrando uma boneca de pano negra.

- Vim pegar isso. - e, então, o olhando de canto reparei as roupas que usava. Um jaleco grande branco, blusa com manga branca e uma calça jeans branca. Seus cabelos estão totalmente alinhados para trás, o fazendo ainda mais charmoso. - E você?

Engoli em seco ao notar que os meus lábios se encontram secos por estar lhe olhando.

- Ah! - ele riu, olhando para cima, se recordando de algo. - Claro, você é quem está ajudando o orfanato... - ponderou. Eu ainda continuava lhe olhando. - Bom, então vou indo. Até mais, senhorita Coleman.

Seu tom foi cortante e totalmente diferente do sorriso educado que lançou como despedida, antes de passar por mim e cumprir com as palavras da noite passada, me deixando abalada. Parecia até que ele havia pisado no meu ego e esmagado com toda força que possuía. 

- Nicolau... - ainda de costas para o homem que fica cada vez distante de mim, soprei seu nome contrariando o meu orgulho. Ele não parou. Girei os calcanhares e ganhando forças para dizer seu nome disparei mais alto. - Espere, Nicolau. - pedi, com os olhos fechados imaginando que ele seguiria em frente.

- Huh? - murmurou, me fazendo levantar o rosto e abrir os olhos, encontrando as suas orbitas de chocolate. 

Até Que o Sol Não Nasça Mais Onde histórias criam vida. Descubra agora