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- Não poderia perguntar isso uma outra hora? Outro lugar? - tentei fugir do assunto sentindo o nó na garganta.

- Não sei quando terei a mesma oportunidade de conversarmos, como agora. Talvez nem oportunidade vamos ter. - seu olhar estar perdido em algum lugar distante de seus pensamentos.

E, de repente, a dor do aperto no peito me enche, fazendo com que os meus instintos de proteção ficasse em alerta. Meneei com a cabeça suavemente, enquanto a ponta da minha língua molha os meus lábios secos.

Tentei de alguma forma pensar em algo para dizer, para fugir dos sentimentos e da tortura que é todas as vezes que lembro de suas mortes, mas a dor juntamente com a amargura gritava e agitava dentro de mim a cada segundo que se passava em silêncio entre nos dois.

- Como pode me perguntar isso ainda? - tentei não soar tão rude quando algo dentro de mim queria explodir e queimar tudo o que há pela frente, despejando toda dor guardada.

Ele me olhou. Um olhar vazio e frio, que me faz questionar se os seus sentimentos pode de alguma forma se igualar aos meus. As suas narinas se abriram, saindo um ar curto e quente, ao mesmo tempo que um sorriso de canto pintou seus lábios.

- Como posso perguntar isso ainda... - sussurrou, abrindo ainda mais o sorriso, como um palhaço infeliz. - Você ainda continua sendo a mesma de sempre. - seu tom é áspero e baixo.

Ligeiramente a sua mão direita girou as chaves do carro, o dando vida novamente e, ainda com os meus olhos vidrados no seu rosto, tentando ler alguma coisa que me fizesse entender o significado daquelas palavras, respirei fundo.

Meu cérebro tentava pensar em algo para dizer que não fosse grosseiro, rude ou que demonstrasse fraqueza da minha parte mas, assim que bato a cabeça no banco fofo e duro do carro, fecho os olhos, me concentrando apenas em segurar em alguma coisa. Alessandro, arrancou com o carro em uma velocidade na qual eu nunca havia percorrido antes. O meu estômago havia criado vida e revirava a cada batida forte do meu coração.

- Pare com isso! - tentei não gritar, enquanto fechava os olhos e sentia o enjôo e todos os meus músculos ficarem tensos. O homem acelerou mais. - Pare já com isso! - gritei em um tom autoritário, mas nada adiantou. Ele continuou acelerando cada vez mais, desviando dos carros que estavam no seu caminho e, então desisti, me concentrando apenas em não vomitar e não deixar o medo tomar conta dos meus movimentos a seguir. {...}

De repente o carro parou e o freio de mão foi puxado, abri os olhos como um recém nascido se prepara para ver aonde está pela primeira vez, sentindo ainda as batidas fortes do meu coração pulsar na pele.

- Chegamos. - avisou tranquilo, ainda deixando explícito o quanto estava com raiva pelo tom de voz rude.

Revirei os olhos e desci do carro ligeiramente, mas me arrependi assim que as minhas pernas fraquejaram. Grunhir fechando os olhos, ao sentir o encontro inevitável dos meus joelhos no meio fio e, como se estivesse em uma ordem padronizada e inesperada a vontade de vomitar veio.

Rapidamente usei as minhas mãos como base para se levantar e corri em direção a primeira moita de galhos que avistei, despejando toda a adrenalina, medo, nervosismo e ansiedade pela boca. Assim que acabei respirei aliviada, limpando o canto dos lábios, ainda sentindo o gosto amargo do vômito na língua.

- Aquele babaca... - revirei os olhos e aos poucos me ergui, deixando de apoiar nas minhas coxas. - Você me paga, Nicolau... Você me paga. - resmunguei e amaldiçoei seu sobrenome em voz alta, tentando lembrar nos meus pensamentos se em algum momento nos onze anos atrás, o menino que é homem hoje, seria realmente a mesma pessoa e chego na conclusão: Não, não seria.

Até Que o Sol Não Nasça Mais Onde histórias criam vida. Descubra agora