IV

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Alguns anos atrás:

Mesmo que o sol naquela manhã estivesse mais quente que os outros dias, a garota de cabelos rebeldes e queimados, se esforçava para pedalar sobre a sua bicicleta rosa com cesta, enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto.

Já havia se passado duas semanas desde a morte da mãe da menina Joyce, no entanto, seu pai se comportava como se houvesse passado cinco anos e a decisão de colocar uma nova mulher para morar junto com eles na noite passada, encheu o coração da criança de dor e raiva.

Assim que a garota conseguiu chegar na cabana velha e afastada da população, feita de lar por ela e o seu grupo de amigos, seu corpo saltou da bicicleta e correu para adentrar o local que aos poucos se tornou confortável e colorido com pinturas, desenhos feito no papel e colados na parede de madeira.

Assim que a outra menina que se refugiava também dos problemas que tinha em casa, no segundo cômodo da cabana, escutou os soluços de alguém que até então desconhecia, correu para ver de quem se tratava.

- Joyce? - a voz ingênua da menina saiu assustada. E sem pensar, correu para abraçar a garota.

- Eu odeio ele, Emy! Odeio ele! - gritou enfurecida, enquanto chorava e se apertava ainda mais no abraço da amiga.

A garota não precisava perguntar de quem se tratava, já sabia quem era.

- Está tudo bem, vai ficar tudo bem... - as mãos da menina afagaram os cabelos teimosos de Joyce, que tentava se acalmar. - Não precisa ficar assim, você tem a mim. Tem ao Alessandro, o Gabe, a Thalita e a Pietra. - ela falava entusiasmada, parecendo contagiar a menina chorona com a sua felicidade.

- Você tem razão... - a garota que até poucos minutos estava furiosa, se afastou do pescoço da menina de cabelos cacheados e queimados, encontrando o seu rosto fofo que até poucos minutos também se encontrava chorando mas, a garota não notou e apenas mostrou um sorriso largo. - Vocês são a minha família agora.

Emy, mostrou o sorriso mais verdadeiro que poderia soltar nessa manhã, ficando feliz ao escutar aquilo.

- Isso, até que o sol não nasça mais, sempre será a gente! - a garota afirmou contente e mesmo sentindo dor em todo o seu corpo, voltou a abraçar a menina, para garantir que ela se sinta segura e amada, apesar que a pequena criança não consegue sentir o mesmo depois de ter toda a sua inocência destruída por quem mais amava.

As duas passaram a tarde grudadas, entre risos e brincadeiras que só elas entenderiam. Emy, adorava passar o tempo com Joyce e Joyce, adorava passar o seu dia com Emy, era como a irmã que não pôde ter. E apesar de serem em cinco, as duas havia feito o próprio mundo delas entre elas, e o restante respeitavam isso.

A cumplicidade que carregavam e a pureza que continham, poderia ser comparado a de velhas amigas de vidas passadas que se reencontraram agora.

O tempo foi passando tão rápido que não notaram quando escureceu e nem mesmo que já estavam deitadas sobre a areia branca da praia, sendo vigiadas pela enorme lua de prata que estava linda naquela noite.

- Joyce... - a garota sussurrou.

- Oi... - sussurrou de volta divertida.

- Antes de voltarmos para casa, me promete duas coisas? - os seus olhos ainda estavam vidrados no céu limpo e escuro, enquanto Joyce com curiosidade levantou o rosto para olhar o da garota.

Até Que o Sol Não Nasça Mais Onde histórias criam vida. Descubra agora