XIV

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Já era a terceira vez na qual eu respirava fundo e assoprava a minha franja, que levantava e pairava sobre a testa novamente.

Com certeza já se passaram dez minutos desde que estou esperando o bonitão trocar as suas roupas no vestiário ao lado. E digo bonitão sinceramente, sem nenhum pingo de ironia já que notei que o meu amigo de infância e paixonite também, se tornou um encantador de criança e que se torna mais atraente ao lado de uma.

É como misturar pipoca com chocolate, algo simples e gostoso.

De repente, Alessandro, atravessou a porta de madeira marrom, ajeitando os botões da sua camisa branca. Rapidamente, me afastei da parede, ajeitando a minha postura.

- Poxa, - iniciei, ganhando o seu olhar. Seus cabelos caem para os lados me fazendo perder o pouco da concentração. Olhei para frente. - Você só disse que iria trocar de roupa! Por que demorou tanto?

- Foi mal... - a sua respiração é pesada. - Estava no celular com, Meredith. - diz, terminando de se ajeitar. As suas mãos passaram sobre os seus cabelos, os colocando de volta no lugar, enquanto me olhava. - Ela quer ir almoçar agora.

- ah. - pisquei os olhos, entendendo. - Tudo bem, então. - mostrei um sorriso pequeno. - Vou pedir um táxi.

As suas sobrancelhas se juntaram e uma careta se formou na sua face.

- Por que um táxi? - o seu tom foi tão inocente, que me esforcei pra não ser ignorante.

- Não é óbvio? A sua namorada quer que vocês vá almoçar juntos. Não quero atrapalhar.

- Humm... - ponderou. - Então eu vou te deixar primeiro na sua casa já que foi eu que te trouxe aqui.

- Não precisa se sentir responsável por mim toda vez que me dá uma carona. - o olhei séria. - Sem falar que depois você vai ter que ir para a empresa do Coleman, pode se atrasar.

- Não me sinto responsável. - não pareceu estar mentindo. - Então, aceite almoçar com a gente.

- O que? - ecoou. - E ficar sobrando? Não, muito obrigada.

Ele riu me fazendo ficar incomodada.

- Você disse que seria mais gentil comigo e agora, quando eu te convido para almoçar é assim que responde? - pareceu estar chateado.

- Olha... - respirei fundo, tendo a primeira emissão de som ao mexer os meus lábios mas, contenho o risinho. - A minha gentileza não vem em questão agora. - como reflexo, as minhas mãos vão parar na cintura.

- É uma pena... - suspirou lentamente e profundo, ganhando a minha atenção. - Estava pensando em comer naquele restaurante que você adorava ir quando éramos criança... - rapidamente, algo que estava dormindo em mim despertou. Alessandro, fechou os olhos, fingindo estar pensando em algo, passando por mim. - Nōsu, não é?? - perguntou para si mesmo, enquanto caminhava, ficando distante de mim.

Eu não poderia acreditar... Ele ainda se lembra disso.

Pisquei os olhos, sentindo um fogo morno se estremecer por todo o meu corpo.

- Eu vou! - mordi o lábio inferior assim que me escutei. - Damn it... - murmurei, ganhando o seu olhar iluminado por cima do ombro.

- Então vamos. - meneou com a cabeça suavemente, aumentando os seus passos.

Fechei os olhos, meus ombros caíram e eu me amaldiçoei por ter caído nessa tão fácil.

Mas não poderia dizer não, a minha criança interior gritava para rever o restaurante japonês e comer as comidas frescas novamente. Como se um vento soprasse as lembranças na minha mente, começo a sentir o gosto do pastel frito mais conhecido como guioza.

Um sorriso largo, de mostrar os dentes me preencheu e com tais pensamentos, me apressei para acompanhar os passos do bonitão a minha frente.

{...}

As minhas mãos batucavam o vidro da janela do carro ansiosamente, enquanto os meus olhos apreciavam a grande fachada do restaurante com vibe rústica e antiga.

Os meus pés pareciam acompanhar os movimentos rápidos e ansiosos da mão já que não paravam quieto e eu não conseguia conte-los.

De repente e em um movimento rápido, seu corpo foi esticado e o seu braço me fez recuar para atrás em um susto mínimo, me fazendo prender a respiração. O olhei como um rato olha para o gato, enquanto sua expressão é tranquila e sem intenção alguma, no segundo seguinte a minha porta é aberta por sua mão esticada.

- Me espere aqui, vou procurar uma vaga. - diz, com o tom conciso, ainda me olhando. - Você está animada demais.

Um sorriso pintou na curva da sua boca e isso foi o suficiente para eu fechar os olhos e empurrar o seu braço para respirar. A minha barriga já não se encontrava mais vazia, algo se movia de forma rápida e enjoativa.

- Você tem que parar com isso! - digo, sentindo frustração e raiva. Desci do carro, sendo seguida por seu olhar confuso.

- Como assim? - ecoou, me olhando com dificuldade pela janela do carro. - Tenho que parar com o que? Fiz algo?

Revirei os olhos e girei os calcanhares, logo em seguida escuto o carro sendo arrancado.

Quando eu já estava pronta para xingar e jogar pragas no homem de sorrisos fácil e bonito, a minha respiração é suspendida e meus olhos invadido por lágrimas guardadas.

O muro feito de tijolos plaqueta, ainda era o mesmo. O que mudava era algumas rachaduras que se encontram por conta do tempo e uma nova parede feita de folhas de uma espécies de flores rosas que cobria a metade do muro, deixando a entrada mais formosa.

As placas com os pratos do dia ainda era feitas por quadros de giz e se encontram penduradas nos enormes vidros escuros do outro lado. E também a grande lona colorida que cobre apenas a porta com sino, estava no mesmo lugar, conservada.

Me aproximei ainda mais da entrada, e a primeira lágrima caiu. O tapete pequeno, marrom de vinil, ainda estava lá também. E as palavras " bem-vindos " já estava desaparecendo, no entanto, ele ainda esta aqui na entrada e isso fez com que os sentimentos de uma boa memória renascesse novamente em algum lugar dentro de mim.

A dúvida que eu sentia antes sobre realmente voltar ao Brasil, estava começando a sumir, sendo tomado pela certeza de que se eu não viesse talvez, teria me arrependido para sempre.

- Ficou realmente me esperando para entrar? - a sua voz fez com que eu saísse dos meus pensamentos e virasse rapidamente para olha-lo. - Que fofa! - sorriu, com os olhos tranquilos.

Semicerrei os olhos e apontei para os seus lábios.

- É disso que estou falando! - as suas sobrancelhas se juntaram ao mesmo tempo que seu dedo tocou o lábio inferior, confuso. - Tem que parar de sorrir assim.

- AM? - ecoou, me olhando. - O que tem de errado com o meu sorriso? - deu um passo para trás, tocando com as próprias mãos na boca.

Franzi o rosto, enquanto me perguntava se ele realmente não sabia.

- Tudo! - pigarreei e ele voltou a me olhar, mais preocupado. - Ele é feio. - contorci os meus lábios. - Então para de ficar sorrindo assim. Pelo menos, perto de mim. - me esforcei para ele não perceber que estou mentindo, desviando o olhar.

- O que!? - o seu tom foi alterado. - É sério!? Acha o meu sorriso feio? - O seu tom é de desespero, me fazendo ficar com pena.

- Humm.. - murmurei. - Acho um pouco. - mostrei os meus dois dedos, indicando o tanto que acho e vi as suas órbitas ficarem maiores. - Mas não se preocupa. Você já namora, então precisa agradar apenas, Meredith. - e então vi o seu mundo desabar. Coloquei a minha mão no seu ombro e dei duas batidinhas de consolo.

Até Que o Sol Não Nasça Mais Onde histórias criam vida. Descubra agora