XVII

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Não sei quando ou em qual momento havia-me cedido para as diversas bebidas que o barman estava a colocar sobre o balcão, o qual me encontro com os braços esticados e o corpo evidentemente escorado na pedra de mármore, pois não encontro mais forças para se sentar adequadamente.

No entanto, há algo que sei. E todas as perguntas que fazia mais cedo ao entrar por aquele portão escancarado, era de que muitos ali bebiam não como se o mundo fosse acabar amanhã, mas que bebiam para esquecer que o amanhã viria e que tudo os que assolam seus pensamentos também. Então bebiam, para esquecer os seus problemas nem que seja por apenas um segundo já que é inevitável escapar da própria mente, e era exatamente isso que eu fazia agora.

Bebia.

Bebia para esquecer que algum dia eu queria evitar os meus amigos, os mesmos que bebem ao meu lado agora, rindo e conversando. Como pude algum dia querer isso?

Bebia para esquecer da dor que é olhar para a Thalita, e lembrar de Emy. E isso me atormentava pois, eu fui embora pra tentar esquecer essa dor, esquecer o rosto de Emy. Como pude tentar esquecer o rosto da minha melhor amiga?

Bebia porque queria enterrar junto ao túmulo da minha mãe a dor que senti no dia da sua morte pela traição escancarada de meu pai. Queria esquecer tudo o que me lembrava aquela noite. Mas como pude deixar de visitar o seu túmulo por conta disso?

A bebida descia rasgando, queimando e limpando toda aquela dor, substituindo pela chama causada pelo líquido.

E antes, que alguma lágrima se arriscasse a cair, uma mão incerta tocou o meu ombro.

- Viu?? - Pietra, cambaleando, rindo e me olhando com aqueles olhos escuros e brilhosos, tentando se concentrar em minha face, disse: - Eu te falei, que iria gostar muito! - riu, pegando o copo que se encontrava na minha mão e virando de uma vez nos seus lábios vermelhos.

De certo eu já estava fora de mim, pois tive que me esforçar muito para juntar as suas palavras e compreender o que dizia. No entanto, apenas rir e balancei a cabeça em concordância.

De repente, escutamos uma risada familiar e escandalosa ecoar do nosso lado. É Thalita, rindo e apontando para alguém atrás de nós, como se fosse o verdadeiro palhaço da noite.

- Quando Edgar, me ligou disse que estavam muito bêbados, mas não disse que estariam tão comportados hoje... - me esforcei para manter o equilíbrio do meu corpo e não cair para trás, quando virei o rosto minimamente para olha-lo, mas tive que me esforçar mais um pouco para manter a visão em um único foco já que tudo está dançando. - Trouxeram até mesmo ela... - apertei os meus olhos para enxergar melhor o homem emburrado, mas tudo o que consegui foram vultos e borrões. E então, ele começou a caminhar em nosso encontro. - Vamos, já passam das duas horas.

- A não... - Pietra, foi a primeira a resmungar com um tom manhoso. - Não seja tão chato, Alessandro. Era para você estar aqui com a gente. - pisquei os olhos ao escutar seu nome e então o olhei de novo, encontrando a face seria do homem.

- Sabe, um de nós tem que cuidar de vocês...- Gabe, o- interrompeu jogando o corpo pesado sobre os ombros largos de Alessandro, que bufou e respirou fundo, sustentando os dois corpos.

- Aaaah - Gabe, iniciou com a sua voz embargada de graça e exalando o bafo de todas as misturas que tomou. A sua mão foi parar no queixo do amigo, o segurando e balançando. - É por isso que você está fazendo faculdade de medicina. Olhem! - olhou para nós três e depois para, Alessandro. - Não é fofo como ele cuida de nós?? - antes pensava estar muito bêbada, no entanto, Gabe, comprovou o contrário. - Deveríamos ser mais gratos... - murmurou, deitando a cabeça no peito do homem que revirou os olhos parecendo desacreditado.

- Isso... - com um pouco de esforço jogou o braço do Gabe, no seu ombro. - Sejam gratos a mim e colaborem para que eu, os levem para casa

- Eu só serei boazinha se você me ajudar a encontrar o par do meu sapato! - a olhei, vendo que um dos seus pés está realmente faltando o par do seu ALL star branco, então, eu rir. Rir como se aquela situação fosse muito engraçada, enquanto apontava para o seu pé branco e pequeno.

- A Thalita, perdeu o sapato! - reiterei rindo mais ainda, enquanto ela mantinha um bico em seus lábios.

- Será que alguém roubou?? - inquiriu, pronta para chorar.

- Você está bêbada? - indagou, aparentemente mais bêbada que a galega sem o par de sapato. - Quem levaria aqueles pares velhos? Seria mais fácil levarem os meus! - apontou para os seus pés nós fazendo seguir com o olhar, mas antes mesmo que eu conseguisse enxergar o que há nos seus pés, meu corpo foi mais rápido e traiçoeiro.

Em questão de segundos já estava pronta para ir de encontro ao piso acimentado. Os meus olhos já haviam se fechado e eu sorria como se aquele fosse um destino muito bom, no entanto, a sua mão foi mais rápida. Meu corpo foi jogado levemente para trás com o impulso da palma da sua mão contra a minha testa.

- Huh! - ecoou. Ao encontrar seu olhar sério novamente, balancei as mãos ao lado do meu rosto, enquanto ainda ria. - Não precisava... Estava tudo sobre o controle! - mostrei um sorriso sem dentes e estiquei a mão, mostrando um joinha de confirmação.

Um ar curto saiu pelas suas narinas ao mesmo tempo que algo parecido com um riso emitiu dos seus lábios.

- Não pensei que iria te ver nessas condições tão cedo... - murmurou, olhando para mim. Continuei rindo, sem me importar o que aquilo significava me virando de volta para o balcão. - Vamos, apenas me ajudem a ajudar vocês. - sua voz agora exalava cansaço.

- aaah - Thalita, iniciou como um bode berra a sua mãe. - Mas e o meu sapato? - outro copo foi servido e eu logo tratei de deixa-lo vazio.

- Eu prometo que vou procura-lo, agora venha. - pareceu chama-la com a mão e a mesma, logo tratou de se levantar e caminhar com um pouco de dificuldades ao seu encontro. - Muito bem.

- Eu adoraria ter tido você como o meu irmão, sabia??

Escutei o seu risinho morno que me fez sorrir também.

- Mas ele não é como se fosse o nosso irmão?? - Pietra, inquiriu.

- Sim. Sou o irmão mais velho de vocês, então trate de vim comigo também.

- Aaah, mas a Thalita, roubou o meu lugar, olha aí! - a garota apontou como uma criança deleta a verdade.

- O quê!? - ecoou. - Seu lugar? Eu cheguei primeiro, ele me chamou! - olhei de relance para a situação um tanto embaraçosa, encontrando a garota agarrada na cintura do homem, enquanto Gabe, ainda está pendurado no seu ombro do outro lado.

- Você pode vim nas minhas costas, que tal? - pisquei os olhos ficando um pouco preocupada com a oferta e já imaginando na queda que esse burrinho de carga poderia levar com as bagagens.

No entanto, Pietra, pulou e riu batendo as mãos, gostando da idéia.

- Se for assim você vai ter que me levar no colo! - Thalita, contestou e com certeza, a essa altura já esticava os braços para ser levada nós braços de, Alessandro.

E depois de mais alguns resmungos e discussões, Alessandro, caminhava para longe de mim, carregando os três com dificuldade e contragosto, com a promessa de que voltaria para me buscar também.

Então ali fiquei, o- esperando sem pressa e sorrindo sem ao menos saber o motivo.

Até Que o Sol Não Nasça Mais Onde histórias criam vida. Descubra agora