III

19 3 0
                                    

Dei um pulo para trás com a mão direita no peito assim que encontrei os seus olhos ao sair da sala.

- Shit! - resmunguei baixo. - Você ainda está aqui... - passei por ele até chegar no elevador. O homem me acompanhou como um cachorro de guarda.

- Sim, estou. - o elevador chegou e entramos. Pelo reflexo do espelho vejo o que está em suas mãos e ele ergue, me entregando. - Me desculpa, pensei que...

- É, eu sei o que pensou. Não precisa se desculpar. - verifiquei se as minhas fotos ainda estavam lá pois, olhar para o seu rosto ou os meus pés, parecia ser desconfortável demais. Apesar que eu gostaria muito de ter coragem o suficiente e verificar o quanto ele cresceu e se tornou bonito.

- Quando voltou? - a sua voz não era a mesma de hoje mais cedo. Estava calmo e parecia se conter.

- Não tem muito tempo... - tenho a impressão de que o elevador não chega nunca ao destino e isso me faz se sentir sufocada.

- Pretende ficar? - o olhei e encontrei os seus olhos que brilham, mas não sabia ao certo se eram lágrimas ou algo do tipo, pois a iluminação não ajuda.

- Não. - respirei fundo. - Eu vim a trabalho, vou ficar apenas um mês.

- É muito pouco tempo... - parecia dizer isso a si mesmo do que para mim. - Por que não fica mais tempo? Ainda poderia rever o restante do pessoal. - os nossos olhares se encontraram novamente e então as portas de metal se abriram e eu agradeci mentalmente.

Andamos um pouco para frente, ficando um de frente para o outro e eu só consegui olhar os seus olhos que chamava tanto a minha atenção.

- Eu gostaria mas, realmente não dá. Mas, foi bom rever você. - o olhei de baixo para cima e sorrir sem mostrar os dentes. - Ainda continua lindo.

E antes que ele dissesse alguma coisa, girei os calcanhares e caminhei para o mais longe que consegui.

🌅

Ainda continua lindo é? O que deu em você para falar aquilo!?

Continuava me castigando mesmo depois de ter tomado um banho frio e ter jogado o corpo na cama enorme e macia. Meu rosto está enterrado na coberta, enquanto rosno e grito.

Tanto lugar para ele trabalhar e ele vai parar logo na empresa de, Pedro Coleman.

Gritei.

E por que eu fiquei nervosa? Não é como se eu ainda sentisse alguma coisa. Ah, isso é tão patético.

Gritei novamente.

🌅

Tento me recordar em qual momento da conversa acabei concordando com Pedro, sobre ir jantar na sua casa.

Penso, procurando por algum par de brincos que vá combinar com o colar de pedras que comprei tem pouco tempo.

Talvez eu tenha ficado com pena do seus olhos de cachorro perdido e pidão.

Termino de calçar os pares de scarpin-alto, preto e brilhoso.

Ou talvez eu concordei pelo fato de querer pisar uma última vez naquela casa.

Me olho no espelho, certificando que a maquiagem casual não estava tão pesada. Que o vestido preto longo, justo e aberto atrás, está sob-medida.

Até Que o Sol Não Nasça Mais Onde histórias criam vida. Descubra agora