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Dado 🎲
(Rio de Janeiro, rocinha)
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     Subo direto pra boca principal, entrando pra salinha vejo vários meno que mete 157 lá já pista. Barão o dono do morro, me olha e coça a garganta.

Barão: tia Maria veio passar o papo que roubaram a loja dela lá na sul, iae? Quem foi -falou calmo olhando pra cada um

Dado: sei bem o mapeamento de cada pessoa daqui de dentro que trabalha no asfalto, não foi eu. Os menorzinhos novos que desceram pra lá ontem -Barão sorriu de lado e mandou eu sair

Pra roubar tem que ser sagaz, saber de quem você tá tirando. Lá tenho cara de quem fica roubando gente na praia. Tô desde oito anos nisso, roubo banco e os cara nem vê.

Desço acendendo um baseado pra ficar tranquilo, Rio De Janeiro tá um frio do caralho, ninguém na rua. Paro em frente a minha casa e sento no meio fio.

Vejo várias crianças subindo da escola, os mais velhos também, estranho quando não vejo meu menor passar. Ligar pra mãe dele depois.

Observo uma morena do cabelão subir junto com outras duas meninas, sorriso de orelha a orelha. mó corpão.

Maria: dado -sorriu a morena ao me ver- iae cria, nunca mas apareceu lá na vó

Dado: vou brotar lá em qualquer dia aí -sorri fraco- iae Victória

Victória: oi -fez um valeu. Victória é minha ex cunhada- Felipe não veio pra escola de novo né

Dado: não -bufei- Iae Anna Chega mais po, mordo não -seus pares de olhos azuis me alcançaram com tédio

Maria: Ficam numa graça vocês -sorriu fraco- vem maluca

Dado: iae Anna -ela me olhou com mó cara de sinica e sorriu de cantinho negando- tô entrando pra minha goma, aí Maria, fala pra vó que vou passar lá

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Olho e Felipe me olhar com cara feia, da uns pescoção vai parar com as graças. Moleque veio cheio de graça pra cima de mim, segundo ele eu deveria estar com a mãe dele.

Dado: já  falei pra tu parar com suas graças -apontei serin- tenho nada haver se tua mãe tá se envolvendo com alguém que bate nela não Felipe! Papo já mandei, minha preocupação é você

Felipe: você é um merda! -gritou, levanto indo na  direção dele acertando logo um tapão na boca dele

Dado: olha as merda que tu fala! Tá falando com teu amigos? Em porra -gritei vendo ele chorar- olha pra mim, nos meu olhos Felipe. Eu não posso me  meter em escolhas da sua mãe não, ela é adulta assim como eu sou. Tá avisado que tu tá de castigo

Felipe: pai..-choramingou

Dado: eu quero provas que tu vai sair pra rua nesse Carnaval! Se eu souber que tu viu a cor do confeete eu mato a pessoa que te levou. Pro seu quarto agora, bora -ele passou igual bala fechando a porta

Suspiro puto com isso. Já dei o papo na Adriely para parar de ficar com uns mano aí, mais ela caça pra me provocar, nem da certo! Sinto merda nenhuma por ela.

Ouço alguém bater na porta, me levanto sem muita pressa indo abrir a mesma. Assim que abro do de cara com a Anna me olhando. Os olhos cheios de lágrimas, seu rosto estava vermelho pra caralho.

Abracei ela batendo a porta atrás de nós, sai arrastando ela pro sofá, sentei a mesma que se encolheu no meu colo.

Anna: ele me bateu de novo -soluçou- me jogou da escada. Ele vai me matar a qualquer momento dado -suas unhas foram cravadas em meus braços me fazendo suspirar

Dado: Anna.. controla a força -resmunguei vendo ela tirar as unhas da minha pele- eu não posso fazer nada..Barão é muito mais que eu aqui

Anna: eu não aguento mas, eu só sirvo naquela casa pra apanhar e sofrer. Porque porras meus pais me venderam pra ele -começa chorar novamente me fazendo abraçar mais forte ela- eu posso..

Dado: você pode dormir aqui Anna -ela deu um sorriso fraco- vai tomar um banho, esfriar a mente

Ela concorda saindo do meu colo, vejo suas pernas e braços marcados. Ela logo desaparece na escada.

Anna chegou no morro quando tinha doze anos de idade, garota era toda desconfiada e triste, claro foi vendida também. Os pais dela venderam a mesma em troca de pagar a dívida com o Barão.

Nisso teve um dia que ela caiu na minha laje, eu ouvi o barulho e subi pra ver. Lá estava ela, com uma abertura enorme na perna por ter caído em cima de um caco de vidro.

Levei ela pra dentro da minha  cada e fiz um curativo. Eu tinha vinte e seis anos e ela doze. Papo que ela sempre ficou me olhando de canto, eu via isso. Acabou que nesse dia rolou. Ela já tinha sido obrigada a fazer com o dado.

Comigo ela quis, e eu mesmo não querendo pela idade dela fui. Depois disso nós ficou grudado um no outro. Até o ela fazer quinze e o Barão começar a proibir eu de ver ela.

Ela tá beirando os dezessete, se não me esqueço é inicio do mês que vem.

Artigo 157Onde histórias criam vida. Descubra agora