Capítulo 2- A visita do Duque

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Cornualha, 1914

Caminhando pelos jardins de seu casarão, Gilbert Blythe inspirou fundo o ar fresco da manhã. Estavam no inverno, mas a temperatura naquela região nesse período era amena, não atingindo níveis muito baixos como acontecia em outras regiões.

Seu olhar correu por toda a extensão de terra à sua frente e o rapaz sorriu satisfeito ao constatar, que a plantação de milho e trigo estavam no auge, e teriam uma safra bastante produtiva naquele ano, a despeito da economia local que se beneficiava especialmente da pescaria da qual a maioria da população sobrevivia.

Ele fora o primeiro a iniciar aquele tipo de negócio ali. Embora seus administradores fossem contra,  considerando-o  um garoto caprichoso que não sabia lidar com a herança de seu pai morto, prevendo que ele estaria falido dali a alguns anos, perdendo toda a sua fortuna por conta de sua teimosia e imaturidade.

Gilbert tivera que trabalhar duro para provar que seu diploma de economia e administração de Harvard não fora uma perda de tempo. Seu pai investira em sua educação, e o ele mostrara sua consideração ao se tornar um dos melhores alunos de sua turma. Contudo, além de John Blythe, seus outros colaboradores não conseguiam acreditar que o rapaz recém-formado, cujo pai acabara de falecer, era capaz de manter o mesmo nível de qualidade os negócios que caíram em suas mãos inesperadamente.

Porém, Gilbert sempre fora um rapaz de mente aberta no que se referia a aprender algo novo. Não media esforços para adquirir conhecimento em qualquer área pela qual se interessasse e somente ficava satisfeito, quando sabia cada detalhe que o levasse a uma aprendizagem perfeita.

Assim, quando apresentara sua ideia de diversificar os negócios da família, migrando para a área de agricultura, nenhum dos empregados antigos de seu pai pareciam dispostos a comprar sua ideia. Todavia, ele insistira e acabara conquistando seus opositores com a Inteligência e sagacidade que herdara de seu pai.

Aos vinte cinco anos, o Duque Gilbert Blythe era um dos mais prósperos empresários da região, aumentando a fortuna que John lhe deixara e continuando seu legado de cabeça erguida e com muito orgulho.

Ele caminhou mais um pouco e deixou seus olhos repousarem sobre uma azaleia em flor, sentindo o aroma doce das outras flores por ali espalhadas, enquanto podia ouvir o zumbido de abelhas passeando por entre elas, em busca do néctar como seu alimento essencial.

Aquele jardim fora projetado conforme o gosto de seu pai, mas quando ele era vivo, o rapaz nunca tinha lhe dado a devida importância, pois seus interesses eram cavalgar, se divertir com seus amigos e praticar esgrima.

Contudo, após a morte dele,Gilbert se agarrara àquele lugar como se pudesse manter seu pai ali com ele e em seus piores momentos. Era ali que encontrava respostas para seus problemas e dúvidas pessoais.

A casa também tinha muito de seu pai. Cada cômodo era um lembrete de seu amor pela arquitetura e seu bom gosto pelas artes. Havia várias esculturas distribuídas pela casa, pequenas antiguidades que John trouxera de suas viagens a outros países e muitos quadros famosos que valeriam uma fortuna se fossem colocados a venda ou em um leilão.

Gilbert herdara tudo isso, além do título de Duque, pois como não tinha irmãos, ele era o único que poderia estar naquela posição. O que não lhe agradava de fato, mas nunca recusaria algo que viesse diretamente de seu pai.

Era o único responsável por perpetuar a linhagem da família, honrando suas tradições e cuidando para que tudo continuasse prosperando até a sua morte, ou quando passasse seu título para um de seus filhos, que pretendia ter no futuro.

Gilbert olhou para cima e percebeu que algumas nuvens pesadas se aproximavam, deixando no ar a impressão de que uma tempestade se aproximava.

Não podia dizer que não gostava de dias cinzentos, pois havia uma certa beleza naquela melancolia trazida pelo vento. Entretanto, tempestade já era outra coisa completamente diferente. Desde que soubera que sua mãe morrera ao dar à luz a ele em uma noite de chuva intensa, o rapaz desenvolvera uma certa fobia a esse tipo de fenômeno da natureza.

Dois lados da mesma moedaOnde histórias criam vida. Descubra agora