Capítulo 7 - Oceano azul

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Outubro de 1914

Querida irmã.

Espero que esta carta te encontre bem e  feliz, pois não se passa um dia em que eu não pense em você e deseje que estivesse aqui comigo, para conhecer Paris com seus próprios olhos.

A cidade é mais do que eu tinha imaginado. A beleza dela me impressiona todos os dias, e quase não acredito que estou vivendo esta experiência incrível.

Tudo em Paris é de extremo bom gosto. Quando caminho pelas ruas , me deparo com pessoas bem vestidas e de comportamento refinado, o que faz  com que Londres pareça provinciana perto das modernidades daqui. 

Embora a palavra guerra paire sobre todos nós, as ruas francesas não parecem sofrer com esta ameaça.  As pessoas continuam a viver suas vidas com estilo e sofisticação.  É prazeroso sentir que a normalidade não é perturbada por pensamentos sombrios. Aqui é um mundo à parte. Sinto apenas que você não possa ver tudo isso com os próprios olhos.

Estou adorando cada segundo desta oportunidade e te agradeço de todo o meu coração, pois sem sua ajuda isso não teria sido possível. Sinto sua falta, minha irmã adorada, e sei que com você ficou a melhor parte de mim.

Elliot tem sido um ótimo companheiro de viagem e tem me proporcionado momentos divertidos e inesquecíveis. Não consigo ainda te descrever como me sinto em relação a ele, mas não seria a mesma coisa se ele não estivesse aqui.

Não sei quando  conseguirei te escrever de novo, dadas as circunstâncias Isso talvez não seja aconselhável, mas se puder, me envie uma carta. Quero muito saber de você e como as coisas estão em nossa casa. 

Te amo. A.

Anne enxugou os olhos, sentindo seu peito apertado de saudades da irmã.  Ao menos, ela parecia feliz e vivendo a vida que escolheu, mas mesmo que tivesse sido ela quem dera a Amybeth aquela oportunidade, não conseguia ficar feliz também.

Teria dado qualquer coisa para que sua irmã gêmea estivesse ali com ela, porque naqueles meses sem Amybeth, ela se sentia tão sozinha e vazia que nada parecia preencher aquele buraco imenso em seu coração.

Contudo, Anne sabia que Amybeth não estaria satisfeita se tivesse ficado, porque havia algo naquela personalidade complexa que nunca conseguiria alcançar. Anne aceitava que sua irmã fosse diferente dela em muitos aspectos, compreendia que ela tivesse uma alma inquieta, mas também sentia, mesmo que não quisesse admitir em voz alta, que havia algo errado com a mente de Amybeth.

Ela parecia oscilar entre o equilíbrio e o descontrole total. Por vezes, ela dizia coisas ou se comportava de forma estranha, como se precisasse sempre estar na contramão do que era certo e prudente. Amybeth desafiava a sociedade, não só porque queria poder ter a liberdade que desejava; ela o fazia porque tinha uma necessidade mordaz de chocar, de ser o centro das atenções, de estar sempre à frente de cada situação que pudesse envolvê-la.

Sua irmã era intensa demais, mas não conseguia controlar essa intensidade. Se perdia em suas emoções desmedidas, parecia nunca encontrar o que procurava e sempre estava em busca do que era inalcançável e do que nunca poderia ter.

Diana acusara Amybeth de manipuladora e dissera inúmeras vezes que Anne não enxergava o que sua  irmã era. Mas na verdade, Anne sabia muito bem quem Amybeth era e moveria céus e terras para protegê-la, pois naquele mundo que o pai de ambas criara para viver, elas só tinham uma a outra.

Com cuidado, Anne dobrou a carta e a colocou no bolso de seu vestido, enquanto saía do quarto pensativa. Estava quase na hora do almoço e Anne tentava não pensar que encontraria Gilbert à mesa.

Dois lados da mesma moedaOnde histórias criam vida. Descubra agora