Capítulo 3 - A troca

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A janela do quarto no qual Gilbert passara a noite localizava-se em frente ao jardim dos Cuthberts. Era para lá que o olhar do rapaz repousava naquele momento, pois, assim que o dia nasceu, foi impossível para ele permanecer na cama com a quantidade de raios solares que iluminaram todo o ambiente no instante em que abrira os olhos.

Botânica nunca fora sua especialidade, mas era curioso como aquela beleza simples lhe chamava a atenção. Seu pai lhe dera algumas noções básicas, mas o rapaz não conseguira adquirir habilidade para semear uma roseira e vê-la crescer forte e viçosa. Na maioria das vezes, a planta nem sequer chegava a nascer, por isso, ele se contentava em admirá-las em um jardim já projetado, ao invés de desperdiçar seu esforço em algo no qual não teria sucesso.

Contudo, dali onde estava, não conseguia ver com exatidão todas as peculiaridades do jardim, mas esperava que, se o Conde não se importasse, ter a oportunidades de conhecer melhor aquele pequeno paraíso.

Havia outra coisa que teria que fazer naquele dia, e também esperava ter sucesso. Conhecer melhor sua futura esposa estava no topo dessa lista, pois, por mais que a tivesse visto na noite anterior, não tivera, de fato, uma chance de falar com ela abertamente.

Amybeth parecia ser uma garota interessante. Não era tímida, não se importava em agradar e não tinha tentado ser amigável ou simpática com ele durante o jantar. Se ela estava entusiasmada com aquele casamento, Gilbert não tinha como saber, pois ela não o permitira. Sua futura esposa era como uma pedra de gelo, como uma princesa em um castelo de marfim, e alcançá-la parecia estar além de suas forças.

Um sorriso disfarçado surgiu nos lábios bem desenhados do rapaz quando ele se lembrou da irmã gêmea de Amybeth. Seu nome era Anne, como ela lhe contara, e era tão tímida que, em todas as vezes em que olhara para ela, seu rosto delicado se tornava tão rosado, que Gilbert até ralhara internamente consigo mesmo por incomodá-la daquela maneira. Não obstante, era quase irresistível não observá-la, porque tudo o que Anne fazia parecia perfeito.

Seu jeito de segurar o garfo e levá-lo aos lábios com extrema elegância, a forma como cortava um alimento, como se estivesse realizando uma experiência importante, e a maneira delicada com a qual ela limpava a boca rosada com o guardanapo, hipnotizava qualquer um que a observasse com atenção.

Anne e Amybeth eram um contraste fascinante. Eram tão iguais em aparência e tão diferentes em seu modo de ser. Se Gilbert estivesse sozinho com elas em uma sala, seria difícil para ele descobrir quem era quem naquela equação maluca apenas pela aparência.

Nunca convivera com gêmeas antes, mas imaginava que, com o tempo, descobriria uma maneira de distingui-las, porque deveriam existir algumas características da aparência delas que lhe daria algum sinal com qual das duas estaria falando. Seria bastante deselegante da sua parte se confundisse Amybeth com Anne, causando um desconforto irreversível.

Mudando rapidamente o teor de seus pensamentos, Gilbert consultou seu relógio de bolso e verificou que estava na hora do café da manhã. Walter havia lhe explicado toda a dinâmica da casa e, assim, ele saiu de seus aposentos, desceu os degraus intermináveis da escada e se encaminhou até a sala de refeições.

Para sua surpresa, uma das gêmeas estava tomando café e, quando o rapaz entrou, ela disse com polidez:

— Bom dia, duque.

— Bom dia. Desculpe-me perguntar, mas qual das duas gêmeas é você? — Gilbert indagou, desconcertado por sua falta de percepção a respeito das duas irmãs tão incomuns.

— Depende. Qual delas quer que eu seja? —  A ruiva perguntou, com um sorriso discreto, mas com uma pitada de sarcasmo, indicando o quanto ela estava se divertindo com a confusão dele.

Dois lados da mesma moedaOnde histórias criam vida. Descubra agora