Pᴀʀᴀ ᴠᴏᴄᴇ̂, ᴏ ǫᴜᴇ ᴇ́ sᴏɴʜᴀʀ?
6 ANOS ATRÁS
– O que é um sonho? – perguntei à mulher recostada nos travesseiros da cama hospitalar.
Ela tinha o olhar voltado para as janelas enquanto respirava tranquilamente.
– Um... Sonho? – disse lentamente.
Estava ao seu lado sentada numa das cadeiras de acompanhantes, descascando e cortando maçãs uma por uma, enquanto esperava pacientemente a morena falar.
– Os sonhos são... a expressão mais pura da nossa imaginação... – as palavras saiam calmamente de seus lábios. Após o traumatismo craniano, uma das coisas que mais lhe afetou foi a fala. – Eles são um fragmento nosso que nos mostra o que queremos... o que sentimos... e o que nos inspira. – disse em seu ritmo.
Depois de fatiar a última maçã, fixei meus olhos nela.
– Eles são um lembrete de que existem... coisas em nós... que são mais vastas e profundas do que tudo que podemos imaginar. – continuou a falar.
– E qual é seu sonho, mãe? – indaguei a mulher.
Pude ver seus olhos se fecharem.
Lágrimas escorreram pela suas bochechas. Seus lábios, trêmulos, pronunciaram a seguinte frase:
– Eu gostaria de não esquecer quem eu sou... ou quem eu fui... – disse aos soluços.
O “bip” dos aparelhos foram ouvidos e imediatamente levantei-me, preocupada, pedindo por ajuda.
– Nisa... – me chamou com dificuldade, pondo uma das suas mãos em sua cabeça.
– Mãe! Não fale, por favor! Não se esforce... – a alertei com a voz oscilante.
– Não importa o que aconteça... Não esqueça quem você é.
Essas foram as últimas palavras que ela me dissera, antes de seus olhos se fecharem e seus braços caírem ao seu redor na cama. O bip irritante das máquinas ainda podiam ser escutados.
– Socorro! Alguém ajuda minha mãe! – fui até a porta e a abri, gritando por alguém.
O seu médico e enfermeiras entraram correndo, uma delas me tirou do quarto na tentativa de me acalmar. Meus olhos estavam molhados, minha visão embaçada e eu sentia minhas pernas ficando cada vez mais fracas.
ATUALMENTE
Naquele dia, eu recebi a pior notícia da minha vida.
Minha mãe tinha entrado em estado vegetativo semanas após ter perdido os movimentos das pernas... Tudo para me salvar.
A pessoa que eu mais amava no mundo, se sacrificou por mim. Sacrificou seus desejos, seus sonhos...
Aquela mulher tão sonhadora, fora incapacitada de sonhar. E eu não pude fazer nada.
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ᴍᴏᴛɪᴏɴ ᴘɪᴄᴛᴜʀᴇ ꜱᴏᴜɴᴅᴛʀᴀᴄᴋ (𝑺𝒂𝒏𝒛𝒖 𝑯𝒂𝒓𝒖𝒄𝒉𝒊𝒚𝒐)
FanfictionApós perder a mãe durante a adolescência, Hanazawa Nisa se vê num caminho difícil. Seu relacionamento complicado com a família e o sentimento do luto, a empurra para um estilo de vida exaustivo, deixando-a semelhante a um pássaro em uma gaiola; sem...