Capítulo I

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| Cap - I |
| Descoberta |

"Direção Certa"


Estou ciente de que preciso compartilhar algo com você, e, por mais inesperado que possa parecer, deixe-me explicar: há apenas dois dias, algo curioso começou a seguir meus rastros. Desde que deixei o meu lar, sinto uma presença estranha, como um eco distante que me faz olhar por cima do ombro. Não sou supersticiosa, mas algo me diz que não é apenas minha imaginação.

No auge da minha desconfiança, algo inesperado aconteceu - e eu não poderia deixar de contar. Um golfinho não-maj, isso mesmo, um golfinho! Enquanto eu nadava, com a água salgada acariciando minha pele, ele surgiu ao meu lado, saltando alegremente. Sua presença era tão inesperada quanto encantadora, e, a princípio, parecia mais um amigo do que uma ameaça.

No entanto, para minha surpresa, a impressão inicial logo se desfez, pois ele mordeu minha cauda! Um golfinho não-maj travesso! Minha primeira reação foi de choque, e confesso que cogitei lhe dar uma lição, mas me contive. Em vez disso, dei-lhe uma bronca:

- Olha aqui, serelepe! Que história é essa de morder desconhecidos? Não sabe que isso é falta de educação entre os de cauda?

Ele, então, recuou envergonhado, voltando ao cardume com as nadadeiras abaixadas. Por um momento, me arrependi de tê-lo repreendido, mas, quem sabe, isso o deixe mais esperto da próxima vez!

Após alguns minutos de paz, nadando lentamente para evitar o desgaste muscular, um movimento rápido à esquerda chamou minha atenção. Um cardume de peixes coloridos nadava freneticamente, como se fugisse de algo. Antes que eu pudesse reagir, uma enorme tartaruga-marinha surgiu ao meu lado. Sua casca, coberta de algas e corais, parecia um manto ancestral.

A tartaruga transmitia uma serenidade que apenas uma criatura como ela haveria de ter, mas seus olhos carregavam uma curiosidade que me intrigou. Ela pairou ao meu lado, balançando lentamente as nadadeiras como quem diz: "Para onde vai com tanta pressa, jovem?"

Tentei me comunicar, mas ela era menos fácil de entender que o golfinho. Fiz mímicas, tentando me expressar, até que ela começou a nadar numa direção inesperada. Parecia disposta a "escoltar-me". Embora meu destino fosse ao norte, ela claramente tinha planos diferentes.

"Seja lá o que for que você queira, querida senhora, que seja rápido!" murmurei, mais para mim mesma. No entanto, ela apenas nadava em círculos, em um ritmo deliberadamente lento, lançando-me olhares divertidos. Era como se risse da minha impaciência!

Lembrei das histórias que meu pai contava sobre as tartarugas antigas, guardiãs dos mares e sábias observadoras das criaturas que cruzam seus caminhos. Resolvi acompanhar seu ritmo, ao menos por alguns minutos, para ver onde isso me levaria.

Foi então que, em meio aos movimentos lentos, algo chamou minha atenção nas profundezas: um brilho leve contra as sombras das rochas. Desci um pouco para investigar e descobri um colar de pérolas, perdido na areia, provavelmente deixado por algum viajante dos mares. Antes que eu pudesse pegá-lo, a tartaruga interveio, protegendo o objeto com sua nadadeira. Ela me olhou, avaliando-me, como se perguntasse se eu era digna daquele achado.

"Quer ver um pouco de determinação, não é?" murmurei, aproximando-me com cuidado.

Fizemos uma dança de paciência, quase como um ritual submerso. Após alguns longos minutos silenciosos, a tartaruga levantou a nadadeira, permitindo que eu pegasse o colar. Olhei para ela e murmurei com gratidão: "Obrigada, minha sábia amiga." e escondi o colar em meus cabelos.

Ela nadou ao meu lado por mais alguns instantes, depois deu meia-volta e seguiu seu caminho, deixando-me só, mas em paz.

Foi só após me despedir da tartaruga que percebi a fome retornando, lembrando-me de que minha viagem ainda estava longe de terminar. Quem sabe quantas criaturas mais o mar ainda quer que eu a conheça?

Animais Fantásticos: Sereias E Onde Habitam | Newt ScamanderOnde histórias criam vida. Descubra agora