Animais Fantásticos: Sereias E Onde Habitam | Newt Scamander

Capítulo VI

| Cap - VI |

|Sobre sereias e frango|

" Vão ficar por sua conta."

O jantar continuou envolto em uma aura única de camaradagem e surpresa. Uma sereia ali, entre um grupo de bruxos, experimentando o mundo humano - quem poderia imaginar?

Jacob e Queenie haviam preparado um banquete italiano de massas que ocupava toda a mesa de madeira antiga, cada prato exalando um aroma irresistível. Havia tigelas transbordantes de diversos tipos de macarrão, cobertas por molhos coloridos, queijos finos, especiarias, além de pratos de carnes variadas para complementar. Tudo cuidadosamente disposto em travessas de cerâmica. As velas ao centro lançavam um brilho suave que dançava nas superfícies dos pratos e nas expressões dos presentes, criando uma atmosfera acolhedora e literalmente mágica.

Vieve, dentro de sua banheira locomotiva, deixava uma parte da cauda azul-prateada sair e repousar no chão. A água cristalina dentro da banheira balançava levemente a cada movimento seu, criando pequenas ondas que refletiam a luz das velas. Ela se inclinava sobre a borda da banheira, esticando os braços para alcançar os pratos que lhe chamavam a atenção. Cada garfada era uma descoberta. O peixe cozido e as carnes, tão diferentes dos alimentos crus do oceano, tinham sabores intensos que explodiam em seu paladar. A pizza, especialmente, era um espetáculo à parte; o calor do queijo derretido, a acidez do molho e a crocância da massa eram uma experiência completamente nova.

Vieve comia com entusiasmo, às vezes exagerando e quase engasgando com a quantidade de comida que levava à boca. Seu comportamento era cômico, mas também fascinante, deixando seus anfitriões entre a surpresa e o divertimento. A mesa retangular de madeira sólida estalava sob o peso dos pratos e dos cotovelos apoiados enquanto as conversas começaram a fluir. Inicialmente, havia apenas o tilintar dos talheres e as mastigações sonoras da sereia, mas, logo, os comentários surgiam, quebrando o silêncio.

- Essa massa está divina, Jacob - comentou Queenie, rindo de leve ao ver Vieve devorar uma tigela de nhoque.

Jacob, visivelmente satisfeito com o elogio, ofereceu uma travessa de molho à sereia. - Vieve, gostaria de mais molho?

Ela olhou para ele, os olhos brilhando, e balançou a cabeça em entusiasmo, engolindo apressada. - Ah, sim, por favor!

A refeição seguiu em meio a risadas e disputas amigáveis pelas últimas porções. A cada prato esvaziado, surgiam novas histórias: Jacob imitou Teseu com adereços improvisados, arrancando gargalhadas, e Newt fez piadas sobre criaturas mágicas que só ele entendia. Tudo parecia encantador e reconfortante. Para Vieve, a sensação era agridoce. Cada risada, cada prato compartilhado revelava um mundo tão diferente do seu, onde a convivência não era apenas uma ocasião, mas um ritual quase sagrado. Ela sentia algo crescer dentro de si, um misto de encantamento e tristeza.

Enquanto todos na mesa contavam casos divertidos do passado, ela repousou brevemente as mão próximo ao seu prato, e se permitiu contemplar o quanto tudo aquilo significava. No fundo do oceano, os momentos compartilhados ao redor de uma refeição eram raros e desprovidos da comunhão que sentia ali. Ela nunca havia experimentado essa sensação de pertença, de ser vista e incluída.

Por um instante, seus olhos cruzaram com os de Newt. Ele a observava com um sorrisinho tímido, um tanto admirado.  Newt parecia ver além da superfície, captando algo que ninguém mais ali notava. Ele a enxergava como ela era - sem filtros, pura em sua curiosidade e encantamento. Isso o tocava profundamente. Vieve lhe dirigiu um sorriso, antes de desviar o olhar para limpar seus lábios com um guardanapo.