Capítulo 02

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POV Lauren

Quem acha que 11h14 da manhã é cedo demais para começar a beber nunca conheceu o meu pai.

E quem acha que qualquer hora do dia é cedo demais para beber não me conheceu.

– Pretende adicionar "alcoólatra" ao currículo? – Meu pai me pergunta, olhando com desdém para o copo de bourbon na minha mão.

Largada na poltrona de couro, só chacoalho o gelo no copo. Dá trabalho manter a postura "não tô nem aí", mas aprendi que é uma necessidade quando se trata do meu pai. Se ele visse quem eu realmente sou – a versão que está sempre prestes a socar alguma coisa, iria me internar.

– Relaxa. – Abro um sorriso de escárnio. – Pelo menos tem gelo aqui. Quando eu começar a tomar puro, aí teremos um problema.

A expressão dele nem vacila. Por que deveria? Está no modo "desaprovação" desde o dia em que eu contei que iria me alistar como fuzileira naval, em vez de me tronar funcionária na empresa dele.

"Se pretende ficar com areia no rabo e explodir a cabeça no lugar de assumir suas responsabilidades, vá em frente. Mas não pense que vou agir como se você tivesse sido uma heroína quando seu corpo gelado foi enviado de volta para casa em um caixão".

Esse é o meu pai. Sempre a um passo de me chamar para jogar beisebol ou ir pescar. Quando não está me incentivando a seguir meus sonhos, é claro.

Fico um pouco satisfeita de saber que ele não estava totalmente certo. A parte da areia no meu rabo realmente aconteceu. Mas ninguém explodiu a minha cabeça.

Foi a minha perna.

Bom, talvez eu esteja sendo meio melodramática. Ainda tenho a minha perna. Mas, pela utilidade que tem agora, poderia muito bem ter sido destroçada. Como tudo o mais na minha vida.

A raiva ameaça me sufocar. Faz dois anos que voltei do Afeganistão, e ela não diminui. Talvez tenha até aumentado.

Mas tenho amanhã e todos os dias que virão para ficar com pena de mim mesma. Agora foco minha atenção em descobrir qual é o jogo do meu pai no momento. Não é todo dia que o ilustre Michael Jauregui vem até Bar Harbor visitar a sua única filha.

Se aprendi alguma coisa nos últimos dois anos além de como ser eu mesma, foi adivinhar com precisão o real sentido dessas visitinhas.

Nada de aviso prévio. Confere.

Nem um cumprimento além de uma olhadela para a minha perna esquerda para ver se não voltou magicamente a ser digna de uma atleta – o que nunca acontece, claro. Confere.

Nem uma espiada na minha cara. Confere.

Comentários passivo-agressivos sobre o quanto eu bebo. Confere.

O que nos leva ao próximo item da lista...

– Allyson me ligou. – Ele comenta. – Disse que a última não durou nem duas semanas.

Ah, então esse é o motivo.

Balanço a cabeça pesarosa e encaro o bourbon.

– Pobre, Ally. Deve ser duro para ela descobrir que seus escravinhos não têm o que é preciso para sobreviver na selva.

– Não é... – Meu pai perde o controle e soca a mesa antiga de madeira, irritado. Ele não grita. Michael Jauregui nunca grita. – Não é a selva, pelo amor de Deus. É um château de nove quartos, com duas casas para hóspedes, uma academia e um estábulo.

Sinto o tom de censura em sua voz. De alguma forma eu entendo. Do ponto de vista dele, sou uma menina mimada. Mas, é mais fácil que ele me veja assim do que deixá-lo descobrir a verdade... E a verdade é que eu nem ligaria se tudo pegasse fogo. E torceria para queimar junto. Porque se meu pai descobrir como estou morta por dentro, não vai se contentar em contratar cuidadores para manter as aparências. Vai me internar em algum hospício onde os copos são de papel e os talheres de plástico.

A Bela e a Fera (Beauty and the Beast - Camren - G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora