Capítulo 04

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POV Lauren

Que merda.

Que a porra toda vá pro inferno.

Antes que eu consiga pensar direito, meu braço já está em movimento, e o vidro se estilhaça contra a parede. Mal percebo o bourbon escorrendo pela parede e formando uma poça cara no piso de madeira.

Achei que estivesse preparada.

Cara, eu estava preparada.

Preparada para cumprimentar a próxima matrona impiedosa da fila de fornecimento sem fim de babás do meu pai, com o propósito de fazê-la se sentir em casa. Tudo bem, não vamos exagerar. Mas, eu tinha toda a intenção de não ser uma babaca. Ia mostrar a ela meu lado bom — meu lado correto, melhor dizendo. Talvez até forçasse um sorriso. Ia lhe dar as boas-vindas. Passei a noite toda dizendo a mim mesma que uma bruxa velha não ia se importar com minha aparência.

Mas a mulher do outro lado da porta... Não, a garota. Ela não é uma bruxa velha. Essa cuidadora é... linda.

Não acho que seja apenas o fato de que faz muito tempo que não fico com uma mulher, e mais tempo ainda que não vejo uma mulher da minha idade. Ela é maravilhosa. Tem grandes olhos castanhos e um cabelo longo e escuro pelo qual adoraria passar a mão. Uma boca linda e carnuda que eu gostaria de... Não. Porra nenhuma.

Ela não pode ter mais do que vinte e dois anos. Todas as outras estavam pelo menos na segunda metade dos trinta. Foi justamente para evitar pessoas como essa mulher — de novo, essa garota — que eu resolvi me isolar no Maine.

Ela é uma tentação. Não só de um jeito sexual, embora tenha isso também. Mas, só de olhá-la rapidamente, já me sinto tentada por algo pior: o desejo de ser normal.

Ela precisa ir embora. Agora.

Fecho a mão em punho e soco a minha perna como punição.

E você tinha que falar sobre o suicídio, de todas as coisas no mundo?

Mas foi instintivo. Queria mandá-la embora pra longe e bem depressa, e esse parecia ser um jeito certeiro de assustar alguém que só podia estar começando nessa profissão.

Ela já deve estar voltando para o carro. Falo para mim mesma que isso me deixa feliz. Não preciso de uma morena gostosa me lembrando de todas as coisas que não posso ter.

Só que...

Meus olhos se arregalam.

A droga do ultimato.

Dizer que meu pai me encurralou é pouco. O compromisso de me comportar por três meses já era bastante ruim quando pensei que estaria lidando com uma velhota excêntrica, mas isso? Pedir que eu passe três meses na companhia dessa morena maravilhosa?

Isso era pura manipulação. Meu pai não está só tentando me trazer de volta ao mundo real, ele está esfregando o mundo real na minha cara.

Levo as mãos aos olhos enquanto a realidade da situação faz minha cabeça doer.

Quais são minhas opções?

Posso dizer a meu pai para esquecer — deixar a garota entrar no carro e, como resultado, ser jogada no olho da rua, sem nenhum lugar para onde ir e sem um centavo no bolso. Posso deixar a Dinah e sua filha sem nada.

Ou...

Posso ir atrás da latina quente e fingir que a quero aqui. Fingir que preciso dela, só para que a filha da minha melhor amiga sobreviva.

Droga. Não tenho escolha. Não de verdade.

Vou em direção à porta, então sinto a panturrilha doer. Merda. Esqueci a perna esquerda por um tempo. O que só indica como estou perdida. Por um segundo, esqueci quem eu sou. O que eu sou.

Não sou mais a Lauren Jauregui, a atleta invejada e heroína americana marchando para a guerra. Sou a Lauren Jauregui, reclusa e desfigurada sem qualquer utilidade.

Cara, não consigo nem ser útil para mim mesmo. Mal consigo andar, porra!

Antes de mandar meu pai para o inferno e dizer que não preciso da casa ou do dinheiro dele, preciso resolver algumas coisas. E para fazer isso...

Me afasto da mesa e atravesso o cômodo o mais rápido que consigo. Hesito brevemente, com a mão na maçaneta, sabendo que minha vida está prestes a virar de cabeça para baixo.

Meu coração bate forte. Tento me convencer de que é raiva, mas suspeito de que seja algo pior. Medo. Sei o que a garota vai ver, e não é nada bonito. Longe disso.

Abro a porta, me perguntando como vou conseguir ir atrás dela mancando.

Então descubro que não preciso fazer isso. Ela está esperando por mim.

A Bela e a Fera (Beauty and the Beast - Camren - G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora