CAPÍTULO 4 - OS OLHOS NEGROS DE SARA

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Lhes apresento uma outra figura peculiar e não menos importante para a história que estou a contar.

Tudo começa em uma noite fria e céu nublado incomum para a época do ano em Florência. Raios riscavam o céu, anunciavam uma tempestade passageira.

Uma mulher andava pela vasta e deserta rua, já era tarde, ansiosa por chegar em casa, apressava os passos, o frio gelava suas mãos, suas orelhas queimavam, o vento forte avoaçava seus cabelos, havia saído despreparada para aquele repentino clima adverso.

-Sara?! Onde está você? Cheguei!

Sem resposta, pergunta mais uma vez, e continua sem resposta, se preocupa, seu rosto transmitia certa preocupação, fecha a porta devagar estava atenta, aguardava a resposta.

A casa estava escura, clareada apenas pelos raios. Ela vai se aproximando devagar da escada para no primeiro andar, se apoia no corrimão de madeira.

- Filha você está aí? Por que não responde?

Havia uma luz, mas estava falhando, ao perceber que se tratava do quarto da Sara, sobe as escadas rapidamente, algo com certeza não estava correto.

Para antes da entrada, estava apreensiva, respira, um raio, um clarão ilumina todo o corredor em que estava dando ênfase ao tapete vermelho escarlate do corredor.

Ao chegar ao quarto encontra tudo transtornado, uma garota estava no canto do quarto encolhida, abraçada as pernas se balançando dizendo coisas que mal davam para ouvir, sussurros.

"-De novo não!" - Pensa ela.

Se aproxima rapidamente, aquilo já havia ocorrido antes, se abaixa em sua frente e carinhosamente pergunta passando a mão em seus braços e diz:

-Ei! Oque houve? Por que você está assim? Se acalma!

Sara nada responde antes continua abraçada aos joelhos e sussurrando, mesmo assim insiste:

-Sara fale comigo, se acalme, calma filha, já passou!

Parece que estava fechada em um mundo só seu, pois, as palavras de sua mãe não faziam efeito algum.

Então, muda o tom de voz.

-Olhe para mim! Agora!

Ao ouvir a ordem automaticamente a garota para de se balançar e vai levantando a cabeça lentamente sem dizer uma palavra, a luz do quarto estoura, um raio clareia tudo, assustada a mulher vai sentindo seu coração apertar-se e começa a ter dificuldades para respirar e não se tratava de problema de saúde.

Senta-se no chão colocando a mão no peito, mantendo os olhos fitos em Sara, em instantes seus pensamentos começam a ficar perturbados:

-Sara o que é isso! Pare agora! - Agora estava preocupada consigo mesma. Coloca as mãos na cabeça, sentia uma grande dor, travava uma luta inútil de organizar seus pensamentos.

Tudo se agrava quando Sara levanta por completo a cabeça.

Seus olhos estavam totalmente negros e suas pupilas dilatadas e seu rosto pálido, dava ênfase a suas veias, não demonstrava nenhum sentimento, não havia raiva, tristeza, nada, estava totalmente distante, mesmo vendo sua mãe naquele estado, seu rosto não esboçava nada.

Desorientada a mulher vai se arrastando desesperada para fora do quarto, grita por socorro, sabia que era inútil, afinal estavam sozinhas. Começa a delirar e a ver coisas, na realidade uma retrospectiva do momento mais traumático de sua vida, como se fosse flashes, se vê revivendo um assassinato de um homem, era mais que uma visão, foi um translado repentino, se via em um outro ambiente, estava amarrada a uma cadeira em uma cozinha, uma criança chorava em um sofá, enquanto o homem estava sendo espancado por dois homens mascarados.

O momento não havia som, apenas a voz de Sara dizendo "-Sinta o que eu sinto!" repetidamente e cada vez mais alto, até que se tornaram gritos frenéticos, a mulher grita desesperadamente começa a suplicar:

-Para, para, por favor, não faz isso com ele, PARA!

Após muito gritar, volta a si, estava no corredor, fora do quarto, estava nos braços de seu atual marido, que desesperado estava tentando contê-la, ela o abraça e continua chorando muito, estava trêmula.

-Calma Meire! Pxiii! Eu estou aqui! - Diz ele repetidamente a abraçando, logo após isso, Sara sai do quarto, sem entender o que acontecia e vai em direção aos dois.

-Mãe o que houve? Você está bem? - Diz ela se aproximando.

-Não chega perto de mim! - Depois, olha rápido e desesperada para o marido que a abraçava e continua.

-Não deixa ela se aproximar de mim Gabriel! -Estava trêmula.

-Sara vai pro teu quarto! Deixe sua mãe!

-Mas...

-Vai logo!- Interrompe Gabriel.

Sara vai para o quarto sem entender muita coisa, não se lembrava de quase nada, fecha a porta divagar olhando sua mãe indo para o quarto amparada pelo padrasto e chorando muito, e começa a arrumar a bagunça do quarto.

A tempestade ainda ameaçava, dava para ouvir os ruídos do vento na janela do quarto meia aberta.

Mais tarde alguém bate na porta do quarto:

-Entra! -Ela tira os fones de ouvido.

Era Gabriel que ainda estava com a farda do trabalho, depois de abrir a porta se dirige a escrivaninha pega a cadeira se aproxima da cama e se senta:

-Quero falar com você...

-O que aconteceu? -Interrompe - Eu não entendo! Na realidade eu não lembro de nada! Foi aquilo de novo não foi?!

-Não Sara, dessa vez foi pior! Sua mãe também não sabe explicar com clareza o que aconteceu nesse quarto, mas ela está muito mal, ela sentiu muitas dores e alucinações com a morte de seu pai.

-Mas as alucinações e loucuras não eram comigo?!

-Não sei Sara, não sei, parece que você foi capaz de transferir... Você está começando a machucar as pessoas! - Ele balança a cabeça respirando fundo.

- Eu não queria fazer ela sofrer, desculpa, desculpa. - As lágrimas lhe veem aos olhos.

-Espero que entenda... nós tomamos uma decisão... amanhã... você vai ser internada em uma clínica psiquiátrica.

-Oque? Mas eu não sou doida?! Por favor não façam isso! - Suplica, senta na cama e junta as mãos.

-Sara! Agora não se trata apenas de você, você está machucando as pessoas!

-Eu não sou doida! Eu não sou doida! - Ela se levanta da cama e sai correndo e chorando, Meire sai do quarto em que estava e a vê passar correndo em direção a escada, sabendo que poderia ser a pior reação de sua filha à notícia.

-Aonde você vai? Sara!

-Sara volte! - diz Gabriel correndo atrás dela.

Raios e relâmpagos sequenciais iluminam toda a casa, ela vê a chave da casa no balcão, pega e ao sair de casa tranca a porta pelo lado de fora, seu padrasto vem logo atrás com sua mãe e ficam impedidos:

-Sara abra a porta, destranque a porta Sara!

Ela andando de costas e chorando os viu pelo vidro da porta batendo desesperados, mas já era tarde para voltar atrás, ela se vira e parte correndo sem mesmo saber para onde ia, um raio ilumina todo o céu e a chuva cai impetuosa, ela não voltaria mais pra casa, nunca mais.

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