C24 | Pessoas incomodas

18 5 38
                                    

_______________

O seu silêncio é o meu som favorito
Veja eu fazer com que eles se curvem
Um por um, um por um

You should see me in a crown |
Billie Eilish

____________________

Nylah

A atmosfera é familiar. Sorrio para a multidão de convidados quando todos os olhares caem sobre mim. A atenção do salão é focada num único lugar e empertigo a postura. A atenção age como estimulante. Tudo bem, vou levar essa noite como sempre faço, ano após ano.

Ergo os cantos dos lábios, lentamente, e o sorriso perfeito e ensaiado desponta de forma automática. Sorrisos falsos e calculados surgem como resposta. Ótimo.

É como voltar para casa e entrar num ninho de cobras ao mesmo tempo.

_____________________
...


A mão forte e firme desce no meu ombro, vindo por trás. Paro a conversa superficial com dois sócios da rede de hotéis para erguer os olhos para Leif. Ah, um rosto bonito, que alívio. Estava quase morrendo de tédio.

Ele acena com a cabeça como cumprimento por ter voltado e entrega-me uma taça, enrolando o recipiente caro nos meus dedos como se fosse a única bebida segura da festa.

— Nada de veneno nessa. — Sussurra no pé do ouvido. Solto uma risadinha verdadeira pela atitude e toda a atmosfera ruim que impregnou nos meus ossos durante o começo da noite vai embora num instante.

— Ninguém, além de você aqui, teria motivos para me envenenar, anjinho. — Sussurro a mentira de volta. Na verdade, eu apenas quero acreditar que ninguém aqui tem um motivo bom o suficiente.

— Nunca se sabe. — Dá de ombros. As íris douradas focam nos dois sócios em uma jura de morte silenciosa. Pressentindo o perigo, eles logo dão uma desculpa para afastar-se.

— Assustou eles. — Levanto a sobrancelha, divertida.

— De nada. — Leif sorri com ironia e não resisto em acompanhar.

Talvez eu esteja começando a depender demais dele para me sentir bem. Normalmente essas festas são desagradáveis e monótonas. Mas com ele está menos pior. É tão perigoso fazer isso, depender de alguém, mas é tão confortável que continuo a fazê-lo, incapaz de afastar Leif de mim. Quero as respostas que me fazem sorrir. Quero a mão dele no meu ombro, dando apoio, pelo resto do tempo que tenho.

De repente o dourado sólido esfria, transformando-se em ameaça pura. Surpresa, viro a cabeça para onde os olhos de Leif apontam, curiosa sobre o que incomodou tanto o meu assassino. O dono da sua raiva esbanja dinheiro num traje verde floresta caríssimo. Malcolm Vernieri mantém as mãos no bolso de forma relaxada enquanto conversa com Janessa.

O dono da boate sorri, pensando que está cortejando a ruiva a sua frente, quando, na verdade, está cortejando a morte pelas mãos de outro Bradford. Esse, que começou a trincar os dentes em sua direção.

— O que aquele canalha está fazendo aqui!? — Cospe, cada sílaba impregnada de raiva. Tenho que juntar os lábios com força para não dar risada da reação.

Acima do VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora