C14 | Bolo de Chocolate

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Você parece trocar
Seu cérebro com seu coração
Você leva as coisas na ofensiva
E então desmorona

Cry baby | Melanie Martinez

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Leif

— Acabou muito rápido, Nylah. Eu queria aproveitar um pouco mais a vista. — Malcolm brota do chão ao nosso lado. Ou talvez só estivéssemos concentrados demais para notá-lo. A postura arrogante é o suficiente para escoar todo meu bom humor momentâneo. Ele coloca as mãos nos bolsos, sorrindo. — Venha. Vou te dar toda a informação sobre Janessa que precisa.

Nylah sequer lhe olha, as íris azuis ainda concentradas nas minhas. Aumento o aperto no quadril volumoso, algo no meu interior ronronando por ter a completa atenção dela no lugar de Malcolm. No fim, abre aquele sorriso quente e perigoso como o inferno, respondendo-o:

Diga aqui mesmo.

— Tem ouvidos por todos os lados, querida. Precisamos de um lugar reservado. — Inclina a cabeça, suspirando, cada uma das sílabas irradiando o tom de alguém que fala calmamente com uma criança. — Estarei lá em cima.

Cretino, — Seu sorriso vacila ao assistir Malcolm sair sem esperar resposta. — nem sequer me deu opção de refutar. — Nylah revira os olhos e sinto a falta do volume sob os dedos quando remove minha mão do seu quadril. — Volto logo, anjinho.

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A pancada leva o saco de areia a recuar, no entanto, as grossas correntes, uma superior e outra inferior, firmemente presas no couro expeço, mantém o impacto no mínimo. Suor escorre por cada célula dos meus músculos, esquentando. A queimação prazerosa preenche-me. Acerto outro golpe e passo as costas da mão pela testa. Foi bom ter achado esse lugar. Estou ficando sedentário.

Explorando esta mansão enorme, morto de tédio desde cedo, deparei-me com a porta de vidro espelhado. Agora estou aqui. Viro a cabeça de um lado à outro ainda admirado. Era a porra de uma academia profissional inteira dentro de casa. Ela é mesmo uma burguesinha.

Uso boa parte da manhã. Usufruindo dos equipamentos caros, libero a raiva na forma de suor e músculos doloridos. O que Nylah e Malcolm conversaram depois da dança? Ela ficou estranhamente quieta no caminho de volta para casa. No retorno, dirigi ao lado de uma fantasma pensativa. O cotovelo apoiado na porta. A cabeça ao longe. Talvez somente estivesse focada demais nos prédios passando pelo lado de fora da janela, porém, mesmo assim, era estranho.

Como que invocada pelo pensamento, avisto a imagem do corpo esbelto pela janela envidraçada da academia. Apresso-me para destravar a tranca. O ar condicionado mantém a academia fresca, então não tem nenhuma necessidade de abrir a janela, no entanto, o ar do lado de fora parece mil vezes mais fresco ao ouvir o som dela cortando a água à nado.

Hoje é um maiô vermelho sangue. Assisto quando realiza uma cambalhota submersa, as pernas nuas flexionando, os pés dando impulso na parede da borda para que atravesse a piscina novamente. Natação, outra coisa na qual parece excepcional. Não é possível. Deve ter alguma coisa que ela não consiga fazer além de atirar na testa de alguém.

Com os braços cruzados fito seus movimentos, convencendo a mente à procurar pontos fracos, em busca de distrair os pensamentos soltos. Em determinado momento agarro dois pesos, levantando, descendo e levantando, enquanto Nylah finaliza a última volta. Ela apoia ambas as mãos na borda, erguendo o corpo com a força dos braços e senta na beirada. Os pés balançam na água. Respira tão fundo que consigo ver daqui. Nylah leva os dedos à direita da base do estômago, abaixo do seio, o local coberto pelo tecido do maiô. Passeia os dedos, traçando devagar a extensão de pele escondida pelo traje de banho, como se estivesse com dor. Parece perdida.

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