◊ Capítulo 8 ◊

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Em outra realidade, Cindy saberia sobre a chegada de Edgar. Na verdade, em outra realidade, teria sido ideia dela! Em outra realidade, teria sorrido, tal como as mulheres elegantes nas pinturas. Em outra realidade, haveria recebido o cunhado com um cumprimento requintado. No entanto, realidade só existia aquela, onde Cindy abria a boca, desajeitada. Aquela, onde seus olhos encaravam vítreos o príncipe. Aquela, onde, em seguida, ele abria sua própria boca para dizer:

— Admito que estou surpreso. — Mesmo que todos ali soubessem que, na verdade, ele não estava surpreso coisa alguma.

Então Eudora gaguejava, embasbacada como um peixe fora d'água:

— E-Edgar.

— Fiquei curioso, — ele acrescentou, como se ela nunca houvesse se pronunciado: — muito curioso, quando você decidiu bater asas novamente tão de supetão.

Sua voz era gélida, tirando sarro delas sem nem ao menos olhá-las, arranhando seus corações com ameaças nem ao menos ditas. Vê-lo ali, de botas altas, gibão e boa postura, um verdadeiro cavalheiro, era estranho e quase sobrenatural, considerando a paisagem. Mas o príncipe não pareceu incomodado. Não, sua única preocupação era a irmã.

— Esperava... — Ele fez um estalo com a língua que soou mais alto devido ao silêncio. — Bom, não sei ao certo o que eu esperava, mas não isso.

Eudora se encolheu como fez um dia, há tanto tempo. Um dia que Elise dissera: "Como vou olhá-la sem lembrar... disso?", apontando para ela. Como se Eudora fosse o problema.

No entanto, quando encarou seu irmão, o que encontrava ali era apenas raiva. Não havia nenhum nojo, nenhum desgosto em suas atitudes. O Edgar na sua frente era feito apenas uma porção de raiva, três colheres de frustração e uma gota de um sentimento secreto.

— O que estava pensando?! — ele disse, tão abruptamente interrompendo seus pensamentos. — Se encontrando com uma criada publicamente dessa maneira? Está a procura da total humilhação pública? Pois alguém iria descobrir, Dora. E logo seu nome estaria em todos os jornais. Sinceramente não sei como uma de suas criadas ainda não a delatou.

— Pare! — bradou Eudora. — Você não conhece minhas criadas, e nem a mim! Não tem uma conversa digna comigo há anos e depois acredita que tem o direito de censurar minhas atitudes? Tarish já perdeu as contas de quantas criadas você já se envolveu, por que comigo é diferente?

O príncipe soltou um riso seco e sem vida, como o galho que ele há pouco pisoteara.

— Eu posso lhe garantir, querida irmã, que todos os meus casos aconteceram na privacidade da minha casa e do meu quarto. E conhecendo ou não suas criadas, sei muito bem que qualquer pessoa pode ser barganhada. Agora faça-me um favor e vamos embora.

— Embora? Não irei a lugar nenhum com você. Sou uma mulher crescida e não preciso ou muito menos quero sua supervisão.

— Bom, pois você ainda vive com os recursos de nosso pai, recursos esses que eu supervisiono, então iremos para Soleil's Maison até resolvermos essa questão — Lancou um olhar longo, de congelar os ossos, na direção de Cindy. — E depois voltaremos para Olyn.

Eudora estava pronta para continuar a discutir, mas sabia que nada adiantaria. Seu irmão era quase tão teimoso quanto ela, o bate-boca não passava de um enorme desperdício de tempo. Então olhou para sua chérie.

E Cindy pensou, então, que Eudora cumpriu sua promessa. Como dissera, não temia seu irmão ou seu colocamento ao respeito do relacionamento delas. Não, o que ela temia era a distância entre suas classes sociais, ser proibida de vê-la pelo risco que corria a sua imagem.

Cindy e Ela [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora