— A senhorita faz isso com frequência? — questionou Cindy.
A mulher a guiou pelo caminho iluminado por lamparinas. O vidro dos objetos mudavam de laranja para azul e de azul para laranja de novo; a luz bicolor batia nas finas folhas das árvores, como se representassem a mudança de estação acontecendo naquele momento. O canto dos insetos se misturava com o som dos lentos passos delas e a lua brilhava acima, uma expectadora silenciosa.
— O quê, exatamente? — perguntou Tarish. Cindy decidiu que, se não pudesse saber o nome dela, a chamaria pela fantasia.
— Sequestrar moças que você desconhece encantando-as com jardins bonitos?
A desconhecida soltou um risinho.
— Apenas quando as damas em questão me parecem interessantes. Qual a sua favorita?
Ela estava se referindo às flores, plantadas nas bordas do caminho de cascalho. Alguém desastrado poderia facilmente pisoteá-las, mas elas seguiam intactas, indicando o caminho com suas cores.
Cindy fez um gesto com o queixo — não muito refinado — em direção à flor que sua acompanhante segurava: um lírio.
— Os brancos, em especial — acrescentou.
Tarish sorriu.
— As minhas também. Os rosas. São o símbolo da minha família.
— Verdade? E tem uma família grande?
Ela negou com a cabeça. Um movimento tão suave que fez Cindy se sentir uma elefanta deselegante perto dela.
— Minha família é pequena.
— Por isso estava sem companhia? — perguntou Cindy.
Tarish fitou-a por um momento, seus passos tão preguiçosos que poderiam ter parado bem ali, e depois sorriu, sem mostrar os dentes.
— Responda você primeiro.
Cindy pensou com cuidado. Se fosse uma rica, com sua arrogância e sua liberdade, por que sua família não a acompanharia?
— Eu sou apenas uma acompanhante de uma amiga — falou, optando por algo perto da verdade. — Minha família não foi convidada, mas minha amiga logo se entreteu e eu não quis atrapalhar enquanto ela dançava.
A companheira de Cindy a olhou com uma delicadeza quase sensível e depois perguntou:
— Você gostaria de dançar?
Cindy se sobressaltou com a ideia.
— Com você?
A desconhecida sorriu.
— Sim, comigo. Ou aqui em Azaleia duas garotas não dançam juntas?
Cindy foi sincera:
— Nunca vi acontecer.
— Pois verá agora, chérie.
Chérie, a palavra foi filtrada por Cindy enquanto a dama puxava-a por um caminho alternativo, onde as flores no chão mudavam de rosa para branco. Significava querida ou especial, na língua estrangeira da nobreza. Quando Cindy estava no salão, antes de sentir subitamente que aquele não era seu lugar e que não havia nada para ela ali, ela vira muitas pessoas conversando naquela língua nova e curiosa e linda.
Nova, curiosa e linda. Sim, era assim que a palavra soava na voz de sua dama.
De repente, as árvores abriram caminho e sumiram. Era como uma clareira circular, mas o chão era formado por grandes pedras e à frente via-se três bifurcações. Caminhos diferentes para diferentes partes da enorme propriedade que era o palácio. E ao lado das passagens, rodeada por pequenas flores como o astro principal, havia uma magnólia. Não era muito alta e ao seu redor, cobrindo a grama baixa, havia suas grandes folhas caídas. Era possível ver a transição da árvore, do sutil florescer do inverno para a exuberância da primavera, com suas flores rosadas.
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Cindy e Ela [CONCLUÍDO]
RomanceCindy, uma jovem órfã, sabia que estava presa ao destino de criada para sempre. Trabalhava para a vaidosa e detestável Sra. Tremblay, viscondessa de um lugar chamado Colterre, onde estava a única família que ela conhecia, seu irmão e seus tios. ...