◊ Capítulo 7 ◊

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     Convencer seu pai e fugir das suspeitas de Edgar foi a parte mais difícil.

— Colterre?

Ela sugeriu a ideia ainda naquela manhã, durante o café, fingindo estar apenas levemente interessada na sugestão.

— Quero viajar — disse, fazendo uma pausa dramática ao mastigar um pedaço de cornati luxe tar. Uma torta de limão com gosto nostálgico. — Colterre foi só uma indicação dos convidados. Ouvi falar que a terra é bonita, repleta de plantações extensas.

Esperou seu pai terminar de mastigar um pão com geleia, pensativo.

— Eu não sei, Dora. Temos uma propriedade lá, sim, mas não gostaria que ficasse desacompanhada.

— Farei amigos, papai. Acredite.

Não era algo tão incomum. Antes Eudora sempre vagava de uma casa para a outra, com grupos de pessoas ostentosas, aproveitando os dias com festas, danças, bebidas e, de vez em quando, com pessoas de fora que vinham para... Bom, fazer coisas.

No entanto, após perder contato com essas pessoas quando mudara para Olyn, percebeu que, quando essas festas acabavam, seus amigos voltavam para o conforto de seus lares; e Eudora voltava para uma relação distante com o pai e a implicância fria com o irmão.

Foi quando começara seu isolamento no palácio. Devido às obras em Olyn, a visita de tais "amigos" era rara e, depois da visível hostilidade de Eudora, se tornaram inexistentes. Seu pai implorou que ela aceitasse um dos convites para passar em Colterre ou Cynnea o período das reformas; para fazer novas amizades e voltar a disposição de antes. Mas Eudora negou e fugiu em todas elas. Se trancava na biblioteca ou em qualquer lugar que oferecia distância de seu piano (e as memórias que ele trazia), depois bordava, começando uma coleção de projetos inacabados e cartas não lidas e não correspondidas. E se estivesse se sentindo realmente indisposta, dormia o dia inteiro, com exceção a caminhadas no jardim, convencida a fazer por Mille.

Aos poucos, as coisas melhoraram. Seu pai a visitava com a frequência que fosse possível, Mille esforçava-se constantemente para fazê-la sorrir e Edgar... Se tornou mais empático, no entanto, ainda não muito gentil.

Logo, quando ele disse:

— Você não sai desse palácio nem para fazer compras como uma mulher comum, por que gostaria de ir para Colterre?

Eudora estava pronta.

    Estava quase certa que a volta de seu costume "ser itinerante" incomodava seu irmão (por quê? Só Frestilis sabia), e isso somado a sua enxaqueca devida ao vinho excessivo, tornava Edgar mais hostil, quase de forma inconsciente. Como uma mulher durante seu período, assim ela acreditava. No entanto, passava da hora de Edgar saber controlar seus humores e suas falas que desvalorizavam as mulheres, detalhe adicionado para irritá-la.

   Portanto, Eudora dissera:

— Porque estou à procura de alguém que não pense que fazer compras é objetivo de vida das mulheres.

    Ele mordeu os cantos da boca, parecendo realmente zangado.

— E você tem um, Eudora? — perguntara, fazendo-a sentir que a questão era muito mais profunda que estresse ressaquiano.

    Quando passou aquele ano todo parecendo um fantasma, ela tinha um objetivo de vida? E quando parou de responder qualquer correspondência que recebia? Quando passou a ignorar sua própria existência? Ela também possuía um objetivo nessas partes de sua vida?

   Não, certamente não. Mas não era justo Edgar fazer uma pergunta como aquela. Ele mesmo já havia feito coisas ruins demais com a própria vida.

    Ela dissera:

Cindy e Ela [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora