Hurt

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Jeongyeon P. O. V

Mais um soco em meu rosto me fazendo dar dois passos para trás

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Mais um soco em meu rosto me fazendo dar dois passos para trás. Mãos firmes seguram meus braços com força, enquanto sinto mais um chute em minhas costelas, sinto uma dor aguda e o gosto de sangue se intensificando em minha boca a cada pancada. Todo o meu corpo está machucado. Ergo a cabeça e vejo um sorriso cínico antes do golpe final, um chute entre minhas pernas com força excessiva. Um grito alto sai em minha garganta e então o aperto em meus braços se afrouxam permitindo-me finalmente cair de joelhos apertando o local onde o chute me atingiu, somente mais uma das muitas dores espalhadas em meu corpo.

Me encolhi no chão, lágrimas banham sem controle meu rosto e meu peito se dilacera por estar nessa situação sem motivo real. Por apanhar apenas por ser "diferente". O pior é que não é a primeira vez e nem será a última.

Muitos alunos estão ao meu redor, alguns riem por eu estar ensanguentada no chão da quadra, outros me olham com pena, mais não se movem para me ajudar, apenas assistem meu sofrimento de camarote sem dar uma ajuda sequer.

A diferença é algo essencial entre nós. E o que nos distingui entre os outros, mas não é aceitável. O ser humano em grande parte infelizmente não aceita o diferente. Repudiam, humilham, maltratam, machucam de tantas formas por simplesmente ser diferente. E isso é horrível. O preconceito de qualquer gênero é horrível e deixa marcas muitas vezes profundas e irreparáveis em quem sofre por ser diferente. Eu sei disso por sofrer na pele o preconceito e crueldade da sociedade. E as feridas já deixadas em mim são cada vez mais profundas e mais agravadas ainda por sofrer não somente da sociedade em si mas dentro da minha própria casa. Daqueles que deveriam me amar e apoiar acima de qualquer coisa.

- Ei aberração, você é um nojo, um monstro que nem deveria existir, ou então estar em um circo como atração especial.

- Chega, Beomgyu. Não está vendo o estado dela. - Ouço uma voz ao fundo e reconheço sendo Dahyun. Tinha à visto assistindo minha tortura.

Beomgyu, depois de me espancar covardemente com a ajuda de seus amiguinhos sai, e os outros alunos também começam a sair enquanto continuo sangrando e gemendo de dor encolhida no chão. Já apanhei várias vezes do Beomgyu e sua turma, além de outros alunos também, mas dessa vez eles realmente pegaram pesado.

Não consigo me mexer pois a dor é muito intensa. Tento não chorar porque isso aumenta ainda mais a dor mais é quase impossível. Então continuo do mesmo jeito sentindo cada vez mais o sangue escorrer em minha boca e meu corpo.

Sinto alguém se aproximando.

Eram Dahyun e Momo. Elas costumavam ser minhas melhores amigas desde que me mudei para cá à seis anos, isso até descobrir que eu era intersexual.

No dia em que resolvi confiar em nossa amizade e me abrir contando meu maior segredo elas me vivaram as costas. Se afastaram de mim como se eu tivesse alguma doença contagiosa ou fosse um monstro repugnante. Doeu muito o olhar delas depois de saberem da minha condição, e cada vez que me ignoravam na escola era como se uma faca fosse cravada em meu peito.

Elas acabaram contando para uma amiga delas sobre minha condição, o que resultou na escola inteira sabendo, e minha vida virando um verdadeiro inferno. Elas viam tudo o que faziam comigo. Cada humilhação. Cada xingamento. Cada surra, mas nada faziam. Somente viravam o rosto ou saíam.

Sempre fui sozinha por conta da minha condição. Mesmo dentro de casa. Meu pai não olha em minha cara desde que me lembro. Minha mãe e minha irmã até tentam me " aceitar" como sou mas sempre que temos que nos mudar por conta do Bullying que sofro, elas me julgam também. Meu pai até tentou me operar pra eu ser "normal", só que uma complicação na cirurgia quase me matou e não puderam concluir, o que só resultou em um bom tempo internada e uma enorme cicatriz. Como se já não fosse difícil minha situação.

Nunca namorei, nem sequer um beijo, pois ninguém vai querer uma aberração assim. Eu até me conformei em morrer virgem e solitária. Esse é meu destino e só me resta aceitar.

Tento pensar em monólogos sobre minha triste vida para não me concentrar nas dores e esperar até poder me mexer e ir embora, mas dessa vez acho que não vou conseguir, preciso de um médico. Sinto uma mão tocar de leve no meu ombro, abro o olho e vejo Momo de joelhos em minha frente e com a mão na boca e lágrimas nos olhos. Logo atrás dela em pé está Dahyun com a expressão não muito diferente da Momo. Penso que para elas estarem ali chorando por mim então, eu devo estar pior do que imagino.

Tento me mexer novamente mas tudo que consigo e gritar com a dor intensa rasgando minha costela e todo meu corpo. Então de repente a dor vai amenizando e meus olhos pesando. Meus músculos vão relaxando e minha respiração e meu coração se acalmando. Tudo que ouço são vozes baixas e distantes.

- Jeongyeon...Jeongyeon...por favor, fala comigo. - Momo fala hesitando em me tocar.

Tento falar, mas sei que se o fizer vai doer, mas não tenho escolha preciso de ajuda. Com um esforço absurdo eu consigo sussurrar alguma coisa.

- Po-por f-favor me a-juda.

Minha cabeça está latejando e sei que levei muita pancada nela. Minhas costelas estão queimado, meu rosto inteiro dói e mal consigo abrir meu olho.

Momo analisa meu estado com olhos arregalados e marejados.. Posso ver que está tremendo e Dahyun se ajoelha ao seu lado também me olhando em pânico pegando o celular na bolsa. Então meus olhos se fecham, já não tenho força para deixá-los abertos. Só consigo ouvir vozes tão baixas como sussurros longinquos.

- Meu Deus, Dahyun. Chama a ambulância, a Jeongyeon está muito mal. Eles não podiam fazer isso com ela. A gente não podia permitir isso.

- É tudo nossa culpa, Momo. É nossa culpa.

Não aguento mais viver assim. Não é justo viver assim. Não quero mais isso, não suporto mais tantas dores físicas e emocionais. Tudo que quero é que esse sofrimento acabe e eu não exista mais, quem sabe não seria melhor para todos se eu morresse.

E com uma dor aguda em minha cabeça, tudo fica em silêncio. Me vejo envolta em uma escuridão profunda e mergulho em um vazio torturante.

Se Eu Não Tivesse Você | JeongHyo G!POnde histórias criam vida. Descubra agora