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Maya Fiore
2 dezembro 2022
Los Angeles

- Você só pode estar zoando com a minha cara. - Disse assim que ouvi as palavras saindo da boca de Gabriela.

- Não, não estou, pode ver em qualquer site. - Ela disse e me jogou meu celular, eu confirmei, era real.

Meu pior pesadelo havia se tornado realidade.

- Bruna Marquezine tá vindo forte pro mercado internacional, eu sei que isso era o que você menos queria ouvir, mas é a verdade.

Bruna estava mesmo vindo pra cá. Bruna Marquezine estava em um filme da DC. Bruna Marquezine e eu vamos morar na mesma cidade.

- Se acalma, ok? - Gabi disse se sentando ao meu lado e fazendo cafuné em meus cabelos. - Você está super bem no mercado, estão amando sua personagem e atuação na série. - Ela estava deitada no colo dela prestes a chorar.

- Mas isso enquanto ela não está aqui. - Disse baixinho e Gabi sabia que não seria uma luta com chance de vencer, minha insegurança em relação a Marquezine parecia nunca ser superada. Eu estava chorando, eu literalmente estava chorando apenas por ouvir o nome dela.

Eu sentia as mãos de Gabi percorrerem meus cabelos. Meu corpo tremia. A porta foi aberta e meu olhar nem se deu o trabalho de olhar quem havia chego.

- O que aconteceu, Meu amor? - Era minha mãe, ela olhou para minha amiga e parecia ocorrer uma conversa entre olhares. - Venha cá, vai ficar tudo bem. - Ela disse se sentando ao meu lado. Eu fiquei sendo consolada pelo fato de Marquezine vir para cá. Enquanto isso ela nem deve ligar pra mim.

Gabi havia ido embora, eu já estava a quase duas horas apenas quieta e recebendo apoio.

- Mãe. - Disse com a voz baixa e ela me olhou. - Eu não quero que tudo volte. - Disse e meus cabelos foram colocados para atrás de minhas orelhas. - Eu não quero sentir tudo aquilo.

- Eu vou cuidar de você e você também vai cuidar de você. - Ela depositou um beijo em minha testa.

- Será que já saiu alguma matéria sobre? - Disse pegando meu celular, porém minha mãe retirou ele de minhas mãos.

- Sem olhar nada, vamos focar aqui, ok? - Ela disse e se levantou, levando meu celular. - Vou fazer algo pra comer. - Ela levou meu celular e começou a mexer na cozinha, eu continuei deitada e pensando no passado.

Se você se questiona qual o problema de ver a mídia? Eu te respondo com uma pergunta, a mídia é saudável?

Comparações são as pautas que mais gostam de relacionar meu nome e o de Marquezine, sempre foi assim. Sempre Marquezine era a garota certa, sem muitas tatuagens, relacionamentos hetéros, religiosa, que não vai a festas e quase não é vista por aí. Enquanto eu sou colocada como seu oposto, tatuada, fumante, lésbica, nada religiosa, sempre vista em festas e por aí vai. Como algumas vezes já disseram o Brasil tem dois novos talentos, um deles é uma deusa e a outra uma diaba.

E, claro, eu era a diaba.

Eu cresci com isso, Marquezine era mais velha, fazia coisas para sua idade, enquanto isso eu recebia comparações. Falavam sobre meu corpo em relação ao dela, sobre como ela já namorava e eu não, assim começando uma discussão nacional sobre minha sexualidade, já que eu andava com roupas pouco apresentáveis, como diziam. Eu tinha apenas quinze anos.

Marquezine nunca fez nada para me ajudar. Eu já cheguei a pedir sua ajuda, uma única vez, mas sua resposta deixou uma cicatriz grande. Ela parecia não se importar, óbvio, ela era adorada por todas as pessoas do país. Me lembro daquele dia, consigo até mesmo me lembrar do calor que fazia no Rio de Janeiro, na época eu estava passando alguns dias na cidade.

Eu não podia andar na rua direito.

Eu tive que me retirar de um restaurante, pois eu incomodava alguns clientes.

O motivo? Eu havia me assumido publicamente.

A mídia não me deu um segundo de paz no ano de 2016, eu tinha acabado de completar dezenove e já tinha que lidar com tudo isso. Eu não podia ter amigas, pois seriam supostas namoradas e nem amigos, pois eu teria virado hétero e apenas tinha tentado chamar atenção. Eu tive que ficar sozinha na maioria do tempo, não queriam me contratar, pois eu não traria audiência.

Eu lembro como eu suava, não sei se era nervosismo, ou o calor, ou a mistura de ambos. Lembro de ter pedido ajuda de um produtor da Globo, ele me levou até o apartamento de Bruna, ela me fez subir, eu me sentei em seu sofá, eu senti o frescor de sua casa. Eu senti a paz que sua vida era.

- Eu sei o motivo de você ter vindo. - Ela disse séria e eu sorri, achei que isso fosse bom. - Não posso fazer nada, você quem tem que resolver essa situação.

Meus ombros pesaram. Eu achei que algo daria certo, mas falhou miseravelmente.

- Desculpa ter tomado seu tempo. - Disse de cabeça baixa.

- Se você tentar ser mais discreta, fazer menos polêmica, talvez ajude. - Ela disse como se tivesse falado o conselho do ano, eu ri ironicamente.

- Você quem tá escrevendo pra todos os portais? - Disse parada entre ela e a porta. - Achei que tivesse uma personalidade melhor, não julgasse pelo o que mostram. - Disse e podia sentir a raiva rasgando minha garganta. - Ah é, como pude esquecer? Você é perfeita, você é exatamente igual esse lixo de mídia, você é a garotinha deles.

- Você não sabe nada de mim. - Marquezine disse com um tom forte.

- E muito menos você de mim. - Disse devolvendo. - Passar bem, Marquezine. 

Competição - Bruna MarquezineOnde histórias criam vida. Descubra agora