✩‧₊ cinco.

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Estela

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Estela.

— Nós chegamos.

O anúncio de Henrique não passa de um comentário pontual, certamente porque tem a intenção de me despertar. Suficientemente sonolenta, corrijo minha postura, embora seja inútil tentar disfarçar que eu dormi por boa parte do voo. Henrique mantém o mesmo sorriso pacífico que sustentou por todo o final de semana. A essa altura, estou convencida de que ele não estava sendo cem por cento sincero quando sorria para mim — assim como não está sendo agora.

— Eu devo ser a pior companhia de voo de todas. — Resmungo. Henrique trata a situação com indiferença quando ri.

— Não, eu não me importo.

— É, depois de ter passado um final de semana inteiro comigo, você deve estar dando graças a Deus.

Observo a janela, me atento ao movimento do avião. Nós acabamos de aterrizar. O jatinho ainda corre pela pista, à procura de um lugar para que possamos desembarcar. Então minha intenção se desprende até o céu de Goiânia. O tom cinzento me dá a ideia de que está prestes a chover. Eu não gosto de chuva.

— Por que você acha que esse final de semana não foi bom para mim? — Henrique levanta o questionamento com dúvida. Meus olhos correm a ele, trajando curiosidade. Talvez minha curiosidade seja tão latente que ele se motiva a encolher os ombros ao dizer: — É uma pergunta sincera.

— Bom, considerando que você se meteu em uma viagem com um bando de desconhecidos, teve que se meter a dividir a cama com uma menina apaixonada por você desde que tinha quinze anos-

— Por favor, Estela. — Henrique me interrompe.

— O que é? Se você me disser que não se sentiu desconfortável em momento nenhum dessa viagem, eu vou saber que você está mentindo.

Ele me observa com descrença. Eu rio, para demonstrar minha indiferença. Ainda que essa viagem não tenha sido confortável para ele, para mim, pessoalmente, foi um ótimo momento.

— Olha, eu até me senti, mas eu acho que dá para associar bem mais ao seu... — Há uma interrupção. Henrique parece querer fugir do assunto, mas de alguma maneira se convence, com a expectativa explícita no meu olhar, de que talvez não seja a melhor alternativa. Ele suspira e se encorajar a dizer: — Seu ex-namorado.

De repente, me ocorre: a maneira como Gustavo se portou não foi um incômodo somente a mim — e eu ainda não tinha me perguntado em como Henrique se sentia em meio aquela situação.

— Eu sinto muito por isso, Henrique. De verdade.

Meu sorriso é solidário. Henrique então nega, como se aquela não fosse sua intenção. Eu não compreendo o gesto, à primeira vista, mas ele não deixa se explicar:

— Eu quem deveria te dizer isso.

— Em que sentido? — Indago, incerta. Henrique ajeita a postura, corre os olhos para fora, e então me diz:

Imprevisivelmente, seu | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora