Estela.
— Você tem certeza de que quer fazer isso?
A pergunta de Igor ecoa pelos alto-falantes do aparelho, inundando meus ouvidos. A contragosto, bufo. Ele sabe a resposta, mas quer ouvir de mim de novo.
— Certeza eu não tenho, Igor, mas, de verdade, o que é que eu poderia fazer a essa altura?
Meu amigo não parece receber bem a ideia, o que não é exatamente uma surpresa. Quando comecei a chamada, desesperadamente à procura de qualquer resquício de conforto e qualquer palavra mínima de incentivo, ouvi Igor me dizer que eu estava completamente maluca. O pigarreio que me detém a atenção é como um lembrete que diz: "você deveria ter me escutado".
— Desistir é sempre uma opção. — Sua voz é sugestiva, e igualmente tediosa.
— Ele vem me buscar em vinte minutos. — Me forço a lembrá-lo. Ele pigarreia outra vez. — Mesmo se eu quisesse desistir, se eu fizesse isso a essa altura, eu estaria sendo uma filha da puta com ele.
— Ah, porque o pedido que ele tem fez é completamente normal. — Igor acusa, a voz carregada de rancor. — Maluco é ele de te pedir uma coisa dessas e, você, maluca de aceitar.
Se eu fosse ser sensata, daria razão a ele. É claro que sei que estou prestes a me meter em uma insanidade incabível. A ideia de passar seis meses presa a Henrique, por um contrato, não me dá nenhum indício de que as coisas possam, porventura, acabar bem. Mas, eu já me comprometi com a ideia, e eu não sou o tipo de pessoa de voltar atrás na minha palavra — e Igor certamente sabe disso.
— Você aceitou a chamada pra me dizer que eu sou maluca?
— Aceitei a chamada porque eu esperava que você estivesse me ligando para ser razoável e dizer que desistiu. — Igor certamente compreende a ideia quando me alerta: — Isso não vai acabar bem, Tete. Eu já te disse.
Ignorando seu comentário pontual, me coloco na ponta dos pés e giro o corpo parcialmente. Meu reflexo está despontando no espelho. Para almoçar com meu futuro falso namorado, conforme o briefing que ele me passou pela manhã, escolhi algo que fosse descontraído o suficiente para que não soasse como um primeiro encontro, mas que refletisse certa intimidade na relação inexistente.
Estou usando uma calça jeans de lavagem escura, uma regata preta e uma camisa branca como terceira peça. Nos pés, calço um tênis esportivo, e o cabelo preso para trás dá destaque para os acessórios dourados. Minha cunhada, para quem eu mandei mensagem antes de ligar para Igor, me garantiu que estava dentro do que ele me disse.
— Eu não quero saber se você acha que vai acabar bem, eu te liguei porque eu estou desesperada e você é a única pessoa com quem eu posso falar sobre isso.
— Se você quer um conselho: volte atrás enquanto você ainda pode. — Ignorando meu pedido, Igor retoma o assunto.
Eu estico a perna, medindo meu reflexo, mas pouco me atento a chamada. O celular está sobre a cama, e o viva-voz está ativado.
— Por que você é teimosa desse jeito, hein Estela? — Ele me questiona, frustrado. Não posso conter a risada, mas alego a ele:
— Você fala de mim como se você não fosse pior do que eu. Nós dois somos ridículos, Igor. Se enxerga.
— Bom, a diferença é que eu sofro por uma coisa real, já você...
Ele não completa a frase e eu me sinto agradecida. Sei que, a partir do momento em que escolhi compartilhar essa ideia, eu estava sujeita a qualquer tipo de julgamento, mas eu não preciso de um lembrete constante de que Henrique jamais sentiria alguma coisa por mim. Não romanticamente.
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Imprevisivelmente, seu | Ricelly Henrique
RomansaTudo começa de maneira casual: uma brincadeira descontraída e despretensiosa para ambos. Estela não tem a intenção de levar a menção de Henrique a sério, apesar do nível de seriedade dele, mas quando a situação se torna mais complexa e dramática do...