Estela.
Ao trancar a porta, o único pensamento que me ocorre, intensivamente é: que Henrique não seja capaz de me ouvir. Ele parecia suficientemente entretido com a vista da varanda no momento em que deixei o quarto, alegando que precisava ir ao banheiro rapidinho, mas considerando o pouco espaço do quarto, eu não me sentiria surpresa se, ao sair, ele pudesse me escutar e, mais do que isso, se encontre perplexo por algo do qual eu possa a vir dizer. Essa é a típica situação de emergência e, para evitar futuros constrangimentos, eu preciso de apoio moral para me certificar de que tudo vai dar certo — embora eu não compartilhe dessa certeza, e eu saiba que nada do que Igor tiver para me oferecer será reconfortante.
A terrível verdade é que, apesar de todo o meu empenho para manter a compostura na frente de Henrique e ser madura ao ponto de dizer que eu não faço questão de dividir a cama, na verdade, eu faço, sim. E, nesse momento, tudo isso é despejado em cima de mim, como se o meu subconsciente, que até o momento fazia muita questão de não palpitar sobre as minhas decisões, tivesse acabado de se dar conta do que significa tudo isso e onde nós estamos prestes a chegar. Sim, eu estou prestes a dormir na mesma cama que o meu crush de adolescência, mas não, isso não me consola — porque eu tenho a certeza de que estou sendo consideravelmente invasiva, e talvez seja tarde demais para voltar atrás.
Procuro na minha lista de contatos o nome do meu melhor amigo com certa apreensão. Não imagino onde Igor esteja, não imagino se ele vai estar desocupado o suficiente para poder me atender ou não, mas, seja como for, é mais do que apenas a vontade de falar com ele nesse momento; é a necessidade de despejar todos esses dilemas sob alguém que vai fazer questão de me escutar.
Assim que o toque da chamada se inicia, tenho a ideia de abrir o chuveiro para camuflar o possível tom da minha voz. E então, aos poucos, escorrego o corpo contra a parede, abraçando minhas pernas, até que eu esteja acomodada sobre o chão. É quando escuto da voz de Igor se projetar do outro lado da linha:
— Vem cá, você não devia estar indo pra Alagoas agora mesmo, não criatura? — Ele sugere. — Tá me ligando por quê? Perdeu o voo e tá achando que eu sou capaz de dar um jeito? Eu ainda não sou proprietário de companhia área, Tete.
— Eu tô em Alagoas, jumento! — Resmungo, permitindo que cada resquício de aflição fique visível. Do outro lado da linha, Igor murmura algo inaudível, mas eu não me empenho para decifrar do que se trata, porque certamente não é nada de positivo. Então, em um choramingo profundo, compartilho: — Igor, eu fiz merda.
— Qual a novidade nisso? Você tá sempre fazendo merda.
— Não, dessa vez eu realmente fiz merda. — Enfatizo. Posso imaginar as reações dele do outro lado da linha, sem fazer questão de me questionar sobre, porque seu semblante certamente se encarrega de fazer isso por ele — com as sobrancelhas arqueadas e um ar de descrença. E então, com esse pensamento, dou continuidade: — Talvez eu tenha dito pro Henrique que tava tudo bem dividir o quarto e a cama com ele, mas agora eu caí na real, e não tem como voltar atrás, porque a gente já tá acomodado no quarto e eu vou parecer ainda mais idiota do que eu já sou! E eu não sei o que fazer!
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Imprevisivelmente, seu | Ricelly Henrique
Roman d'amourTudo começa de maneira casual: uma brincadeira descontraída e despretensiosa para ambos. Estela não tem a intenção de levar a menção de Henrique a sério, apesar do nível de seriedade dele, mas quando a situação se torna mais complexa e dramática do...