✩‧₊ dois.

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Estela

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Estela.

Repouso?! — Quando eu enfatizo as palavras do médico, não é para me assegurar que eu tenha ouvido certo, mas para enfatizar que a ideia é terrível. Péssima. Absurda. Não deveria estar sendo considerado, para início de conversa. No entanto, não é o que o semblante do médico me diz.

— É claro. — Ao se certificar de que o velcro da bota esteja bem colocado, ele ressalta: — Você não quebrou o pé por um milagre hoje. Ou então rompeu o tendão, ou qualquer coisa do tipo. Acredite, poderia ter sido muito pior.

— Mas eu tenho uma viagem-

Ela vai. — Da cadeira de acompanhante, Matheus se atreve a falar pela primeira vez desde que adentramos o consultório. Descrente, o médico direciona o olhar a ele, que enfatiza: — Pode deixar, doutor. Nem que eu tenha que colar a bunda da minha irmã na cama, ela vai sossegar.

A maneira como o médico conduz a situação, a partir de então, me diz que ele certamente deve estar exausto desse tipo de discussão. Enquanto ele vira as costas, sem fazer questão de enfatizar a questão de repouso, eu troco olhares com Matheus. Nenhum de nós está muito satisfeito — menos ainda bem-humorado um com o outro.

Logo que deixei a academia, não consegui trocar sequer meia dúzia de palavras com Henrique antes que eu me tornozelo vacilasse e eu caísse no chão. A situação já era humilhante por si só antes desse novo incidente, mas ter que encerrar a ligação com Henrique, com Marcelo dividido entre um sermão extenso e discar o número de Matheus para que meu irmão fosse me socorrer, foi certamente o momento mais humilhante do dia.

Matheus está puto, é claro. Eu não sei o que ele pretendia fazer, se estava fora de casa, ou não, mas eu me arrisco dizer que ele estava dormindo e foi acordado pela ligação de Marcelo. E então, teve que colocar a primeira roupa que viu na frente para poder me trazer ao hospital. Isso justificaria o cabelo desgrenhado, já que a falta de disposição é constante e as olheiras logo abaixo dos olhos enfatizam a falta de sono.

— Eu estou receitando um medicamento para dor, mas, se for o caso, pode tomar o que você está acostumada mesmo. Contanto que você não faça esforço, não deve doer muito, mas não conte com a sorte. Mantenha o repouso, para ter uma boa recuperação, sem novas contusões.

Eu observo Matheus, mas a reação de Matheus é apontar diretamente ao médico, em um sermão silencioso. Eu poderia me atentar as recomendações do médico, mas considerando que eu estou há horas de desobedecer todas as suas orientações, eu sei que vai ser um esforço em vão.

— Por favor, não tente fazer além do que o seu corpo de permite. — O médico considera de bom-tom acrescentar à lista, ao me estender a receita. — Pro seu caso evoluir para uma fratura não é preciso muita coisa, e eu te garanto que você não prefere estar com um gesso a uma bota ortopédica.

— Eu preferia nenhuma das opções.

— Bom, nenhuma não é uma opção.

Pela entonação do médico, começo a suspeitar que talvez não seja um bom momento para brincadeiras e decido me contentar em concordar. Ele não diz mais nada, e eu não me atrevo a dizer também. Com certo esforço, começo a passar minha perna por cima da maca com cautela, mas Matheus me alcança para me ajudar a concluir o gesto.

Imprevisivelmente, seu | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora