✩‧₊ quatro.

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Henrique

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Henrique.

Me sentir confuso a essa altura me parece quase normal.

Na maior parte do tempo, eu não sei o que está acontecendo. Não sei quem são essas pessoas. Não sei o que esperam de mim — se é que esperam alguma coisa. Mas eu tenho Estela comigo, e ela sempre tem as indicações de certas de como eu deveria me portar. E, se é para ser sincero, para uma pessoa que na maior parte do tempo não sabe o que está fazendo, eu até tenho levado bem essa história de relacionamento falso.

Amanhecer ao lado de Estela, no entanto, não faz com que eu me sinta normal.

Pessoalmente, não é um problema. Eu nunca tive olhos para Estela como alguém além da irmã caçula do meu amigo, e não tenho pretensão de tornar algo diferente disso. Ela é atraente, divertida e espontânea, normalmente qualidades que eu valorizo em uma mulher. Contudo, desde que ouvi sua histeria ao telefone com um amigo na manhã de ontem, eu tenho me perguntado o porquê não insisti e fui firme a ideia de alugar outro quarto de hotel — teria tornado a minha estadia em Alagoas significativamente mais fácil.

Nesse momento, ela dorme pacificamente ao meu lado. Os cabelos estão espalhados pelo travesseiro e o corpo encolhido, mantendo braços e pernas dobrados. Seu corpo está coberto por uma fina camada de lençol, após uma longa discussão na noite anterior sobre a temperatura do ar, onde eu não cedi. Seu rosto parece sereno, um indicativo de que ela talvez tenha dito uma boa noite de sono. Ela tem aquele tipo de beleza que prende o olhar, de maneira inconsciente — e isso não deveria estar acontecendo.

Disperso a atenção, porque me atentar a ela certamente não é a solução para os meus problemas.

Jogo as pernas para fora da cama, alcanço o celular e um maço de cigarros sobre a mesa de cabeceira e caminho de encontro a varanda. Abro as portas com cautela, para que a luz não adentre o ambiente e fecho antes que os raios de sol possam se dispersar. Eu não tenho intenção de despertar Estela.

Primeiro, me sento sobre a cadeira de palha. Deixo o maço de cigarros sobre a mesa que parece fazer conjunto com o objeto. A minha frente, há uma imagem privilegiada do mar que cerca o hotel, onde a água se alonga sobre a minha vista, em um tom intenso de azul, facilmente confundido com verde. O contraste com a areia é de prender os olhos.

Ainda tentado pela imagem, saco o celular para conferir as notificações pendentes. Há algumas mensagens da família; meus pais me questionando onde eu estou, e meu irmão, em tom de dúvida, questionando insistentemente sobre o porquê eu precisava tão desesperadamente do jatinho ontem. Também há uma mensagem da minha ex-mulher. "Helena está esperando uma chamada de vídeo". Simples assim, sem um olá, nem sequer um tudo bem? Tipicamente o comportamento de Camila.

Sua reação não me é estranha. Talvez seja demais pedir com que ela haja cordialmente com uma pessoa com quem ela compartilhou a vida por tantos anos. Mas, eu acato o pedido, por se tratar de Helena.

Imprevisivelmente, seu | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora