P.O.V Cadaver
"Hm, trancou minha porta de novo, que azar, por que será que me odeia tanto? Tem algo que eu fiz que o desagradou? Bom, acho que é mais outra noite sem poder sair do meu quarto... Derrotado, eu vou em direção a minha cama e me deito com os braços atrás da cabeça olhando para o teto de obsidiana.
Pai sempre me tratou dessa maneira, só que recentemente isso vem piorando, eu temo que um dia ele me lance no calabouço do castelo enquanto eu estiver dormindo e me esqueça completamente. Será que ele iria tão longe a esse ponto?
Enfim, ele não calculou todas as possibilidades entretanto, ele esquece que eu consigo atravessar paredes com meus poderes de sombra, então fugir do meu quarto não vai ser problema, só preciso esperar a oportunidade certa."
Eu durmo na minha cama bagunçada pelo resto da tarde, ao acordar, rapidamente abro a gaveta do meu criado mudo para pegar o relógio de bolso que roubei do pai, segundo o relógio já anoiteceu, eu olho para a janela pintada para ver se de fato já anoiteceu e, além do horizonte carmesim da névoa infernal, eu consigo ver a lua enorme e a lua menor com seus anéis enfeitando o céu.
– Perfeito... – Aproximando-me da porta, me transformo em fumaça e passo por ela como se sequer existisse, os corredores do castelo a essa hora do dia já ficam bem mais vazio com os criados e os escravos indo dormir, então eu não tenho muita dificuldade em passar sem ser visto, eu diria que já virou um hábito meu tentar não ser visto pelos olhos alheios.
Eu só tenho que ter cautela com a sala do trono, pai sempre está por lá, às vezes eu me questiono se ele dorme nesse trono. Enfim, eu sei de atalhos secretos pelo castelo, passar tantos anos trancado aqui e não saber da existência deles seria um infortúnio.
A roupa que visto é uma camisa de linho branca meio esfarrapada e desgastada, isso dificulta eu ficar escondido já que vai em contraste com meus pêlos pretos. Além disso, eu uso uma calça preta suja e ando descalço, como é bem perceptível, o que eu visto não é uma prioridade do pai.
Consegui me esgueirar da sala do trono e entrar no andar inferior, só preciso passar pelo portão agora e não ser visto pelos guardas do castelo. Me preocupando tanto com meus arredores e minhas costas, acabo me descuidando do que há na minha frente e dou de cara com uma armadura metálica.
– Cadaver? – Uma voz diz se direcionando a mim – O que faz aqui tão tarde? Você sabe que o rei não deixa as pessoas vagarem pelo castelo depois do escurecer.
– A-Ah Gepard, é você... – Eu tento pensar em uma maneira de fugir desse encontro desconfortável – Você se lembra que gosto de explorar, é inevitável que eu acabe perdendo a noção do tempo, acredito que você entenda como é – Eu digo com um sorrisinho inocente, colocando as mãos nos bolsos da minha calça.
– Hum, mas eu tenho certeza que você já andou esse castelo todo – Ele me encara desconfiado, acho que minha mentira não caiu tão bem. Gepard é um raposo de pelagem preta com branco e de olhos vermelhos, ele tem uma cicatriz bem chamativa no olho direito e é muito forte, eu o respeito e admiro bastante – Você estava fugindo do castelo de novo, né?
– Tsc, tão óbvio assim? – Eu viro o rosto pro lado incomodado.
– Heh, faz o seguinte, eu não conto se você não contar – Eu viro minha cabeça pra ele de novo surpreso – Mas tenta voltar antes do amanhecer hein?
– Eu volto, obrigado Gepard, não vou esquecer disso! – Eu o abraço em agradecimento, ele retribui e eu continuo correndo em direção ao portão.
– Cuidado pra não cair! – Depois de passar despercebido por mais alguns guardas e com o auxílio do meu poder de fumaça, eu consigo sair do castelo e respirar o ar livre do Inferno por mais uma noite.
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A Sombra Ardente
FantasíaEstá escuro... Tudo está tão escuro... Mas querendo ou não eu me acostumei com o quão escuro esse lugar pode ficar, não é como se tivessem janelas na masmorra do castelo. Eventualmente minhas orelhas captam alguns barulhos de gemidos do que eu posso...