Capítulo Trinta: A Sombra Ardente [Fim]

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P.O.V Cadaver

"No fim, a escolha entre ódio e amor é uma bifurcação que termina no mesmo resultado, o fato de os métodos serem diferentes te levam a crer que o resultado também será, mas na realidade, não é. É claro que, quando deparado com as diferenças entre ódio e amor, um normalmente escolheria a positividade do amor. Porém, eu tive o gosto de cada metade e, infelizmente, nenhum dos dois trará meus amigos de volta.

Não fiquei ao lado de Samuel quando ele morreu, não fiquei ao lado de Damien quando ele morreu e não fiquei ao lado de Daryl quando ele morreu. Nesses momentos meu coração foi tomado pela amarga sensação do ódio e eu tentei fugir desse sentimento, achar algo ou alguém para descontar minha raiva, mas ele não amenizou a tristeza que senti depois. Por fim, fiquei ao lado da El, pensei que talvez ficar ao seu lado em seus últimos momentos, pensei que escolher o amor me traria alguma paz ou algo além da tristeza, mas a dor apenas se intensificou conforme ela disse suas últimas palavras.

Já não é surpresa para ninguém a esse ponto que parte de mim é... Humano, tanto no sentido figurado e tanto no sentido literal por causa da alma de Elliot que brilha forte junto a minha, pensar e sentir esses sentimentos de natureza humana é... Complicado. Tentar os entender então é beirar o impossível, sou quase como... Uma Sombra Ardente, uma alma demoníaca e uma alma humana de intensas emoções vivendo em harmonia no mesmo corpo, uma tentando entender a outra, criando esse calor de emoções que é tão complexo de se entender.

Ou talvez eu esteja lendo muitos livros..."

Alguns dias se passaram desde o dia que lutei e derrotei Akyas, durante esse tempo, eu e Karna juntamente da Silvanna e seu grupo, ajudamos a população canídea a reconstruir o reino e tentar voltar as coisas como eram antes de Akyas lançar sua monstruosidade sobre a Terra de Ninguém. O progresso está sendo devagar, mas é certo de que vai ser concluído, serei eu a razão desta certeza. Eddie está ajudando como pode, mas é claro também que ele tem suas dúvidas sobre o que fazer sem um mestre definitivo.

No momento eu estou tomando um banho em uma banheira de lava azul no que antes era o quarto do Akyas e agora é meu, há uma porta dentro do quarto que leva para esse banheiro chique, nunca consegui vir para essas partes do castelo então ter um gosto desse luxo é bem convidativo. Estava lendo um livro durante o banho, mas acho que dormi em algum momento, por que acordo com o livro em meu rosto na qual eu lentamente estendo minha mão para remover.

– Que foi? O livro era tão ruim assim? – Enquanto eu coloco o livro de lado, Karna aparece encostado no arco da porta aberta e me olhando com um sorrisinho. Desde o dia da batalha, Karna começou a usar um tapa olho no seu olho ferido que anda se recuperando significantemente, mas sem sinal de que ele vá poder enxergar desse olho novamente.

– É a lava, não estou acostumado a esses efeitos tranquilizantes – Eu digo com um sorrisinho de volta. Karna lentamente começa a se desfazer de suas roupas, o que me dá motivo para me endireitar na banheira e, bom, continuar olhando o que ele pretende fazer mesmo que eu já imagine o que seja. Quando pelado por completo, ele entra na banheira junto a mim e fica do lado oposto ao que estou, apenas nossos torsos se mostrando fora da lava.

– Hoje é o grande dia hein? Vai ser coroado e tudo mais... – Ele menciona enquanto pega a lava com sua mão e começa a lavar as partes que estão fora da água, como seu pescoço e seus braços.

– Tecnicamente, eu vou me coroar, não é como se eu tivesse um pai que fosse passar o reino pra mim... A única pessoa mais perto disso foi Akyas e, bom, ele tá morto – Eu comento colocando meus braços em volta da banheira de maneira relaxada. Mas sim, hoje é o dia que eu finalmente vou colocar a coroa na cabeça, falando nisso, ainda nem cheguei a consumir a alma de Akyas, estava guardado para uma ocasião especial.

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