A Sombra Ardente

Capítulo Vinte e Quatro: Irmãos

P.O.V Daryl

"Fogo... Por toda parte, eu tento me levantar, mas meu peito está sendo pressionado contra o chão por uma viga de madeira que logo logo irá começar a queimar também... Minha visão está por toda parte, turva e confusa, só consigo escutar gritos e o estalar do fogo. Entretanto, quanto mais o grito continua, mais eu consigo o reconhecer... Era meu irmão. Seus gritos por socorro, gritos de dor... Me dói tanto... Mas eu não consigo fazer nada, meu corpo não responde a nenhum comando que dou.

A viga começou a pegar fogo, fogo que agora começa a se alastrar em minha direção... É assim que vamos morrer? Traídos por aquele bruxo desgraçado? Me desculpa irmão, eu tentei, juro que tentei... Mas agora não há nada que possamos fazer. O fogo chegou em mim, pelo meu peito ele começa a se expandir por todo meu corpo e queimar a minha carne... Entretanto, gritos não sem pelos meus lábios... Pois estes, assim como minha consciência, já foram selados muito antes do fogo chegar em mim."

Um vazio, uma imensidão negra é tudo que minha visão consegue captar, mas lentamente, ela começa a tomar outra forma. Minha visão, antes obscurecida, agora é recebida com um clarão vermelho e laranja, eu consigo piscar meus olhos... Eu consigo enxergar novamente! Sobrevivemos?! É um milagre?!

Assim que minha visão se recupera por completo, posso agora sentir o zumbido em minhas orelhas diminuindo e dando vez a um som de... Fogo, e magma borbulhando, ou seria lava? Com meus sentidos de audição e visão retornados a mim, eu consigo finalmente mexer meu corpo e me sentar no chão rude que estou por cima, e de uma coisa tenho certeza.

Isso aqui não é mais aquela cabana de madeira que eu estava...

Olhando em volta eu consigo perceber que estou dentro de um tipo de caverna com janelas naturais de um mineral negro que dão visão a uma paisagem que não parece nada com o que já antes vi. Eu me levanto com dificuldade e me aproximo das tais janelas e agora consigo enxergar um horizonte... Infernal, uma planície inteira com lava, pedra negra e fogo... Uma paisagem, de certa forma, cruel aos olhos.

Viro meu olhar para longe dessa paisagem e consigo ver um outro ser deitado no mesmo chão que outrora eu estava, parecia um... Lobisomem? Seu corpo era humanóide, mas suas feições animalescas e pelo por todo o corpo entregam outra coisa. Assustado, mas curioso, eu vou chegando perto desse ser, só que quando estendo as mãos para tocá-lo, recebo outro susto.

Minhas mãos... Estavam diferente, tanto que me derrubam ao chão só por meramente olhá-las, eram mãos ferais, negras, como de um lobo, as unhas não me enganam. Por que essas são minhas mãos? O que está acontecendo comigo? Pro meu maior desespero, ao cair no chão, percebo também que minhas pernas e pés também estão diferentes, assim como minhas mãos.

– Que porra...? – Coloco minhas mãos agora bestiais em meu pescoço, não reconheço essa voz rouca, ela não é minha... Ou é?

Tudo está tão confuso, diferente... Eu tenho que buscar entender o que está acontecendo... Levanto-me novamente e caminho mais uma vez para o ser que estava deitado, agora percebendo, que ele se parece muito a mim... Ou seja lá o que for que estou controlando.

– Ei... Você, acorda! – Eu exclamo virando a criatura de barriga para cima e observando que de fato, era um ser humanoide, mas com feições de lobo, focinho, cauda, orelhas... Tudo. O ser lentamente abre os seus olhos, olhos negros e carmesins, mas assim que nossos olhares se encontram, ele se afasta, rastejando espantado para o canto da parede em medo.

– Ah! Quem é você?! Fica longe! – A figura, que era menor que eu, abraça os joelhos e vira o rosto pra longe de mim.

– Calma... Eu não vou machucar você... – Eu tento acalmá-lo gesticulando levemente com minhas mãos – Qual seu nome?