Palco

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Poderia ter um ataque cardíaco ali mesmo.

Não foi como ele gostaria que tivesse sido, mas ao mesmo tempo em que parte de si agradecia aos céus pela interrupção, a outra parte estava aflita e apavorada.

Estava acostumado a estar naquele tipo de situação? Não se orgulha, mas sim, estava. Tinha o péssimo hábito de se apaixonar por pessoas que não podia ter, como um ciclo vicioso onde ele se apaixona, se magoa, e mais vezes do que gostaria de admitir... Apanha.

Mas, ele tinha dentro de si a certeza latente que com Kelvin era diferente.

Se apaixonou? Perdidamente.
Se magoou? Profundamente.
Vai apanhar? Pelo que tudo indica, sim.

Mas, com Kelvin é diferente.

Não só porque o loiro é um cantor incrível e ele aprendeu a vida toda como se deve apreciar um talento, desde pequeno com ouvidos apurados, olhos ensinados a escanear e encontrar diamantes brutos em meio a lama, era filho de empresários, neto de pessoas que seguiram o mesmo destino, e mesmo que tivesse aprendido a gostar de sua profissão, nunca foi uma escolha.

Ele nunca soube o que era escolher, tudo em sua vida foi entregue em suas mãos, e embora isso tivesse sim um lado bom, significou também que ele nunca teve nada negado a si, nunca fora recusado, nunca perdeu, nunca sofreu a decepção de uma escolha errada.

Sua mãe, brasileira, rígida com sua postura e exigente quanto seus estudos.
O pai, inglês, também rígido, impôs nele padrões impossíveis de alcançar, aulas de canto, artes cênicas, dança.

Precisava não só entender o que era talento mas precisava tê-lo, podá-lo nos outros significava que em si haveria de ser perfeito.

Uma vida falsamente perfeita deu a ele um grande complexo quando a fase de descobertas chegou, pois dentro de si muito novo ele já tinha plena consciência de que não seria aceito gay.

E é exatamente aí que sua grande paixão pelo trabalho cresceu, longe de casa, Frank era livre, fora das gélidas ruas cinzentas de NY, da casa fria e vazia de amor de sua família... Ele era só ele, saía com quem quisesse, fazia o que queria.

O grande problema disso aconteceu quando ele se viu mais atraído pelas aventuras que as viagens traziam do que por seu trabalho, passou a ficar cada vez mais longe de casa, e cada vez mais perto daquela partezinha de si que gritava "Não sei o meu lugar."

Transas de uma noite só, contato com suas raízes brasileiras, as cores do Brasil, as pessoas, o clima, a dança e as músicas eram tão ricas quanto a própria terra.

Os homens do Brasil são belíssimos, a maioria educados e sempre calorosos.

Mas, ele gostava mais ainda da liberdade que sentia sempre que seus pés estavam em nossas sempre agitadas e coloridas terras latinas, afinal, sempre foi sobre isso.

Liberdade.

E era esse o sentimento que o levou para o palco de um bordel no interior do Mato Grosso do Sul no meio da noite, cantando Robocop Gay de Mamonas Assassinas, com seu melhor amigo, cliente e grande interesse amoroso do momento, se sentia livre para tal.

A luz que emanava de Kelvin era livre, brilhava para todos os lados, para quem quisesse apreciar e até par aos que não suportavam, o sol brilha para quem aprecia um dia de calor e para quem insiste preferir chuva da mesma maneira, e Kelvin era assim, um sol.

Brilhava livremente, era livre.

Um espírito tão livre que atraía Frank como um imã, queria ter de sua liberdade, aprender com ele, sentir-se livre como Kelvin  porque se sentia livre com Kelvin.

Sweet HomeOnde histórias criam vida. Descubra agora