Cerâmica?

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Enlouquecer parecia cada vez mais tentador.

Ramiro é um homem, apenas isso. A carne dele não é fraca e tampouco seu coração frágil, mas, existe um número limitado de coisas que ele pode suportar sem entrar em colapso, e naquela noite Kelvin estava fazendo esse número de bingo.

Kelvin o atiça desde o primeiro dia, era pra ele estar acostumado. A mera existência de alguém como o loiro já é suficiente para que Ramiro e seus pensamentos cada vez mais pecaminosos sejam condenados ao inferno e, o capetinha que o esperava lá embaixo era o mesmo anjo que o condenou, de qualquer maneira Ramiro mal podia esperar pra receber sua punição, e deus queira que realmente seja eterno.

Ele estava trabalhando, levava sua nova profissão bem a sério, mas naquele dia tudo que Ramiro conseguia vigiar era seu noivo, que saltitava e dançava pelo Naitandei como se não fosse a perdição da vida dele.

E o trabalho de Ramiro é simples, até demais, para um homem acostumado a trabalho braçal, ser segurança do bar é como um descanso. Tudo o que ele tinha de fazer é ficar por ali na entrada, dizer boa noite pra quem entra, separar uma briga ou duas... E admirar a pessoa mais linda e gostosa que já pisou nessa terra cantar com sua voz angelical enquanto sorri e olha no fundo dos olhos dele como um verdadeiro demônio.

Talvez ninguém mais soubesse, mas ele sabia. Sabia que Kelvin realmente não estava pra brincadeiras naquela noite, sabe desde o momento em que o loiro sorriu pra ele com aqueles lábios vermelhos, lá do palco, enquanto cantava uma música que sabia que mexia com ele... Kelvin estava o castigando, e pra Ramiro, que foi torturado a vida toda, aquele foi o mais perto que chegou de implorar misericórdia.

Kelvin sabia o que fazia com ele, sempre soube. Com aquela roupa apertada e salto alto, coisas que para quem via de outro ponto de vista poderia parecer corriqueiro e banal mas que estava levando Ramiro por um longo e árduo caminho em busca do perdão. Ele entende agora, errou, talvez não devesse ter saído assim, talvez devesse ter falado onde foi, talvez ele devesse colocar Kelvin nos ombros e levá-lo pro quarto.

Ele deveria fazer várias coisas e não vem conseguindo nenhuma, e nem era culpa dele... Ele pensa.

Que culpa ele tem se Kelvin é o ar que ele respira? Se a presença do loiro é suficiente pra alterar completamente as químicas de seu cérebro e fazê-lo querer cometer coisas que nunca antes havia pensado?

Não é culpa dele se cada fibra de seu corpo e cada poro de sua pele imploram por Kelvin como um humilde pecador pede por misericórdia ao seu santo.

Nem tampouco ele é culpado do efeito que Kelvin causa nele em seus melhores e piores dias. Naquela noite era mais do que a provocação como preliminar, era um jogo, uma partida arriscada que Ramiro já havia aceitado com prazer sua derrota, e ele sabe, mesmo sendo forte, bruto, mandão... Ninguém segura o loiro quando ele fica assim, e assim, Ramiro enlouquecia.

Com sua garrafa de cerveja em mãos, que Kelvin fez questão de levar até ele, só para ter o prazer de beber um gole do líquido da forma mais obscena já vista por um ser humano, e depois sair rebolando com aquela roupa apertada e deixar Ramiro totalmente maluco. Agora Ramiro finalizava a bebida e lançava a garrafa fora, tentando que sua frustração chegasse tão longe quanto os estilhaços do objeto.

Não adianta.

A música alta, o bar cheio, danças, jogos de sinuca, baralho, dominó... Nada daquilo era suficiente pra tirar Kelvin da cabeça dele por um só segundo. Seguia o loiro com os olhos como se fossem imãs, inevitavelmente terminariam aquela noite grudados.

Não é culpa dele se todos os seus sentidos pertencem a Kelvin. Se seus olhos buscavam a figura angelicalmente pecaminosa do loiro, e se seus dedos formigavam de vontade de tocar a pele macia, se seu olfato ansiava pelo cheiro doce do pescoço do outro, se sua boca salivasse para sentir novamente o gosto viciante daquele homem e seus ouvidos trocariam qualquer música por gemidos manhosos que só aquele loiro conseguia produzir.

Sweet HomeOnde histórias criam vida. Descubra agora