➳ Chapter four ٭ Why?

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"Por quê?
Quem? Eu?
Por quê?

Pés, não me falhem agora
Me levem até a linha de chegada
Oh, o meu coração se parte a cada passo que dou"

Lana Del Rey - Born To Die


Cancún, México08/01/202418:47

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Cancún, México
08/01/2024
18:47

- Senhorita você esqueceu sua mala. - Diz Manuel e volto minha atenção para ele.

Ergo minhas sobrancelhas sem entender.

- Mas eu não trouxe nenhuma mala.

- Mas o senhor Lorenzo disse que essa mala é sua. - Responde ele e estica a mão para pegá-la do banco traseiro e me entrega.

Mordo o lábio pensativa encarando a mala de tamanho médio na cor rosa bebê, me pergunto se isso é algum tipo de teste de confiança. E se eu aceitar o que tiver dentro dela e no final acharem que sou uma ladra sem um pingo de caráter e o senhor Lorenzo me demitir?

- Eu não posso aceitá-la. - Respondo com a voz trêmula e empurro a mala para longe de mim.

- Tudo bem, vamos resolver isso do jeito mais fácil. - Responde ele e pega o celular e em seguida liga o viva voz e percebo que está ligando para alguém.

A voz rouca e sexy do meu chefe preenche o ambiente e causa arrepios no meu corpo.

- Algum problema? - Pergunta ele e ouço barulho de água corrente. Ele está pelado?

- Esta mala que foi deixada no carro pertence a senhorita Anayeli?

- Isso mesmo, é dela. - Responde meu chefe e arregalo os olhos já entrando em pânico.

- Desculpa interromper, senhor Lorenzo eu juro que não sou nenhuma sem caráter e o senhor pode confiar em mim! - Digo de um só fôlego e pelo silêncio que está do outro lado da linha acho que ele não escutou.

- Do que está falando? - Ele questiona e percebo que está confuso.

- Isso é algum teste de confiança para saber do meu caráter? - Procuro saber e nem me importo de estar sendo sincera.

- É claro que não, não precisa se preocupar. - Responde e ouço ele respirar fundo. - Isso é apenas um... presente para você.

- Nossa, é, humm, eu... poxa senhor não precisava. - Sinto minhas bochechas esquentarem por ter gaguejado tanto e agradeço mentalmente por ele não me ver. - Mas obrigada, senhor Lorenzo.

Não faço a menor idéia do que seja mas fico feliz de que ele me deu alguma coisa.

- Não precisa agradecer Anayeli. - Sua voz é gentil e me sinto calorosa. Ele encerra a ligação sem ao menos se despedir, não que fosse obrigatório.

- Ainda esta paranóica? - Pergunta Manoel e me pergunto como um senhor tem a língua tão afiada.

- Qualquer um pensaria a mesma coisa. - Abro a porta do carro e puxo a mala na minha direção. - Até amanhã!

Ele acena para mim e dá a volta para sair da minha rua bem no momento que a mulher que mais quero distância abre a porta da minúscula casa usando um vestido de estampa de onças que bate abaixo do joelho e o cabelo escuro preso em um rabo de cavalo.

- Achei que não iria chegar hoje. - Diz passando por mim e fixa os olhos na mala que carrego. - Dê comida e banho para sua irmã, amanhã deixe ela com a vizinha.

Tranco a porta sem responder, torço o nariz quando o fedor de perfume barato se espalha pela pequena sala. Quase todo dia é essa merda, a desgraçada passa a noite fora enquanto dá para algum bêbado, ela podia ao menos cobrar dinheiro. Aposto que nossa situação financeira iria melhorar.

- Oi meu amor, eu trouxe sorvete pra você. - Digo me abaixando para segurar minha irmã no colo, ela abre um sorriso de poucos dentes para mim. - Vamos tomar banho antes de jantar.

Amara balança a cabeça e pula de empolgação no meu colo. Dou alguns passos e já entro no meu quarto, com apenas uma cama de solteiro e uma rede por cima dela, o ventilador ao lado da cama e uma cômoda de quatro gavetas que guarda apenas minhas roupas e de minha irmã. Acima dela está meu shampoo e condicionador na metade, o perfume de cereja que ganhei de natal da minha avó e as coisas de bebê.

Retiro o vestido e a frauda de Amara, jogo meu vestido no chão e pego nossas toalhas e sigo para o banheiro com minha bebezinha. Me agacho enquanto Amara pula com a água descendo por seu corpinho magro. As lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto ao ver que ela está tão magrinha, bebês deveriam ser gordinhos e pesados.

Vejo que há marcas de dedos nas costas dela e começo a chorar mais ainda, Amara é só um bebê inocente que não entende de absolutamente nada. Como alguém pode ser capaz encostar um dedo em um ser tão pequeno? A pessoa que lhe deu a luz, a mulher que devia amar as filhas mais do que tudo. Ela é capaz. Se eu pudesse receberia todas as dores de Amara, ela não é capaz de suportar isso, eu sim, Luiza me bate desde que me entendo por gente.

- Eu prometo que vou mudar essa situação meu amor, eu prometo. - Digo e ela olha para mim e passa as mãos pelo meu rosto na tentativa de limpar minhas lágrimas. - Eu te amo tanto minha pequena.

Após terminar nosso banho eu deito ela na minha cama e passo o talco nela e em seguida coloco uma frauda, visto um pijama na cor lilás que já está meio apertado nela. Assim que eu receber meu dinheiro irei comprar comida e coisas novas para ela, o resto vou juntar para alugar uma casa. Não posso ficar aqui sofrendo e vendo que minha irmã indefesa não pode se defender daquele monstro, ela pode trazer um homem para cá e se ele tocasse minha bebê?
Bom, eu o mataria novamente no inferno.

Levo Amara para a cozinha e faço a papinha de aveia que ela tanto gosta, a vejo comer tudo e quando a levanto para dar água lhe sinto mais pesada em meus braços. Abro um sorriso involuntário e preparo meu jantar: pão com manteiga e suco de caixinha. De início esse alimento nunca era suficiente para passar minha fome, mas o ser humano se acostuma até com a tortura não é mesmo? As vezes fico cheia antes de acabar e guardo a metade para comer de manhã.

- Vamos comer o sorvete meu amor? - Bato palmas e Amara olha para mim animada enquanto me levanto para pegar o potinho que guardei no congelador.

- Dá. - Pede balançando a mãozinha quando vê o chocolate gelado indo na sua direção.

Ela come quase tudo com muita animação e suja o rosto inteiro. Momentos como esse me fazem esquecer toda a tristeza de minha vida, Amara sorrir melhora meu dia.


Minha Ragazza Atrevida - Família Rodríguez Livro 1 (Concluída) Onde histórias criam vida. Descubra agora