Capítulo 5 - Ele combina com avelã

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“Eu e você de novo, querida” era a frase que ressoava em minha cabeça em um looping infinito que já estava me deixando tonta, enquanto eu tentava focar em meu almoço.

- E então, como foi lá na casa do Descamps? - Simoni perguntou enquanto comia suas batatas com gosto. 

- Tão ruim quanto eu achei que seria. - Me limitei a responder, voltando a focar em meu prato. Por algum motivo, eu não queria entrar em detalhes sobre esse assunto.

- Ele parece ser bem idiota. - Annick deu sua opinião, não parecendo muito interessada. 

- Vocês tiveram a sorte de fazerem o trabalho juntas. Enquanto eu estou fadada a passar mais tempo ao lado daquele… - Não encontrei um adjetivo capaz de suprir minhas necessidades odiosas naquele momento. - Bem, vocês tiveram sorte. 

- Mas pelo menos ele ficou charmoso com o tapa-olho. Ele é como um pirata sexy agora. - Encarei Simoni indignada pela admiração que ela foi capaz de sentir pelo crápula.

- Você delira às vezes, Simoninha. - Annick riu enquanto Simoni deu de ombros. O almoço passava sempre rapidamente, nos fazendo precisar comer sem enrolação. 

[...]

As aulas seguintes foram tranquilas considerando o fato de que eu não conseguia me concentrar em nada. Quando o último sinal do dia tocou, eu me assustei um pouco, pois já havia perdido a noção dos horários. 

Minhas duas melhores amigas me abraçaram antes de irem juntas embora. Eu gostaria de poder morar perto delas também. 

- Vamos pra biblioteca. - Joseph Descamps apareceu em meu campo de visão, evidenciando sua expressão como uma ordem que eu, aparentemente, deveria acatar. 

- Você quer começar o trabalho hoje? Loucura! Ainda temos tempo. 

- Quanto antes começarmos mais rápido eu me livro de você, querida. - Ele passou a caneta que estava sendo segurada por sua mão direita por entre os meus fios longos e loiros. O tapa-olho marrom. As roupas terrosas e foscas e seu cabelo castanho e brilhante. Ele levou a caneta para entre seus dentes enquanto me lançava um sorriso irônico. 

- Não vá se apaixonar. - Ele cantarolou indo até seu lugar, guardando suas coisas. 

- Não há nada pelo o que se apaixonar em você.- Obviamente, nem a clara combinação perfeita de seu tom de pele levemente caramelizado pelo sol que voltou a tomar em junção ao tom de avelã tão presente em si. A forma como as cores de outono combinavam com ele parecia tão natural e intrínseca. Como se fosse algo dele. Obviamente, nem isso era um motivo para se apaixonar. 

- Vamos logo. - Ele saiu da sala e eu o segui até a biblioteca do colégio. 

A biblioteca era um local não muito grande, mas bem silencioso. Honestamente, o lugar possuía uma iluminação que deixava a desejar. Com certeza eu ficaria com dor na vista mais tarde. Haviam diversas pinturas espalhadas pelas paredes e tons amadeirados de marrom forte predominava o local.  Os livros se encontravam dispostos pelas prateleiras e mesas e o segundo andar, possivelmente, estaria coberto por uma imensidão ainda maior de prateleiras abarrotadas de livros diversos. 

Em um silêncio esquisito eu e o rapaz a minha frente começamos a procurar os livros que retratassem mais detalhadamente o cenário da Revolução Francesa. Pela importância do tópico para a França, não demoramos a encontrar uma boa quantidade de material. 

- Lemos em voz alta o que for mais importante e então partimos para o resumo? - Ele sugeriu, colocando todos os livros escolhidos na mesa. Eu assenti e demos início ao combinado. 

Mixte 1963Onde histórias criam vida. Descubra agora