Joseph Descamps
Já em casa, foi difícil passar pela porta da frente sem que ela rangesse. Meus passos estavam arrastados e eu sentia um cansaço me consumir por inteiro, devido ao recente orgasmo. As escadas emitiam seus estalos costumeiros, destacados pelo silêncio da noite. O relógio do meu quarto marcava meia noite em ponto, mas eu estava pegajoso demais para ignorar, resolvendo então tomar um banho quente de banheira antes de me deitar por fim.
Os sais de banho e a espuma traziam uma sensação reconfortante enquanto meu corpo relaxava dentro da banheira cheia e fumegante que cozinhava meu corpo, o protegendo do frio que eu senti ao andar pelas ruas da França durante a noite e sem trajes apropriados. O shampoo de baunilha estava ao meu alcance, então despejei uma boa quantidade, que provavelmente ressecaria meus fios, mas não me importei.
Não conseguia me livrar das sensações insanas e ainda as sentia percorrerem todo o meu corpo. Ainda sentia seus lábios nos meus e seus gestos desesperados por mais. Pensei na probabilidade alta de eu ser o dono do primeiro orgasmo de Michéle com outra pessoa e o pensamento acariciou o meu ego de uma maneira incrivelmente prazerosa. O que eu sentia por ela afinal? Era estúpido e até cômico como eu havia mordido minha língua diversas vezes em relação a ela, mas me fingia de louco. Fingia não ver como eu me contrastava no que dizia e, logo depois, no que fazia.
Tirei o tapa-olho para afundar na banheira, sentindo o aconchego daquela água quente me abraçando. O espelho grande do banheiro me permitia ver a cicatriz avermelhada e bem marcada no olho ferido. Era difícil me reconhecer com o ferimento que afetou diretamente minha aparência. Por vezes, eu ainda tinha sobressaltos pelas manhãs, quando encarava meu reflexo.
Me lembrei das conversas com os meus pais sobre o olho de vidro e senti ânsia só de imaginar. Eu deveria me acostumar ao novo acessório, pois eu não iria - de maneira alguma - colocar um olho falso. Certamente ficaria perceptível e já era o bastante usar um tapa-olho e ser encarado nas ruas. Minha mãe havia me implorado “Por favor, Josi, pense melhor no assunto” mas dei um basta e deixei claro que o assunto estava encerrado.
Já com roupas limpas e o corpo devidamente aquecido, me joguei em minha cama confortável, me esparramando nela. Minha coluna reclamou quando me estiquei, já que meu corpo ficava curvado quando eu andava de bicicleta (diga-se de passagem, eu havia andado com a bicicleta algumas noites a mais do que estava acostumado). Não demorei a pegar no sono, sonhando com a noite anterior e em como eu gostaria de poder repetir.
Michéle Magnan
A brisa gelada invadindo o meu quarto na manhã de sábado me lembrou a noite passada, que invadiu meu inconsciente o fazendo acreditar que tudo não passava de um sonho quente e louco. Descartei a possibilidade quando vi o casaco de Descamps jogado ao pé da minha cama. Ele havia voltado para casa sem agasalho? Era uma noite fria, afinal. Tratei de esconder o casaco do rapaz em meu próprio guarda-roupa, fazendo uma nota mental para devolvê-lo na segunda-feira.
O café da manhã de sábado era sempre servido 10:30, pois era o dia de folga do papai e todos nós poderíamos dormir até mais tarde.
- Tente não fazer tanto barulho de noite, Michéle. Não é porque você tem insônia que eu tenho que ouvir você cantarolando para as paredes tarde da noite - Meu coração deu uma batida dolorosa de tão forte e senti o rubor subir pelas bochechas quando entendi ao que ele se referia. Eu precisava ser mais cuidadosa, de fato.
- Não atrapalhe o descanso do seu irmão, Michéle - Fechei os olhos com força, para evitar de revirá-los com toda a vontade do mundo.
- Certo, me desculpe - Eu tentava comer rápido, a fim de acabar logo.
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Mixte 1963
FanfictionO Instituto Voltaire antes somente para meninos aderiu uma nova política de admissão: agora tornaria-se um colégio misto, forçando garotos acostumados a lidarem apenas com o mundo masculino, de repente, estarem rodeados de saias, laços e atrevimento...