23 - Um Coelho

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Roseanne Park

Quatro dias depois

Desço, ainda não muito acostumada a andar sem medo pela casa. Quero dizer, eu sei que posso, mas é esquisito não ter olhos me vigiando o tempo todo, apesar de que desde que cheguei, há sempre seguranças no apartamento e também uma rotina de varredura pelos cômodos duas vezes ao dia.

De qualquer modo, eu me sinto livre, embora seja uma liberdade relativa. Não há lugar para onde eu possa ir.

Ouço vozes na biblioteca e ando até lá. Provavelmente os homens de Lisa estão reunidos. Eu meio que já me acostumei com eles e também suas esquisitices — suas paranoias com segurança, além de outras excentricidades.

Minho, por exemplo, é maníaco por limpeza. Se estamos comendo e um grão de pão cai sobre a mesa, ele sai do seu lugar para recolhê-lo. Na minha cabeça, isso não combina nem um pouco com a imagem de um mafioso. E certamente, não com a dele, particularmente, que parece ainda mais frio do que os outros.

Estou me afeiçoando aos amigos, funcionários, associados — nem sei como chamá-los — de Lisa e já consigo relaxar ao seu redor. Eles não me tratam com condescendência e às vezes me fazem perguntas sobre o passado. Eu me sinto respeitada e em meio a iguais.

Leonid me testa sempre que possível, soltando frases em russo, aleatoriamente. Quando eu não só compreendo, como respondo, os outros riem dele e seu bom humor acaba. Acho que ainda não me perdoou por vencê-lo no xadrez lá no Tennessee.

Paro na porta do aposento e percebo que além de Lisa, Dmitri, Leonid e Minho, estão falando com alguém ao telefone, no viva-voz.

— Não acho que devamos ficar em um mesmo lugar por muito tempo. A melhor chance de protegê-la aqui será se eu movê-la de tempos em tempos. — A voz do outro lado diz.

— Mesmo na ilha? — Lisa pergunta.

— A única vantagem de estarmos em uma ilha é que ela só poderia fugir a nado.

— Pode apostar que tentarei. Eu não confio em você. — Uma voz de mulher intervém. Meu coração bate muito depressa.

— Jennie? — Pergunto, me aproximando do aparelho sem pedir licença. Todos os homens congelam. — Jennie, fale comigo.

— Rosie?

A emoção me atinge. Há mais de um ano eu não escuto sua voz, nossa comunicação se limitando aos bilhetes que trocávamos por meio de suas engenhosas manobras.

— Hey, nunca ouviu falar em privacidade, garota? — A voz da mulher nos interrompe. Apesar de soar irritada, não há ameaça em seu tom.

— Tente me impedir de falar com ela, russa.

— Meu Deus do céu! É você mesmo! — Repito sem parar. Ajoelho perto do aparelho e ensaio tocá-lo, como se assim pudesse estar mais próxima da minha amiga.

— Sim, sou eu, Rosé. Diga-me que está bem.

— Eu estou. Não se preocupe comigo.

— Isso é impossível.

— Jennie, nós conseguimos e em breve estaremos juntas.

Há silêncio do outro lado da linha, até que finalmente responde.

— Promete?

Não hesito.

— Sim, você tem a minha palavra. Sei que está chateada, mas mesmo que tudo não tenha saído exatamente como planejamos, ainda assim, estamos fora.

CHAELISA: Proteção na máfia? (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora