01| Clube Seven

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"THE LOVERS"

O casamento aconteceu numa bela basílica, com ornamentações luxuosas, uma orquestra sinfônica, flores bem cultivadas em todos os lugares e os melhores e mais caros trajes de noivo. Houveram muitos convidados, em sua maioria militares e políticos, mais de noventa por cento das pessoas compunham a elite da sociedade, mas não era para menos, afinal, quem estava se casando era o sobrinho do rei. Para o desagrado de muitos, o alfa lúpus casou-se com um simples filho de agricultores. Não que Park Jimin fosse conhecido por sua origem humilde, o que lhe causava proeminência era seu talento.

Aos onze anos, Jimin foi mandado para estudar numa escola católica para ômegas, depois de ganhar uma bolsa de estudos disposta pelo governo. O rei buscava o apoio dos cidadãos agricultores mandando seus filhos e filhas para escolas para receberem uma boa educação e arranjarem bons casamentos no futuro. Foi nessa escola que o jovem ômega se destacou pela sua voz, beleza e inteligência, se tornando o famoso mais jovem da história ao compor God save the nation.

Jimin performou em grandes teatros e eventos importantes, aprendeu a dançar e também sobre a arte da elegância, da modéstia e sedução, gravou discos, ganhou admiradores em todos os cantos do país e além de sua fronteiras, sua fama se estendeu ao ponto de cada pessoa viva da nação conhecer seu nome.

Jimin se tornou uma figura importante na guerra, apesar de nunca ter visto uma arma ou morte na vida, ele foi a figura com aparência e voz angelical que trazia esperança a cada nota proferida em suas canções. O ômega cantou o hino da vitória quando os conflitos acabaram, na mesma época que Jeon Jungkook estava voltando do campo de guerra.

Quando Jimin nasceu, Jeon Jungkook já estava enfiado em trincheiras. Aos vinte anos, Jimin assistia ao fim do cenário sangrento no qual ele cresceu, enquanto aos trinta e oito anos, Jungkook voltava da guerra com diversas cicatrizes; emocionais, psicológicas e físicas.

— Vamos, amigo, beba mais! — Hoseok lhe serviu mais conhaque, batendo nas costas do companheiro. — É a única forma de dormirmos essa noite, afinal.

Jungkook pegou o copo cheio do líquido âmbar, erguendo na altura dos seus lábios. Admirava Hoseok por ele tentar ser positivo mesmo nas piores situações, mas gostava dele excepcionalmente porque o ruivo sempre sabia quando ele precisava encher a cara até desmaiar.

Eles haviam vencido a guerra, mas a custo de que? Levariam décadas para a sociedade se reconstruir e esquecer os horrores vividos, apesar de todos ignorarem o fato de que os soldados que regressaram vivos sempre se lembrariam dos vinte anos infernais passados nos campos. Desde seus dezoito anos a guerra era tudo que ele conhecia, agora temia que não soubesse fazer nada além de matar, e achava que as noites sem dormir, os inúmeros charutos que consumia num único dia e os litros de conhaque e vodca o matariam antes que ele se lembrasse do significado de paz.

Virou o conteúdo do copo de uma vez, sentindo a garganta queimar. Beber só piorava o vazio no seu peito, a sensação de se sentir um morto-vivo. As belas ômegas de pernas longas e os charmosos ômegas de ancas largas não lhe eram tão agradáveis como pareceriam se estivesse no ápice de sua excitação por abstinência, os músicos no palco ao fundo do clube tocavam alegremente, mas a melodia lhe dava dor de cabeça, daqui a pouco começaria a sentir tudo girar e iria vomitar tudo que bebeu - não conseguia comer direito a uns três ou quatro dias.

Havia escolhido um mezanino afastado para evitar que as pessoas o cumprimentassem enquanto estivesse ali. Odiava ser condecorado como herói de guerra, odiava estar nos holofotes, odiava ser quem ele era. Odiava estar vivo. Teria sido melhor ser um herói de guerra se tivesse morrido junto com seu inimigo, mas o rei não poupou esforços para fazer seu sobrinho ferido renascer dos mortos. Desejou morrer naquela maca de hospital inúmeras vezes, mas se houvesse algum Deus justo no céu ele não morreria facilmente assim. Ainda havia de pagar todas as mortes inocentes que marcavam suas mãos, todo o sangue derramado na terra.

Epitáfio • jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora