Algo macio, quente e aconchegante acomoda meu corpo.
Abro meus olhos e a primeira coisa que vejo é um teto baixo de pedra. Então o cheiro de ervas invade meu nariz e involuntariamente faço careta. É uma mistura nada agradável e irritantemente forte. Gemo e tento levantar apoiando os cotovelos no colchão, mas uma mão forte me empurra de volta sem muita gentileza.
- Não levante, ainda não terminei.
Viro a cabeça e meus olhos caem sobre uma mulher delicada e incrivelmente bela ao lado da cama. Sua pele escura brilha sob as luzes amarelas do lugar conforme ela gira um pedaço curto de madeira dentro de um pote, sem dúvidas a origem daquele cheiro. Seus cabelos cacheados formam uma aura ao redor da cabeça, e balançam freneticamente acompanhando os movimentos dela.
- O quê atacou você, afinal? - ela pergunta, olhando fixamente para um ponto na minha testa - Eu nunca vi ferimentos tão estranhos. Sinceramente parece que você foi jogada num redemoinho de espinhos, arrastada sobre vidro e depois espancada. Cada corte está numa posição diferente, muitos são superficiais e outros tão profundos que precisei costurar.
Ela está brigando comigo? Parece estar.
Umedeço meus lábios pronta para responder quando ela enfia os dedos dentro do pote e depois se inclina sobre mim, passando o unguento sobre minha testa. Isso arde terrivelmente e solto um protesto recheado de palavrões, tentando me afastar do seu toque.
- Fique parada garota, vai passar em um minuto.
Realmente passa, mas aquele cheiro é insuportável. Eu odeio usar unguentos e pomadas, sempre odiei. Gemo e tapo o nariz, me afastando da mulher e forçando meu corpo a levantar da cama.
- Não levante ainda, você vai...
Assim que me vejo de pé sobre meus pés entendo porquê ela não queria que eu me levantasse. Estou fraca e minhas pernas não aguentam o peso do meu corpo. Caio feito uma pedra no chão de madeira, batendo os joelhos e dobrando o pulso de forma desajeitada. A mulher leva dois segundos para dar a volta na cama e me alcançar. Suas mãos agarram meus braços e ela me ajuda a levantar, me deixando apoiar todo meu peso sobre ela. Percebo que eu havia me enganado, ela não é tão delicada quanto parece. E é muito mais alta do que eu.
Sento sobre a cama respirando com dificuldade, aquela mistura me sufocando.
- Eu avisei, garota. Seu corpo está muito fraco, você chegou aqui quase...
- Eden - anuncio, tentando faze-la parar de brigar comigo. Funciona. Ela me encara em silêncio por um segundo antes de franzir a testa.
- O quê disse?
- Meu nome. Eden. Pare de me chamar de garota.
Ela continua me encarando por mais alguns segundos e eu retribuo o olhar. De repente compreendo que ela não é uma mulher comum. Ela também tem aquele brilho estranho sobre si mesma. As orelhas estão escondidas sob o cabelo volumoso, mas olhando com atenção eu consigo ver a pontinhas saindo entre os fios escuros. Ela é uma feérica bem jovem.
E eu ainda estou alucinando, afinal.
A feérica abre os lábios cheios em um pequeno sorriso e estende a mão para mim. Noto que as pontas dos seus dedos e as unhas tem uma coloração diferente do resto de sua pele, de um amarelo bem claro. Hesito, mas enfim ergo minha própria mão e aperto a dela.
- Sou Áster, a curandeira da Corte. Me desculpe se fui grosseira, é que você é a primeira humana que conheço pessoalmente.
Curandeira da Corte. A Corte Outonal, onde eu estou. Onde Eris vive. Eris...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre Mundos
FanfictionAlguma vez você já se perguntou como seria entrar no seu livro favorito? Se sim, acha que chegaria viva ao final da história? Após entrar no mundo fantástico de um livro que a avó lia na sua infância, Eden precisa encontrar um caminho que a leve de...