O caminho até a cabana de Dorothea não foi tão longo quanto pensei que seria.
Enquanto seguia uma Áster muito silenciosa, aproveitei para apreciar a vista. A Corte Outonal é mais bonita do que imaginei que poderia ser e me peguei sorrindo ao longo do caminho tortuoso de pedrinhas, folhas secas e terra úmida. Suas cores são vibrantes e ao mesmo tempo neutras, numa mistura perfeita com vários tons de laranja, verde e marrom. Havia algumas árvores frutíferas por onde passamos e pude experimentar os sabores das maçãs, framboesas, cerejas e ameixas. Quando por fim chegamos na cabana, meu estomago estava cheio e meu paladar satisfeito.
Dorothea nos recebeu da mesma forma como havia feito na primeira vez, rabugenta e pouco amigável. Ela nos ofereceu um chá para nos aquecermos mas Áster não aceitou e preferiu partir, informando que voltaria para me buscar mais tarde. Não tive escolha a não ser me sentar em uma poltrona puída em frente a velha feérica e socializar um pouco, antes de pedir que me ajude com minha magia.
Portanto, estamos sentadas em silencio por quase 10 minutos.
Não percebi que seria tão desconfortável e intimidante ficar a sós com Dorothea e seu olhar penetrante. Esperei que ela desse inicio à conversa, que trouxesse o assunto a tona ou que pelo menos exigisse um pedido de desculpas da minha parte, mas ela simplesmente não disse nada. Aparentemente ela quer que eu tome a iniciativa, o que faz sentido já que sou eu que preciso de sua ajuda.
Respirando fundo, aperto as mãos ao redor da xícara sem asa e tento parecer amigável.- Gostaria de me desculpar pelo modo como falei com você antes. Eu ainda estava um pouco em choque com a descoberta da minha magia e Eris me trazer aqui de surpresa não ajudou. Sinto muito por ter saído daquela forma.
Dorothea me estudou com olhos sábios e depois um pequeno sorriso irônico se formou nos lábios finos.
- Você não estava em choque, estava apavorada menina. E apenas porque sei disso, não me ofendi nem um pouco. Sei que está aqui para aceitar a oferta de aprender a lidar com seus poderes, mas preciso avisa-la - Dorothea se inclina para frente e tira a xícara das minhas mãos, colocando-a ao lado da que ela mesma usou na mesa baixa entre nós - Não vai ser fácil ou rápido. Precisa estar disposta a sentir dor, pois vamos forçar seu corpo, sua mente e sua magia até o limite.
A velha fixa seu olhar no meu rosto, parecendo ansiosa. Mas o que ela disse não é uma novidade, tenho plena consciência de que tenho um longo caminho pela frente. Não sinto medo, apenas a agitação da ansiedade em meu estômago. Eu quero isso mais do que tudo. Quero voltar para casa, para o meu mundo, meu lar.
- Estou disposta a fazer e suportar qualquer coisa, contanto que no fim eu consiga o que eu quero: voltar para o meu mundo - respondo com firmeza.
O olhar de Dorothea sai de meu rosto e desce preguiçoso até parar em minhas mãos, e sei imediatamente o que ela está encarando. A marca do meu vínculo com Eris.
- Tem certeza que é isso o que quer? - ela provoca.
- Absoluta.
O sorriso dela aumenta, transformando seu rosto em uma expressão felina com as presas pontiagudas à mostra. Se esse é seu sorriso de satisfação, não quero descobrir como Dorothea fica quando está com raiva.
- Então vamos começar, menina - ela se inclina novamente e agarra meus pulsos com força, virando minhas mãos para cima. Engulo minha surpresa e Dorothea desliza as mãos frias sobre as minhas até que nossas palmas estejam alinhadas, me encarando com expectativa - Feche os olhos e busque sua magia. Faça com que ela responda ao seu chamado, mas não deixa-a livre. Agarre com força e a empurre para fora. Vou ajudar a direciona-la.
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Entre Mundos
Fiksi PenggemarAlguma vez você já se perguntou como seria entrar no seu livro favorito? Se sim, acha que chegaria viva ao final da história? Após entrar no mundo fantástico de um livro que a avó lia na sua infância, Eden precisa encontrar um caminho que a leve de...