Capítulo 9 - Maçãs e Tomates

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- Aconteceu alguma coisa? - A voz de Wavin me faz erguer os olhos da torrada que estou encarando cegamente há um minuto inteiro.

- Não, nada.

Seu rosto parece preocupado enquanto mexe a mão em círculos, preparando a omelete que pedi há alguns minutos.

Suspiro pelo nariz e tento sorrir para tranquiliza-lo mas minhas bochechas parecem congeladas. Culpa de passar a noite em claro me martirizando por ter sido uma idiota carente e impulsiva. Por ter perdido mais uma batalha contra Eris. E principalmente por ter deixado que ele me tocasse daquela forma depois de me usar como isca para um monstro, me machucar com sua magia e me insultar. Além de ser um macho terrível de forma geral.

Que tipo de mulher agia assim? Sem pudor e desesperada? Admito que ele é bonito e atraente, isso eu constatei no segundo em que pus os olhos nele no lago. Mas caramba, não havia homens no meu mundo?

Bato a colher no pires do meu chá com mais força do que pretendia e o som estridente assusta Wavin do outro lado da ilha e Cerberius deitado aos meus pés. O cão ergue a cabeça e bufa indignado mas eu o ignoro, com raiva por sua falta de lealdade em ter me deixado sozinha com seu dono traiçoeiro.

A pior parte de tudo isso, o que me tirou o sono de verdade e ainda faz minha pele se arrepiar e se aquecer quando lembro, é que eu gostei do que aconteceu. Muito. Eu pedi por mais, desejei que ele não parasse e me mantive naquela situação. Eu fui até o fim sem hesitar como se Eris fosse irresistível. Como se ele fosse exatamente do que eu precisava para me sentir melhor.

Que ridículo. Você é patética, Eden.

Wavin se aproxima pela minha lateral e coloca o prato com a omelete na minha frente. Suspiro inalando seu cheiro delicioso e meu estômago ronca alto fazendo o cozinheiro rir e balançar a cabeça.

- Pelo menos seu apetite está intacto – comenta, divertido.

Consigo lhe oferecer um sorriso um pouco melhor apesar de ainda tenso e respondo já mastigando uma garfada – Obrigada pela comida, Wavin. De verdade. Você é com certeza meu feérico favorito.

Ele ri de novo e se inclina sobre o mármore da ilha, alguns cachos curtos caindo sobre a testa.

- O favorito entre quantos mesmo?

- Três – respondo com um meio sorriso, sentindo meu humor melhorando magicamente a cada garfada. Talvez a comida de Wavin tenha a cura para a autopiedade – Mas você tem a liderança isolada por mérito próprio.

Wavin ergue uma sobrancelha e se aproxima para roubar uma fatia da omelete – Meu rosto devastadoramente bonito é a razão por trás disso, não é?

Dou um tapinha em sua mão e disfarço meu sorriso quando ele enfia o pedaço roubado dentro da boca.

- Não, é só pela comida.

Wavin coloca as mãos sobre o coração de forma dramática e faz uma expressão de dor tornando impossível manter o rosto sério. Cerberius resmunga e se apoia nas minhas pernas e dou o que resta da omelete para ele, que a devora sem mastigar e depois lambe meus dedos.

- Você tem mais algum pedido, cruel e rabugenta humana? – ele pergunta de forma teatral.

- Sobremesa – respondo depois de pensar um pouco – Muito doce, por favor.

Wavin massageia o queixo, pensativo.

- Ah, eu tenho uma ótima receita de torta de maçã...

A memória da noite passada volta involuntariamente, me trazendo o momento em que senti o cheiro de Eris. Maçã e terra molhada. Tão inebriante que me entreguei ao desejo de lambe-lo para sentir seu sabor. Tão tentador que o mordi, esquecendo que Eris é um fruto proibido.

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