- Aconteceu alguma coisa? - A voz de Wavin me faz erguer os olhos da torrada que estou encarando cegamente há um minuto inteiro.- Não, nada.
Seu rosto parece preocupado enquanto mexe a mão em círculos, preparando a omelete que pedi há alguns minutos.
Suspiro pelo nariz e tento sorrir para tranquiliza-lo mas minhas bochechas parecem congeladas. Culpa de passar a noite em claro me martirizando por ter sido uma idiota carente e impulsiva. Por ter perdido mais uma batalha contra Eris. E principalmente por ter deixado que ele me tocasse daquela forma depois de me usar como isca para um monstro, me machucar com sua magia e me insultar. Além de ser um macho terrível de forma geral.
Que tipo de mulher agia assim? Sem pudor e desesperada? Admito que ele é bonito e atraente, isso eu constatei no segundo em que pus os olhos nele no lago. Mas caramba, não havia homens no meu mundo?
Bato a colher no pires do meu chá com mais força do que pretendia e o som estridente assusta Wavin do outro lado da ilha e Cerberius deitado aos meus pés. O cão ergue a cabeça e bufa indignado mas eu o ignoro, com raiva por sua falta de lealdade em ter me deixado sozinha com seu dono traiçoeiro.
A pior parte de tudo isso, o que me tirou o sono de verdade e ainda faz minha pele se arrepiar e se aquecer quando lembro, é que eu gostei do que aconteceu. Muito. Eu pedi por mais, desejei que ele não parasse e me mantive naquela situação. Eu fui até o fim sem hesitar como se Eris fosse irresistível. Como se ele fosse exatamente do que eu precisava para me sentir melhor.
Que ridículo. Você é patética, Eden.
Wavin se aproxima pela minha lateral e coloca o prato com a omelete na minha frente. Suspiro inalando seu cheiro delicioso e meu estômago ronca alto fazendo o cozinheiro rir e balançar a cabeça.
- Pelo menos seu apetite está intacto – comenta, divertido.
Consigo lhe oferecer um sorriso um pouco melhor apesar de ainda tenso e respondo já mastigando uma garfada – Obrigada pela comida, Wavin. De verdade. Você é com certeza meu feérico favorito.
Ele ri de novo e se inclina sobre o mármore da ilha, alguns cachos curtos caindo sobre a testa.
- O favorito entre quantos mesmo?
- Três – respondo com um meio sorriso, sentindo meu humor melhorando magicamente a cada garfada. Talvez a comida de Wavin tenha a cura para a autopiedade – Mas você tem a liderança isolada por mérito próprio.
Wavin ergue uma sobrancelha e se aproxima para roubar uma fatia da omelete – Meu rosto devastadoramente bonito é a razão por trás disso, não é?
Dou um tapinha em sua mão e disfarço meu sorriso quando ele enfia o pedaço roubado dentro da boca.
- Não, é só pela comida.
Wavin coloca as mãos sobre o coração de forma dramática e faz uma expressão de dor tornando impossível manter o rosto sério. Cerberius resmunga e se apoia nas minhas pernas e dou o que resta da omelete para ele, que a devora sem mastigar e depois lambe meus dedos.
- Você tem mais algum pedido, cruel e rabugenta humana? – ele pergunta de forma teatral.
- Sobremesa – respondo depois de pensar um pouco – Muito doce, por favor.
Wavin massageia o queixo, pensativo.
- Ah, eu tenho uma ótima receita de torta de maçã...
A memória da noite passada volta involuntariamente, me trazendo o momento em que senti o cheiro de Eris. Maçã e terra molhada. Tão inebriante que me entreguei ao desejo de lambe-lo para sentir seu sabor. Tão tentador que o mordi, esquecendo que Eris é um fruto proibido.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre Mundos
FanfictionAlguma vez você já se perguntou como seria entrar no seu livro favorito? Se sim, acha que chegaria viva ao final da história? Após entrar no mundo fantástico de um livro que a avó lia na sua infância, Eden precisa encontrar um caminho que a leve de...