Há uma fina camada de neblina na floresta e sobre o lago que os fazem parecer quase um sonho. E levemente assustador.
Nós estamos próximos da margem onde eu havia desabado ao sair da água uma semana atrás, e xingo internamente por não ter colocado as calças forradas que Áster me deu quando uma brisa gelada sopra meus cabelos. Eu esqueci o quanto é frio no outono. Mas admito, é revigorante poder sentir o frescor do ar e ouvir a natureza ao meu redor depois de ter ficado presa uma semana naquele quarto.
Sem perder tempo, verifico os arredores. Observo do chão forrado de folhas e lama ao topo das árvores coloridas. Das pedras e rochas ao céu com nuvens cinzentas. Então o lago, a água calma que reflete a paisagem exuberante como um espelho. Não há nada, nenhum sinal daminha passagem por ali.
- E então? – Eris pergunta depois de alguns segundos, me lembrando de sua presença ao meu lado. Ele se mantém a distância de um braço, provavelmente se adiantando caso eu decida tentar fugir. A ideia é tentadora, não posso negar. Mas eu tenho certeza que ele é mais do que capaz de me alcançar sem esforço se eu corresse, além de que eu não arriscaria perder a oportunidade de ter sua ajuda.
Flexiono os dedos, tentando pensar no que fazer.
- Consegue sentir algo diferente? – pergunto me virando para Eris, que me observava de esguelha.
Ele franze as sobrancelhas ruivas e pensa por um segundo - Como o quê?
- Bem, eu não sei. Alguma mudança na atmosfera ou talvez algo que sua magia consiga identificar que não pertença à corte. Qualquer coisa.
O vento gelado passa por mim com mais força e eu me encolho, passando as mãos sobre as laterais dos braços na tentativa de me aquecer. Eris se vira para o lago e estica a mão na frente do corpo. Uma chama do tamanho de uma laranja surge na palma e dança sobre os dedos antes de se desprender e flutuar para a água.
Observo encantada a pequena chama virar apenas um ponto laranja sobre a superfície gelada, cobrindo toda a extensão do lago. Ela flutua alegre e em ziguezague, até que para há vários metros de onde estamos, seu brilho quase engolido pela neblina.
- O que tem lá? – pergunto, me aproximando da margem. Eris se mantém no lugar, a testa franzida com a concentração.
- Não tenho como saber até verificar pessoalmente. A energia é fraca, pode ser algo pequeno ou sequer ser algo que... O que pensa que está fazendo?!
Continuei tirando o suéter por cima da cabeça e o jogo sobre as meias que já estavam no chão. Não me importo com o fato de estar seminua na frente de Eris ou com o frio que me faz bater os dentes. Não com a possibilidade de algo do meu mundo estar submerso no lago e completamente acessível. Algo que pode me levar de volta e acabar com tudo isso.
- Você vai congelar antes de chegar lá – Eris anuncia e ao colocar os pés dentro d'água quase desisto.
Minha pele doí e formiga conforme eu entro mais e mais, a água escura cobrindo meus joelhos e depois as coxas. Ao atingir minha cintura, mergulho para frente com os braços esticados. É tão natural que mau preciso pensar no que fazer enquanto meu corpo se move para boiar quando meus pés não tocam mais a areia pedrosa do fundo do lago. Me viro e olho para a margem, esperando encontrar Eris boquiaberto ou irritado. Ao invés disso, ele já havia tirado a camisa que usava e as botas, jogando-as sobre as minhas roupas. Seu abdômen definido e a pele clara em contraste com os cabelos ruivos conforme ele nada na minha direção é uma paisagem aparte daquela que a natureza produz atrás dele.
Eris para na minha frente e sua mão submersa segura a minha. Vapor surge e se funde à neblina conforme ele aquece a água ao nosso redor o suficiente para que o frio não nos incomode.
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Entre Mundos
FanficAlguma vez você já se perguntou como seria entrar no seu livro favorito? Se sim, acha que chegaria viva ao final da história? Após entrar no mundo fantástico de um livro que a avó lia na sua infância, Eden precisa encontrar um caminho que a leve de...