Capítulo 5 - Manipulação e Segredos Noturnos

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Assim que atravessamos de volta para a casa, Áster já nos esperava no vestíbulo. Não sei dizer se ela sabia para onde tínhamos ido ou se Eris de alguma forma a avisou do nosso retorno, mas a curandeira não esboçou nenhuma reação ao nos ver completamente encharcados no corredor de entrada.

Sem trocar nenhuma palavra com Eris além da ordem ríspida dele para que Áster cuidasse dos meus ferimentos, segui a curandeira silenciosamente pelo caminho até meu quarto. Talvez não fosse muito inteligente da minha parte deixá-lo sozinho com o colar, mas confio que Eris não é burro o bastante a ponto de tentar usá-lo. Além disso, ele parecia não ter muito poder de qualquer forma.

Foi empolgante poder finalmente caminhar com liberdade pelos cômodos da casa de Eris. Na verdade eu deduzi que fosse sua casa pelo fato de estarmos sozinhos, nem mesmo um empregado á vista além da curandeira. Me surpreendeu que seu gosto por mobília fosse refinado, além da decoração detalhista. É uma casa que mescla a rusticidade de paredes de pedra, com piso e colunas de madeira escura. Os tons usados nos estofados são terrosos e neutros. Há plantas ocasionalmente dispostas em prateleiras ou nichos, deixando o ambiente agradável, até mesmo aconchegante. Tem muitos cômodos, alguns com portas fechadas que afloraram minha curiosidade. O andar em que meu quarto está realmente é abaixo do nível da casa como imaginei que seria e acessível por uma escada larga e elegante, onde para minha surpresa também fica uma cozinha atulhada de utensílios e uma área de estar, indicando talvez que sua finalidade seja receber hóspedes.

Entramos no quarto ainda em silêncio e Áster deixou a porta aberta, o que me fez franzir atesta, mas não a questionei. A curandeira estava estranhamente introspectiva, o que foi incomum dado o quanto conversávamos durante suas visitas diárias. Contudo, eu estava cansada e com dor, então agradeci internamente pelo momento de tranquilidade enquanto ela tratava minhas feridas.

Alguns minutos depois quando Áster terminou, fui ao banheiro e encarei meu reflexo no espelho redondo sobre a pia. Era simplesmente um milagre que eu ainda estivesse viva àquela altura, com tantos cortes e hematomas. A maioria já estava curada, meras linhas avermelhadas aqui e ali. O corte acima do meu joelho já quase não era visível. Mas eu parecia uma boneca de porcelana que partiu e foi colada sem muito cuidado. Minhas costelas tinham manchas vermelhas e roxas, piorando o cenário com o corte quase cicatrizado de um semana atrás. Meu tornozelo direito e também cada um dos ombros tinham marcas iguais de unhas onde o Telkhine agarrou. 

Eu estava em frangalhos. Prythian realmente não foi feita para humanos.

Respirando fundo e dizendo para mim mesma que aquilo não importaria quando eu voltasse para casa, saí do banheiro e Áster me ajudou a vestir roupas limpas, me levando direto para biblioteca logo em seguida. Não consegui esconder minha surpresa ao entrar no cômodo espaçoso.

A biblioteca ficava no primeiro piso e com certeza era um entretenimento aparte. Com dois andares abertos e paredes repletas de livros, um nicho em forma de doma com vista para a floresta colorida, e uma escada de madeira negra em espiral terminando no que eu entendi se tratar do escritório, era sem dúvidas o cômodo mais impressionante na casa. Há poltronas espalhadas e mesas de apoio com livros abertos, além de uma lareira pequena ocupando a lateral direita. O ambiente todo era iluminado pela luz do sol que entrava por uma claraboia com mosaicos e por pequenas lamparinas amarelas.

Era simplesmente a casa mais bonita que já pisei os pés. Pelo menos até onde me lembro.

Ao entrar encontramos Eris de braços cruzados estudando o pingente dourado, a mesma posição em que permanece até agora, os pensamentos parecendo estarem longe de seu corpo. Corpo este que está intacto, sem nenhum arranhão. E ainda sem camisa, para meu eterno desconforto. Imagino que com a magia do fogo ele possa se aquecer o quanto quiser, talvez nem mesmo precise usar roupas. Olho para as calças escuras que realmente já estão secas e outro pensamento tenta invadir minha mente. Eu o jogo para o fundo e deixo que a raiva me faça morder a parte interna do lábio, evitando que as palavras que eu quero gritar para ele saiam.

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