Capítulo 11 - Lágrimas e Magia

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Eris não foi rápido o suficiente, pois assim que nossos corpos se materializam em outro ponto da floresta a chuva torrencial caí gelada sobre nossas cabeças.

- Por aqui! – ele grita, sua voz abafada pelo estrondo da tempestade.

Ele corre em direção à uma cabana enfiada na encosta de uma montanha de pedras, me puxando pela mão. Me esforço para manter seu ritmo, meus pés deslizando sobre a grama molhada e a lama até pararmos sob a soleira de madeira da entrada, ambos completamente encharcados. Ele ergue o pulso para bater mas a porta estreita pintada de verde se abre antes de sua mão toca-la. Uma feérica idosa está parada na entrada, vestindo um sobretudo marrom que cobre o corpo inteiro.

- Boa tarde, Doth – Eris a cumprimenta.

Os lábios finos dela se apertam em desagrado antes de dar um passo para o lado e resmungar – Não molhem meu tapete.

Entro depois de Eris, passando as mãos no rosto para tirar os fios de cabelo que grudam nas minhas bochechas molhadas. A cabana é bem simples, com teto baixo e apenas dois cômodos bem organizados. Há uma escada estreita no canto que me parece impossível de subir se você tiver mais de um metro e meio, mas olhando para a idosa não me surpreenderia vê-la se esgueirando degraus acima para dormir. A sala é formada apenas por uma área circular com duas poltronas, um tapete velho, uma lareira de pedra e uma estante repleta de vidros e recipientes com formatos estranhos. Na cozinha os móveis são uma mesa para duas pessoas, um armário com duas portas, um fogão a lenha e prateleiras preenchidas com especiarias. A única janela fica ao lado da porta pela qual entramos, e a iluminação é feita pelas lamparinas e velas espalhadas de forma aleatória nas paredes.

Ao virar me surpreendo com o olhar cristalino da idosa me encarando de forma severa. Seus cabelos brancos estão presos no alto da cabeça com apenas uma mecha descendo pelo ombro esquerdo e alguns fios soltos moldurando o rosto que claramente já foi muito bonito um dia, mas que agora carrega as marcas da idade. Seus olhos são azuis como o céu do meio dia e tão frios como lascas de gelo me perfurando.

 Seus olhos são azuis como o céu do meio dia e tão frios como lascas de gelo me perfurando

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- Se já acabou de apreciar a vista menina, vá se sentar perto do fogo. Odeio o som de dentes batendo.

Eris solta um risinho e o olho atravessado, sentindo minhas bochechas avermelharem por ter sido pega bisbilhotando.

- Eden, essa é Dorothea, a antiga governanta da corte – ele apresenta e se move para perto da ladeira – Não precisa ter medo, Doth ladra mais do que morde.

A feérica estala a língua para ele e se move para uma das poltronas, retirando uma almofada e a jogando para Eris. Ele a pega no ar e afofa, depois a coloca cuidadosamente no chão ao lado da lareira. Quando ergue os olhos para mim é como se estivesse me pedindo para sentar ali, como se eu fosse um de seus malditos cães.

Fico imóvel na entrada da cabana, abraçando o corpo para me aquecer. A tranquilidade do lugar me causa uma estranheza enorme, ainda mais porque a adrenalina de tudo que aconteceu na clareira ainda me faz estremecer.

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