Eris não foi rápido o suficiente, pois assim que nossos corpos se materializam em outro ponto da floresta a chuva torrencial caí gelada sobre nossas cabeças.
- Por aqui! – ele grita, sua voz abafada pelo estrondo da tempestade.
Ele corre em direção à uma cabana enfiada na encosta de uma montanha de pedras, me puxando pela mão. Me esforço para manter seu ritmo, meus pés deslizando sobre a grama molhada e a lama até pararmos sob a soleira de madeira da entrada, ambos completamente encharcados. Ele ergue o pulso para bater mas a porta estreita pintada de verde se abre antes de sua mão toca-la. Uma feérica idosa está parada na entrada, vestindo um sobretudo marrom que cobre o corpo inteiro.
- Boa tarde, Doth – Eris a cumprimenta.
Os lábios finos dela se apertam em desagrado antes de dar um passo para o lado e resmungar – Não molhem meu tapete.
Entro depois de Eris, passando as mãos no rosto para tirar os fios de cabelo que grudam nas minhas bochechas molhadas. A cabana é bem simples, com teto baixo e apenas dois cômodos bem organizados. Há uma escada estreita no canto que me parece impossível de subir se você tiver mais de um metro e meio, mas olhando para a idosa não me surpreenderia vê-la se esgueirando degraus acima para dormir. A sala é formada apenas por uma área circular com duas poltronas, um tapete velho, uma lareira de pedra e uma estante repleta de vidros e recipientes com formatos estranhos. Na cozinha os móveis são uma mesa para duas pessoas, um armário com duas portas, um fogão a lenha e prateleiras preenchidas com especiarias. A única janela fica ao lado da porta pela qual entramos, e a iluminação é feita pelas lamparinas e velas espalhadas de forma aleatória nas paredes.
Ao virar me surpreendo com o olhar cristalino da idosa me encarando de forma severa. Seus cabelos brancos estão presos no alto da cabeça com apenas uma mecha descendo pelo ombro esquerdo e alguns fios soltos moldurando o rosto que claramente já foi muito bonito um dia, mas que agora carrega as marcas da idade. Seus olhos são azuis como o céu do meio dia e tão frios como lascas de gelo me perfurando.
- Se já acabou de apreciar a vista menina, vá se sentar perto do fogo. Odeio o som de dentes batendo.
Eris solta um risinho e o olho atravessado, sentindo minhas bochechas avermelharem por ter sido pega bisbilhotando.
- Eden, essa é Dorothea, a antiga governanta da corte – ele apresenta e se move para perto da ladeira – Não precisa ter medo, Doth ladra mais do que morde.
A feérica estala a língua para ele e se move para uma das poltronas, retirando uma almofada e a jogando para Eris. Ele a pega no ar e afofa, depois a coloca cuidadosamente no chão ao lado da lareira. Quando ergue os olhos para mim é como se estivesse me pedindo para sentar ali, como se eu fosse um de seus malditos cães.
Fico imóvel na entrada da cabana, abraçando o corpo para me aquecer. A tranquilidade do lugar me causa uma estranheza enorme, ainda mais porque a adrenalina de tudo que aconteceu na clareira ainda me faz estremecer.
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Entre Mundos
FanfictionAlguma vez você já se perguntou como seria entrar no seu livro favorito? Se sim, acha que chegaria viva ao final da história? Após entrar no mundo fantástico de um livro que a avó lia na sua infância, Eden precisa encontrar um caminho que a leve de...