Acordo com frio, suada e desnorteada.
Sonhei que uma besta com garras e olhos verdes me perseguia num jardim florido, os espinhos do mar de rosas que nos cercava arranhando minha pele enquanto eu corria e corria...
O cobertor que me cobria está meio embolado nas minhas pernas e caído no chão. Me sento e esfrego o rosto, olhando em volta do quarto em busca de Cerberius, mas ele não está em lugar algum. Claramente atendeu meu aviso sobre ir para a própria cama.
Levanto e sigo direto para o banheiro com a intenção de tomar um banho quente e demorado. Ao passar em frente ao espelho da pia, porém, eu paro e encaro meu reflexo. Solto um palavrão. E depois outro enquanto giro o corpo para ver melhor.
Merda. Não pode ser.
Não há nada. Nenhum ferimento, nenhum corte. Nem mesmo as manchas vermelhas e roxas que ganhei ontem. Nada. Nadinha. Estou completamente limpa, com a pele perfeita e lisa.
Olho para meus pulsos e exalo devagar. O unguento de Áster não pode ser assim tão eficiente. Demorei uma semana para me recuperar do dia em que cheguei, e mesmo assim não havia ficado sem marcas. O que ela poderia ter feito de diferente para que tudo desaparecesse dessa forma?
Era um milagre.
Mas pensando bem, tudo desde o momento em que surgi no lago até agora foram milagres.
Demoro mais tempo no banho do que eu pretendia, inspecionando detalhadamente a falta de hematomas. Quando volto para o quarto já vestida e recuperada do choque, sinto o cheiro de especiarias no ar e faço meu caminho até a cozinha.
Aparentemente o dia será de surpresas.
No meio do caos de panelas, potes, ingredientes e vapor, há um feérico alto e magricela vestindo uma camisa branca com os punhos enrolados e um avental manchado. Ele ergue a cabeça cacheada e seus olhos amarelos como margaridas se fixam em mim, surpresa e curiosidade iluminando-os. Fico paralisada na porta sem saber o que fazer. Desde o início supus que era Áster quem cozinhava já que ela era a única que me visitava, mas claramente me enganei.
- Bom dia – ele cumprimenta, sua voz soando suave como uma brisa de verão – Você deve ser a Lady Eden. Minha irmã fala muito sobre você em casa.
O sorriso que ele oferece é caloroso e ilumina seu rosto jovem. Ele é extremamente bonito, assim como todos os feéricos são, mas de uma forma descontraída e quase infantil. Consigo notar as semelhanças com Áster, no nariz redondo e no formato dos olhos.
- Ela avisou que você não fala muito também – ele comenta, aparentemente nem um pouco desconfortável com meu silêncio.
Sorrio levemente tentando não parecer tão afetada e me aproximo da ilha de mármore entre nós.
- Não sou nenhuma Lady Eden – informo, tentando transmitir toda minha indignação pelo título indevido.
- Ah, pensei que fosse a hóspede de Lorde Eris – as bochechas dele se afogueiam com a vergonha e me repreendo internamente por deixá-lo sem jeito – Mas se você não é ela, então quem...
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Entre Mundos
FanficAlguma vez você já se perguntou como seria entrar no seu livro favorito? Se sim, acha que chegaria viva ao final da história? Após entrar no mundo fantástico de um livro que a avó lia na sua infância, Eden precisa encontrar um caminho que a leve de...