Parte 5

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O primeiro andar da enorme cabana era um salão com uma parede feita de espelhos e as demais de vidro, sustentada por enormes colunas de madeira. Da parte externa não era possível ver nada, mas assim que Evelynn adentrou a sala, se deparou com as quatro mulheres em um ensaio concentrado da coreografia guiada por Kai'Sa. A platinada apenas andou até um sofá de couro e sentou ali, arrancando a atenção de todos pelo cabelo preso em um coque bagunçado e o rosto ausente de qualquer maquiagem, por mais simples que fosse.

- Você está gripada - imediatamente Ahri questionou e se aproximou devagar, mas Eve ainda parecia pensativa, sem nem ter ouvido ou visto qualquer coisa - Ei??? Evelynn?

Seraphine e Kai'Sa encaravam a mulher, como se não a reconhecessem ali, não fosse por Ahri ter chamado seu nome. Além do rosto limpo, a diva ainda usava uma calça legging preta e estava descalça, nada de roupas provocantes, ou que remetessem a seu estilo. Para Akali aquilo não era uma surpresa tão grande, afinal era apenas ela e todo mundo tinha dias assim. 

- Cada dia é uma a chegar atrasada, o que vocês duas estão tramando? Estão fazendo algo sem a gente - para a coreógrafa do grupo aquilo pareceu óbvio, de repente, apoiou as mãos na cintura, encarando a rapper com uma expressão mais dura - É o quê? Uma música? Uma batida? Um comercial? Porque Evelynn nós sabemos que está fazendo alguma coisa. 

- A gente transou a noite toda - interrompeu Eve, mais uma vez roubando a atenção de todas com sua naturalidade em narrar os 'fatos' - Essa garota acabou comigo como nunca ninguém fez antes! Eu tô exausta! Alguém tem mais alguma pergunta? 

Akali enrubesceu imediatamente, sendo pega de surpresa em uma crise de tosse interminável só para ao fim dela, encarar o sorriso da platinada em sua direção. Se foi maldade desviar dos beijos na noite anterior, já tinha pago o que fizera naquele momento. 

- Bem - Ahri limpou a garganta, voltando a posição inicial para os passos que estavam ensaiando, tentando tirar o foco de algo tão pessoal, embora estivesse intrigada em seu íntimo, era a primeira vez que via Evelynn daquele jeito - Vamos prosseguir! Kai'Sa, por favor.

Duas horas se passaram até que decidiram dar uma pausa curta, que Akali aceitou de bom grado, já que sua concentração anterior tinha ido pro espaço. Sem intenção, percebeu Seraphine e Kai'Sa conversando e rindo, enquanto olhavam em sua direção, algo nada discreto. 

- Obrigada, Evelynn - sussurrou baixinho apenas para si. 

"Viu como ela começou a errar todos os passos depois que a Eve chegou? Eu tô começando a shippar muito, mesmo a Evelynn sendo uma sem vergonha descarada." Ouviu de onde estava, ainda que as outras tentassem falar baixo. 

Akali se afastou da cabana, indo em direção às árvores na intenção de esvaziar a mente. Acertou alguns golpes em um enorme tronco, exibindo suas técnicas de combate por um breve momento para alguém que se aproximava, sem perceber.

- Se você estiver imaginando que essa árvore sou eu, vou dar passe livre pra continuar. 

A japonesa fechou os olhos, tentando escapar do quanto aquela voz suava sedutora logo atrás de si. Fechou os punhos com mais força, mas evitou continuar o que estava fazendo. 

- Olha só, eu não entendi muito bem o seu propósito com isso, mas você pegou pesado dessa vez, Evelynn. 

- O meu propósito? Vejamos... Não me perder sozinha em pensamentos obscenos com a sua pessoa, só pra começar. 

Dessa vez, a rapper se virou com um riso debochado, cruzando os braços e apoiando as costas no tronco da árvore. 

- Vejamos... Da mesma maneira que eu estive uns anos atrás com você? Ah, legal! 

- Você tem um bom ponto. 

- E???

Evelynn desviou o olhar por um momento, também cruzando os braços. 

- Eu não tinha dezessete anos! 

- Tá - Akali odiava admitir que Evelynn tinha um pouco de razão, mas o motivo nunca pareceu ser apenas esse - Mas aí eu fiz dezoito, dezenove e agora quase vinte então não tô entendendo. 

- Arrrrgh, eu me senti com cinquenta anos agora! 

- Eu me sinto ótima, bem mais gostosa, bem mais inteligente, mais bem sucedida, estilosa e esperta o suficiente pra não cair mais na sua! 

- Claro, só não o suficiente pra não cair na lábia de adolescentes emocionadas cheias de hormônios que chegam pedindo autógrafos. 

Embora a expressão de Eve não fosse das melhores, isso não evitou que a mais nova caísse em uma gargalhada bastante sonora. 

- Espera aí, você tá com ciúme? É por isso que veio atrás de mim de novo? Eu devia ter imaginado com toda a sua arrogância e seu ego gigantescos. 

- Ei, não - a platinada a interrompeu, quase ofendida, apesar de questionar em sua mente as questões levantadas - É claro que não! Eu queria que você... - parou de falar por um momento, fechando os olhos e engolindo a seco, sem qualquer receio de não demonstrar total controle naquele instante - Nunca tivesse saído da minha cama na primeira noite em que eu quase te atropelei! 

A confissão sincera de Evelynn fez com que a japonesa baixasse completamente suas defesas com o que ouvia, por mais que não fizesse sentido, o deboche, ou a raiva em sua expressão se desfizeram, dando lugar a uma intensa reflexão. Deixar o silêncio pairar no ar só fez com que a mais velha continuasse. 

- Mas isso pareceu tão errado! Eu estava em um momento todo errado! O que uma garota de dezesseis anos deseja? 

- Dezessete! 

- Eu não podia atender as suas expectativas, Kali. 

- Por que estamos tendo essa conversa - perguntou a garota, já de saída, juntando sua blusa do chão para retornar ao salão - Não é como se mudasse alguma coisa. 

Evelynn em um movimento rápido tentou segurar o braço da rapper, mas sua sombra estava visível para a dona das íris azuis, que desviou sem dificuldade antes mesmo de ser tocada. 

- Tudo mudou, mas isso não quer dizer que vai dar em algo. 

- O que uma garota de vinte anos quer? ‐ perguntou Akali.  

- Festas, amigos, dinheiro e sexo. 

A morena sorriu e em seguida se virou, mas ainda andava de costas, se afastando. 

- E o que uma tia de vinte e sete como você quer - a garota não segurava tão bem a vontade de rir durante seu questionamento, propositalmente alfinetando a outra mulher.

Bastou um passo de Eve, um passo longo e decidido para que sua mão alcançasse o top esportivo que era só o que a rapper vestia na parte de cima para então puxá-la até que seus lábios se tocassem. 

- Eu quero o mundo - Evelynn falou de forma pausada e audível contra a boca da mais nova, com seus lábios se tocando de propósito, enquanto o hálito quente acariciava seu rosto - E você faz parte dele! 

Sem perceber, a japonesa prendia sua respiração por tempo demais, mas não reagiu. Sem qualquer resquício de seu raciocínio, deixou que a mulher a soltasse para só então voltar a respirar, ofegante. Sua mente vagou entre respostas prontas que desejava do fundo de seu coração profunciar, como: 

"Eu sou sua!"
"Pega!"
"Você já me tem!"

Mas isso só resultaria em uma noite inesquecível de prazer intenso, quando Evelynn não fazia ideia de que a garota de vinte anos, queria exatamente o mesmo que a de dezesseis: conhecer mais do que o sexo.

- Eu também tenho um mundo pra conquistar, Eve - respondeu com a voz completamente alterada pela adrenalina do momento, excitação e quase visível descontrole - Ainda não sei se você faz parte disso. 

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