Parte 3

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“Estamos presas no espaço, tão fundo, que é impossível cair. Eu estendi a mão, levantei o braço tão alto quanto pude, mas você estava há milhas de distância e tão perto, seu rosto bem em frente ao meu, quase senti seu cheiro, seu gosto, mas tudo me escapou em uma fração de segundo. Minha alma tocou a sua imediatamente, mas meu coração estava confuso demais para alcançar o seu, ou até a mim mesma. Ainda assim, não foi meu coração que ficou vazio e sim o meu corpo, vagando por todos os lugares, como um frasco que já foi bebido de seu conteúdo doce e fresco. Todos tinham a mim em perfeito estado, mas eu sabia que algo estava faltando.”

Evelynn prendeu os olhos cor âmbar naqueles versos por um bom tempo, sem entender como eles poderiam vir de uma garota tão jovem, que parecia saber sobre o amor tão ou mais do que ela.

Tinha virado rotina dormir segurando o celular. Os ensaios eram sempre uma mudança exaustiva pra todo mundo, exceto Akali, que continuava ligada a uma corrente elétrica depois de tudo.

Os cabelos prateados estavam espalhados no lençol em todo o seu comprimento e a mulher parecia até pequena na cama gigantesca, onde adormeceu de bruços e na transversal com apenas uma toalha de seu banho recente cobrindo quase nada, sabendo que ninguém viria.

Para Akali era óbvio o risco de ficar ali. Mais e mais desculpas eram necessárias porque sabia que não era mais uma garotinha. Se estivesse novamente ao lado de Eve, iria agir por seus instintos e isso podia significar colocar em risco uma amizade e seu trabalho, não valia a pena.

Naquela noite, a rapper bebeu um pouco e simplesmente esqueceu de ir para outro lugar, ou pegar um quarto no outro prédio. Quando deu por si, estava em frente à porta do quarto que agora era de Evelynn atrás de um carregador de celular que nem sequer faria falta, como se sua mente a tivesse levado lá para uma cilada: e era.

Abriu a porta e entrou silenciosa, indo direto a sua mala sem fazer qualquer ruído, mas inevitavelmente seus olhos pararam na cama que estava no centro do quarto.

Inevitável, algo que não se pode evitar, mesmo que se deva, mesmo que precise!

Conforme se aproximava, a garota constatou que era a primeira vez que via os cabelos platinados bagunçados daquela forma, talvez nem estivessem penteados. A toalha branca cobria apenas a parte mais “importante”, a bunda perfeitamente simétrica, mas Evelynn tinha se movido o suficiente para que ela rolasse mais para a cama do que permanecia a cobrindo. Embora tivessem passado muito tempo juntas em piscina e até na praia, às vezes, a mais nova nunca havia notado as pequenas pintas que marcavam a pele da diva, as quais encarava com atenção agora.

Em seus devaneios, imaginou acordá-la com beijos molhados em sua pele quente e era exatamente esse o motivo de permanecer tão longe. Tinha esquecido o impacto de conhecer Eve em um momento tão peculiar e imediatamente ter se apaixonado. Amores platônicos são normais na adolescência, mas a mulher era o tipo impossível, que não a deixava dormir, até o momento de uma amizade transpassar tudo.

O celular no bolso da rapper anunciou a falta de bateria e foi com 2% que ela abriu a câmera e tirou uma foto, desejando não perder a cena de sua memória nem pelo álcool. Péssima ideia! O flash estava ligado e quando o clarão atingiu Evelynn, foi tarde demais. A diva se moveu na cama, devagar, preguiçosa, enquanto Akali sabia em sua mente milhões de formas de escapar dali, mas não queria. Uma reação da mais velha era muito mais intrigante do que usar suas habilidades para fugir, como um animal assustado.
Evelynn abriu os olhos devagar e apoiou uma das mãos no colchão, sustentando o peso de seu corpo ao erguer apenas parte para despertar melhor de seu sono.

Demorou a reconhecer o ambiente e a figura de Akali parada ali. Então, com uma naturalidade assustadora, olhou para si mesma, nua e espalhada na cama, voltando a ocupar apenas um lado com movimentos lentos, deitando no travesseiro finalmente, sem tirar os olhos da menina.

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