[🥀]
quando o sábado chegou, eu me sentia horrível.
eu não sabia o que estava acontecendo, mas eu acordei com uma dor no peito como se tivesse levado um soco. no resto do dia, eu não conseguia comer nada porque me sentia enojado. então, eu comecei a sentir dor na coxa. parecia como auto mutilação, mesmo que eu não estivesse me machucando.
de alguma forma, a marca parecia mais clara. eu nunca li sobre algo assim, então eu imaginei que era porque a flor esqueleto se torna transparente quando molhada.
eu estava tão enganado.
eu nunca li sobre alguém sentindo emoções tão fortes por causa da marca. sempre relataram ser algo tão sútil e suave, mas de alguma forma era tão intenso comigo.
quando eu liguei para a vovó, ela disse que era porque eu não sabia lidar com as emoções.
e é verdade.
não que eu tenha nascido em uma família financeiramente privilegiada, e tivesse tido tudo minha vida toda. isso não está nem perto de ser verdade. mas eu cresci em uma família muito amorosa que nunca chegaria nem perto de me machucar - diferente da de junhui, aparentemente.
então qualquer pequena emoção se tornava algo gigantesco para mim, e simplesmente porque eu nunca senti isso.
quando a noite chegou eu não conseguia parar de chorar. eu não sabia explicar, e não soube explicar para os meus pais. eu só chorei, e muito, por horas recebendo carinho no cabelo de meu pai. mamãe até tentou me animar de toda forma, mas eu só não conseguia. eu me sentia terrível, como se tivesse algo preso a minha garganta. eu chorei por horas até praticamente desmaiar.
quando eu acordei algumas horas depois, eu estava sentindo uma paz estranha.
estranhamente preocupante.
era de madrugada. meus pais dormiam e eu nunca fui de sair de casa escondido, mas de alguma forma eu sabia para onde ir.
e eu fui.
eu mal conhecia as ruas coreanas. sem saber como, acabei em uma ponte. estava frio e eu mal estava aguentando com o moletom que usava, mas sentado no parapeito eu conseguia ver junhui usando uma camiseta preta e com um cigarro entre os dedos.
suas pernas balançavam no parapeito e ele olhava o mar com os olhos vazios. eu fiquei com medo de que ele caísse sem querer.
eu caminhei até ele e sem dizer uma palavra, eu sentei ao seu lado. a altura era assustadora, mas por algum motivo, eu não queria sair do lado dele.
pela primeira vez, eu consegui ver sua marca, e quase chorei novamente. é perfeito.
e quando junhui me olhou, para a minha surpresa, ele sorriu. e foi hipnotizador.
— você quer companhia?
— você vai sair daqui se eu pedir?
eu pensei um pouco, e então neguei. não tinha por que eu mentir. ele deu de ombros e voltou a encarar o mar.
— você quer tragar?
— você não deveria fumar.
— não? por quê? - junhui parecia se divertir com aquilo
— você vai morrer.
e ele riu.
tanto que fechou os olhos. no dia eu não entendi, mas agora eu vejo que era a intenção dele.
— você sabe que somos almas gêmeas, não sabe? - perguntei quando caímos no silêncio novamente. ele assentiu. - você foge de mim na escola? - assentiu novamente. - por quê?
— você não merece isso.
com "isso" ele quis dizer que eu não merecia ele. eu discordo.
— você está bem? - ele não respondeu. - eu passei o dia me sentindo mal. você está mal, não está?
— você chora muito, sabia?
claro, se eu conseguia sentir quando ele não estava bem, ele conseguia sentir quando eu estava chorando.
— você está bem? - repeti.
ele ficou em silêncio e eu achei que ele nunca fosse responder.
— meu pai lançou os planos dele caso ele se torne presidente nas próximas eleições. é basicamente uma volta a ditadura, e parece que os coreanos não enxergam isso.
— você brigou com ele, não brigou? você se machucou, não se machucou?
— você faz muitas perguntas. - mas então, ele estava sorrindo de novo. mas eu não conseguia entender se era de felicidade ou tristeza.
eu acho que ele iria se matar naquele dia, caso eu não aparecesse. mas de certa forma, eu sinto como se ele quisesse que eu fosse, como se ele tivesse me chamado.
não conversamos muito, e eu não tive a chance de o conhecer melhor. mesmo assim, passamos a madrugada ali, sentados, trocando poucas palavras por hora.
na manhã seguinte, a marca estava forte novamente.
e eu entendi.
ela desaparecia de uma vez caso a pessoa morresse. mas e se a morte fosse devagar? como um câncer que não mata de uma vez, e sim aos poucos?
ela não estava se tornando mais clara porque a flor se tornava transparente.
ela estava se tornando mais clara porque junhui estava morrendo.
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flor esqueleto; junhao
Hayran Kurgu- aos quinze anos, minghao pôde ver o símbolo em seu pulso que o conectava com sua alma gêmea, e todo dia ele se questionava quem seria a pessoa que compartilhava aquele desenho consigo.