Oferta Reluzente

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 Mariana decidiu encerrar o dia e ir para seu apartamento após passar duas horas em seu consultório na esperança de um novo paciente aparecer. Seu ambiente de trabalho já começava a se tornar tedioso e torturo, a tentativa falha de conseguir um novo empréstimo o fez se tornar um lembrete da situação financeira terrível em que estava. No caminho para casa refletia sobre como isso ocorreu, "O que eu fiz? Consultório caro? Estilo de vida caro? Profissão errada?", se perguntou e a única resposta que se deu foi "reclamar é inútil agora, há fases e fases, talvez eu precise ter um segundo emprego...". Chegou até seu apartamento e a primeira coisa que fez foi retirar seu salto alto, andar descalça e sentir o frio em seus pés era um alívio, uma espécie de sinal de que finalmente poderia descansar e colocar sua versão "'séria" no cabide. Logo ela usou a cozinha como meio de se distrair, tinha orgulho de sua habilidade culinária, aprendeu receitas de chefes famosos na internet e preparava suas refeições como se estivesse no MasterChef, e claro, ela sempre se imaginava sendo elogiada e ganhando o programa mesmo que tudo que fizesse fosse um mero ovo frito. Quando terminou de preparar sua salada de tomate e esquentar uma pequena porção de arroz e feijão recebeu a mensagem de sua amiga mais amada, Fabíola, uma ex-colega de universidade. "Ei, estou entediada, está a fim de conversar?", dizia a mensagem e Mariana aceitou de bom grado fazer uma videochamada. Ajeitou-se no sofá e começou sua pequena reunião.

— Se não é a minha nutri favorita! Como foi o dia? — falou ela entusiasmada.

— Uma tragédia, quase nada deu certo.

— O queee? O seu gerente baba-ovo não te deu o empréstimo?

— Ele ficou enrolando para falar com "jeitinho" e não me magoar, só que ficou bem claro que não consigo mais nada. Para piorar, já tentei em outros bancos e lá era minha última opção. Além disso, como um bônus nesse dia péssimo, meu recepcionista falou que talvez se demita em um mês! — Mariana conta com um tom calmo na voz, mesmo que o relatasse fosse um verdadeiro desastre.

— Não culpe o querido José. Você me disse que nem está lucrando o suficiente para pagar o salário dele em dia, não é? A faculdade dele não irá se pagar.

— Sim, sim. Eu tive que tirar da minha reserva para pagar o salário dele hoje.

— Sinceramente, não sei porque escolheu essa profissão. Você ganha uma miséria!

— Eu sei, eu sei, não faço isso pelo dinheiro, faço pelas pessoas.

— De todas as profissões para ajudar, escolheu logo essa?

— Fazer o que, gosto dela. Como vai sua vida luxuosa de profissional em arqueologia?

— Fantástica! Sempre tenho uma nova fofoca histórica para comentar e alguma geringonça nova para ver! Além disso, o salário é garantido baby. Sinto que é isso que você está precisando, um trabalho fixo. Por que não arruma um emprego fora da sua área e dá uma pausa na carreira de nutricionista?

— Já te falei, a satisfação que tenho com meus pacientes é muito boa para perdê-la só por um salário maior ou "fixo", o olhar de felicidade deles é mais gratificante que qualquer dinheiro.

— Que menina mais honrada você é! Mas sem grana, nada de consultório e nada de pacientes. O que tem contra a solução mais fácil? Sua família é rica, peça dinheiro!

— Mais uma vez sugerindo isso? Mais uma vez, a minha mãe...é contra me ajudar. Quase fez um escândalo quando meu pai me deu o consultório, depois disso me fez prometer nunca mais pedir dinheiro para alguém da família. Descumprir isso me renderia um pequeno inferno, não que eu não aguente, só prefiro evitar. A minha solução inevitável é arrumar uma segunda renda, sem que ela me tire o trabalho de nutricionista. É minha única saída fora minha família.

Sucesso Caótico(Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora