Estilhaçado

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A primeira coisa que Mariana fez na manhã seguinte foi dar descarga em todas as barras de proteína que estavam na caixa, "esse lixo não vai me tentar mais, ontem já tive aventuras o suficiente por causa disso", se arrumou confiante e muito animada, de alguma forma, sentiu seu objetivo cumprido depois de falar com Fabíola. "Ela não está me atrapalhando e deixou bem claro que agora é uma espectadora, se não, as coisas tinham sido bem diferentes ontem", pensou enquanto chegava em sua pequena clínica, a qual tinha uma estranha movimentação. Na frente dela estava Carlos Martins, um senhor muito animado que estava a esperando na porta, assim que a viu chegando, se comportou como um cachorro ansioso com a volta do dono.

- Bom dia minha nutricionista favorita! Como você está? - Disse alegre e com as mãos tremendo.

- Bom dia senhor Martins. O que está fazendo aqui tão cedo? Não tenho consultas com o senhor hoje.

- Sei disso, sei disso, só que aconteceu uma tragédia sem tamanho! Posso entrar para conversar? Aqui fora está frio.

- Claro... - Mariana responde deixando o celular o mais fácil acesso possível.

- Ufa, aqui dentro está quentinho, o vento lá fora está muito forte!

- A quanto tempo você estava lá fora?

- Não sei, acho que duas horas? - Falou ele como se fosse algo rotineiro e Mariana esbugalhou os olhos de surpresa.

- O que? Duas horas? O que aconteceu para você ficar todo sentado na porta? Onde está sua família?

- Minha família! Aquele bando de ratos traidores, malditos, eles que causaram a tragédia que falei! - Gritou o senhor Martins.

- Qual seria ela? - Indagou se afastando devagar dele.

- Jogaram todos os suplementos que eu comprei aqui fora! Acredita nisso? Disseram que estava me fazendo mal, toda hora querendo tomá-los, toda hora falando deles e ficando "agitado" quando fico sem eles. Por isso, vim aqui pegar mais.

- Oh, certo... - A jovem nutricionista procurava uma saída da situação, "vender a ele mais seria ir contra a família dele, podem me processar depois...".

- E então, pode me dar mais caixinhas de vitamina B? Acabei não podendo pegar minha carteira, mas te pago depois, sou um cliente fiel. - Explicou ele enquanto seus olhos vidrados a olhavam implorando por mais comprimidos.

- Vou verificar no meu computador se os que estão aqui não estão reservados, vendo pela internet também, tenho que ver se não fazem parte de alguma encomenda.

- Claro, claro. Pode ir, vou ficar aqui na sala de espera.

Mariana entrou apressada no seu consultório e trancou a porta, "ele enlouqueceu? Merda! Preciso me livrar dele, o mais seguro é ligar para a família dele". Ela ligou o computador e achou o número da filha do senhor Martins, um número de recados, e aguardou, aguardou, ninguém atendia o maldito telefone e de repente ela ouviu o som de vidro quebrando vindo da sala de espera. Quando ela verificou a origem daquilo, viu o idoso gentil que conhecia no chão abrindo um dos fracos de vitamina B, o havia pegado depois de quebrar a vitrine com as próprias mãos.

- Isso, minhas doces vitaminas, me sinto bem de novo, jovem! - Falava em desespero, ignorando o sangue em suas mãos enrugadas devido aos socos que deu na vitrine.

- Senhor Martins? Você realmente não está bem, vamos fazer o seguinte então, ok? Fique com este frasco de graça, ligo para sua família e eles te levam a um hospital, tudo bem? - Mariana suplicou com calma e simpatia.

- Minha família? Está tentando me trair também? Não, saí de perto de mim! Ninguém vai tirar minhas vitaminas! - Ele esbravejava enquanto a afastava com um pedaço de vidro em uma das mãos ensanguentadas.

Sucesso Caótico(Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora